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quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

AS CRAIBEIRAS FLORIDAS E O TEMPO DO ESQUECIMENTO

*Rangel Alves da Costa

Num tempo onde as fala tanto em metáforas (e a maioria sem saber se é bico ou figura de linguagem), eis aqui uma metáfora sobre o esquecimento.
Ou melhor, sobre o que nos torna mais felizes e contentes pela presença, pela vivência, e, por isso mesmo, sentimos tanto a necessidade de que exista sempre naquele lugar e naquela aparência.
Como paisagem de fundo utilizo a floração das craibeiras já depois dos setembros sertanejos. Neste período elas começam a gestar sua floração.
Mas poderia citar também as antigas construções, os exemplares arquitetônicos do passado, marcos históricos e locais que nos encantam e comovem a qualquer reencontro.
Pois bem, as craibeiras florescem em meio a paisagens secas, feias, esturricadas. O viajante dos desalentos sertanejos, seguindo pelas tristonhas estradas, de repente, ainda ao longe, começa a avistar algo verdadeiramente encantador.
Espantado, surpreso demais, nem chega a acreditar. Mas logo estará diante de uma craibeira florida, de flores amareladas, de fino dourado, como se com sua beleza quisesse tornar de menor importância toda a sequidão ao redor.
E consegue. A craibeira florida é como uma santidade bela, grandiosa, imponente, num pedestal sem fé. Não há como deixar de ficar maravilhado perante a grandeza e suntuosidade de sua floração.
Geralmente a pessoa para, procura refletir um pouco sobre aquela beleza, mas nem sempre aprofunda sua meditação. Eis que, acaso refletisse com mais profundidade, certamente sentiria ali - não só na copa adornada de floração como no tapete amarelado que estende abaixo - a necessidade de permanência de coisas belas em nossas vidas.


Depois de conhecer a transformação espiritual que apenas uma craibeira florida pode provocar na vida, certamente que a pessoa passará a dar mais importância às presenças e ausências das coisas que tanto gosta ou tanto ama.
Sim, a floração de cada ano tem tempo certo de existência. Surge, encanta, e vai embora, morre, some. Assim também com a bela flor do mandacaru que brota ao entardecer e ao amanhecer já estará definhando.
Assim também com a vida, de curta caminhada e passagem, num tempo desconhecido e pouco aproveitado. Perante a craibeira, a voz interior diz: Que coisa maravilhosa!
Entristecerá tempo depois ao já não encontrá-la mais em floração, mas apenas como uma árvore qualquer de beira de estrada.
Também os olhos ficam maravilhados perante as construções antigas e os casarios coloniais. E depois se perguntam o porquê de não existirem mais.
A craibeira não pode ser preservada pelo homem para que floresça todos os dias do ano, pois possui ciclo próprio de existência. Mas com outras belezas pode ser diferente.
Basta que o homem conserve, cuide, preserve, que por muitos anos, e mais além, sempre terá diante seu olhar. Com a vida também.
A vida deveria ser vista como uma craibeira florida de uma só estação. E por que não vivenciá-la em sua plenitude e grandeza a cada instante da existência?

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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