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segunda-feira, 27 de maio de 2019

ARTES POPULARES PRESENTES NO MUSEU DO SERTÃO .pdf (ARTES POPULARES PRESENTES NO MUSEU DO SERTÃO

Por Benedito Vasconcelos Mendes


Entendemos como arte popular, artesanato ou arte utilitária, aquela que é produzida pelos artesãos, ou seja, aquela que resulta da exteriorização do talento ao natural de seu executor, sem o refinamento da técnica, diferentemente da arte erudita, que é o resultado do talento enriquecido pelo estudo teórico da técnica. A arte popular é mais utilitária do que estética. Sua motivação é mais voltada para o econômico ou para a utilidade, do que para a beleza. A mente do artesão é, teoricamente, menos preparada para a criação artística do que a mente do artista erudito. O artista da arte erudita é mais criativo, mostra sua obra com estilo próprio e, para isso, necessita estudar muito a teoria da técnica de sua arte. Ele cria e interpreta a beleza ao seu modo, ao seu estilo. O artesão reproduz a obra por repetição, imitando um objeto ou um elemento da natureza, como uma planta, um animal, uma paisagem ou mesmo uma obra de arte já feita. Muitas vezes, a peça de artesanato é produzida por analfabetos ou por pessoas de pouco estudo, sem o aprofundamento técnico necessário para a produção de uma obra de arte erudita. Na região semiárida nordestina predomina a arte popular, pois nesta área seca e pobre do Nordeste quase não se encontram artistas dedicados às artes plásticas, como pintura, desenho, gravura e escultura. No sertão quente e seco do
Nordeste, poucos foram os pintores e escultores que se destacaram a nível nacional, pelo valor artístico de suas obras de arte. No Nordeste seco, os artistas populares (artesãos) são muito mais numerosos do que os artistas produtores de arte erudita.

O conceito de beleza do povo sertanejo é diferente dos que habitam o restante do Brasil. Ele é mais voltado para a utilidade ou para o econômico do que para o deleite da estética. Quando o sertanejo observa uma bela árvore frondosa e florida, sua mente é estimulada a olhar aquele vegetal com mais interesse nos valores econômicos do que na beleza que ele possui. A observação sobre a quantidade e a qualidade das toras de madeira, que podem ser retiradas daquela árvore, predomina sobre os atrativos da beleza arquitetônica da copa. A densidade da folhagem, a harmonia dos ramos, a forma e o colorido das folhas, flores e frutos passam desapercebidos pelo homem rural, pois sua mente está sempre ocupada com as preocupações diárias da sobrevivência nesta região sujeita às secas catastróficas. Uma outra observação é que o sertanejo não vê beleza em nada magro. O cavalo, o boi, a cabra, o cachorro, e até a própria mulher, só são bonitos a seus olhos se estiverem gordos. O que ele acha mais belo no sertão é o tempo chuvoso, a paisagem verde e viçosa, com muito pasto e gado gordo.

No acervo do Museu do Sertão existem expressivas e ricas coleções de peças artesanais, ou seja, de obras de arte popular ou utilitária. As principais coleções lá existentes são: 1. coleção de louças de barro (potes, jarras, porrões, potinho de coalhada, filtro de água, fogareiros, quartinhas (moringas), panelas, alguidares, penicos, chaleiras, farinheiras, pratos, caco de torrar café com rapadura, panelões de fazer sabão caseiro e outras louças); 2. coleção de cestaria de cipó e de palha
de carnaúba (abano, urupema, uru, surrão, esteira, cesto de cipó com aselha e cesto de cipó com alça); 3. coleção de utensílios de madeira (gamelas redondas, gamelas ovais, cochos, colheres-de- pau, palhetas de mexer doce, tábua de carne, batedor de nata, pilãozinho de tempero, pilão vertical e pilão deitado de uma, duas ou três bocas); 4. artefatos diversos (forma de chapéu de palha de carnaúba, palmatória escolar, balança de madeira de pesar algodão, caixão de guardar farinha e caixão de guardar rapadura); 5. máquinas e equipamentos (moinho de pau, engenho de pau, bolandeiras, prensas de casa de farinha, prensas de cera de carnaúba, prensas de queijo, pipas, dornas, ancoretas, tinas e roladeiras de transportar água); 6. móveis (mesas, cadeiras de mesa, cadeiras de balanço, espreguiçadeiras, guarda-louças, cristaleiras, bufês, guarda-roupas, cabides etc); 7. artesanatos de couro (sela, silhão, corona, manta, alforje, mochila de milhar cavalo, cabresto, gibão, perneira, guarda-peito, guarda-pés, luvas, alpercatas e outros).

A engenharia empírica, transmitida pela tradição oral, somava-se ao talento do artesão na elaboração de objetos, utensílios domésticos, apetrechos de trabalho, implementos agrícolas, equipamentos e máquinas das agroindústrias do passado. Os carapinas, marceneiros, santeiros, tanoeiros, ferreiros, flandeiros, cuteleiros, armeiros, seleiros, cesteiros, louceiras, pedreiros,  sapateiros, costureiras, bordadeiras, rendeiras, labirinteiras, crocheteiras, fiandeiras, tecelãs e outros artífices eram os que exercitavam as artes e os ofícios no sertão. Eram conhecidos como artistas e suas obras representavam a arte sertaneja. Existiam também os oficiais de serviços, à semelhança do mestre-escola, barbeiro, bodegueiro e profissionais da área da saúde (parteira, enfermeiro, tira- dentes, encanadores de braço, curandeiro e raizeiro). Como vimos, a arte sertaneja é mais representada pelos artefatos utilizados pela população do que pelas as artes plásticas (esculturas,

pinturas, desenhos e gravuras).

Enviado pelo autor

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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