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quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

ENTREVISTADO PELO JORNAL A NOITE (RJ), ASSIM SE PRONUNCIOU O CAPITÃO JOÃO BEZERRA A RESPEITO DA MORTE DE LAMPIÃO: _____________ NÃO HAVIA NINGUÉM COM VIDA

Material do acervo do pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho

NÃO HAVIA NINGUÉM COM VIDA

O capitão Bezerra fala à NOITE, ao chegar hoje ao Rio.

Chegou hoje pela manhã, a esta capital, o capitão João Bezerra, comandante da força que extinguiu o bando de Virgulino Ferreira – o famoso “Lampião”.

O capitão Bezerra é tipo autêntico do sertanejo.

Caboclo forte, bronzeado, em pleno vigor dos seus 36 anos.

- Sim senhor, tenho 36 anos de idade, 19 dos quais, de farda, pois ingressei na Força Pública com 17 anos. Foi preciso até aumentar a idade...

- Quantos anos dedicados ao combate dos cangaceiros?

- É uma pergunta difícil de responder. Na minha terra todo soldado que se preza leva a sua vida pensando em dar cabo daquela mancha que enodoa o seu nome.

- Perseguição sistemática ao bando de Lampião, eu vinha fazendo há 4 anos. Encontramos-nos duas vezes. Da primeira ele quase deu cabo de mim. Éramos nove homens na volante, contra 18 cangaceiros... de Lampião. Isso do primeiro encontro. Do segundo, o senhor já sabe – a sorte foi ingrata para ele. Eu vim ao Rio para um passeio e trabalhar em um livro, onde pretendo contar para os brasileiros o que seja o problema do cangaço no Nordeste. Então eu direi quem é e por que existe o coiteiro – principal auxiliar do cangaço. Narrarei a história tremenda que foi a perseguição ao bando de Lampião. Há muita gente que acredita na primeira lenda que se lhe conta, sem examinar os fundamentos da questão. Cito, como exemplo, o fato de Lampião escapar sempre com vida dos combates que oferecia às forças policiais. Dizia-se que o soldado sempre era vencido porque tinha medo de Lampião, ou então, porque Lampião tinha o “corpo fechado”.

Eu explico a questão nestes termos: “Lampião sempre escapou porque os soldados que o atacavam iam tão cheios de vontade de dar cabo do homem e sentiam tal emoção durante o embate, que, em regra, perdiam os tiros.

Qualquer de nós está sujeito a estas situações.

- Correm as mais diversas versões a respeito do degolamento de “Lampião” e do seu bando.

- Bem lembrado. Faço questão de frisar este detalhe. Em primeiro lugar, não encontramos ninguém com vida quando entramos na toca. Depois, havia a necessidade de mostrar as cabeças às autoridades e ao povo, a fim de evitar possíveis dúvidas sobre a morte do rei do cangaço. Ninguém acreditava que o homem pudesse morrer... Isto é um ponto de honra para mim e para os meus soldados. Não somos tão desumanos... Não transportamos os corpos, porque não era possível, dada a grande distância de que nos encontrávamos de qualquer povoado.

O capitão Bezerra falava fluentemente, com entusiasmo mesmo.

Chegavam, porém, os seus amigos para levar-lhe as boas-vindas e fomos obrigados a encerrar a palestra para darmos lugar aos abraços.

A NOITE (RJ) - 04/10/1938

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