Por Sálvio Siqueira
Adrião Pedro
de Souza o soldado Adrião, foi a única baixa da Força Pública no ataque à grota do riacho Angico, em 28 de julho de 1938.
Mas, quem fora Adrião?
Adrião Pedro de Souza nasceu na cidade de Chã Preta, AL, no dia 1º de março de 1915. Era filho do casal Sr. Sebastião Alves de Oliveira e de D. Rosa Maria de Souza.
Adrião Pedro de Souza - o soldado "Adrião". única
baixa militar no ataque aos cangaceiros no dia 28 de julho de 1938.
Naquele tempo, Adrião viveu e fazia o que toda criança fez e viveu comumente.
As diversões daquela época eram poucas, pois a criançada não tinha tempo para
isso. A vida de toda criança, assim que se pode com uma lata d’água, ficasse
taludinho, era ajudar seus pais nas lidas diárias da roça.
Seus pais, mesmo necessitando dos seus serviços, o colocam na escola e ele aprende a ler e escrever. Destaque para época em qualquer pessoa.
Sua história nos faz ver que ele não seria mais um sertanejo a viver exclusivamente do ‘cabo da enxada’.
Assim, aquela criança continua seu aprendizado para a vida, parte ao lado dos pais e parte com os ensinamentos do professor.
Já adolescente conhece uma moça chamada Tereza Brandão de Jesus. Começam a
namorar e aparece uma forte atração entre eles. Terminando por casarem-se
civilmente no dia 04 de março de 1933, em Viçosa, cidade alagoana.
No dia 20 de abril, nasce sua primeira filha Maria Belizia de Souza. No dia 28 de julho de 1934, vem ao mundo seu segundo filho, Geovane de Souza. Porém, quis o destino que oito meses depois de nascido, venha a óbito.
No dia 21 de março de 1938, nasce seu terceiro filho, José Adrião de Souza.
A renda retirada dos serviços da agricultura não estava dando para o sustento da família. Foi então que Adrião Pedro de Souza no dia 21 de março de 1936, contando com seus 21 anos de idade incorpora-se na Força Pública de Alagoas.
É designado para fazer parte da volante do Aspirante Francisco Ferreira de Melo.
Aspirante Francisco Ferreira de Melo
“(...) Ferreira de Melo foi o responsável pela hecatombe do Angico naquela fria manhã do dia 28 de julho de 1938. Ali, o famigerado Lampião, Maria Bonita e sua horda deixaram este mundo, terminaram seus dias de crimes decapitados pelos facões afiados dos “macacos” e seus corpos serviram de alimento para os urubus (...).” (“A OUTRA FACE DO CANGAÇO – Vida e morte de um praça” – SOUZA, Antonio Vilela. 1ª edição, Recife, 2012)
Maria Belízia filha do casal Adrião e dona Tereza Brandão. Ao lado do
professor/pesquisador/historiador Antonio Vilela de Souza, autor da obra
"A Outra Face do Cangaço".
O cangaço, Fenômeno Social gerado dentro de outro Fenômeno Social, o “Coronelismo”, é um tema incrivelmente complexo e recheado de ‘mistérios’. Tendo início no princípio da segunda metade do século XVIII, fora divido pelos pesquisadores historiadores em duas fases. A primeira fase encerra-se, dando lugar para o início da segunda, na fracassada tentativa de Lampião, Virgolino Ferreira da Silva, e seu bando, o nome maior do cangaço dentre os chefes cangaceiros, saquear a cidade de Mossoró, RN, em junho de 1927. Onze anos, um mês e alguns dias depois, 28 de julho de 1938, da tentativa desse ataque, Lampião e seu bando são atacados entre as barreiras de um riacho seco em terras sergipanas. Desse ataque, resulta a morte do “Rei dos cangaceiros”, sua “Rainha”, Maria Bonita, mais nove cangaceiros e um soldado da Força Pública alagoana, Adrião Pedro de Souza.
O que realmente aconteceu naquele ataque, jamais se saberá. Várias e várias hipóteses já foram feitas, mas, a realidade ainda não veio à tona, e acredito que jamais virá. Pelo simples fato de que, aqueles que sabiam, não disseram a verdade. Com suas mortes, morreu também o que sabiam.
Soldados
da PMAL - Da esquerda para direita: Adrião, Abel, José Araújo e Antonio Vicente. Registro em 17 de novembro de 1936.
O pesquisador/historiador Antônio Vilela, citando Alcino Alves Costa, diz: “O
nosso amado decano, caipira de Poço Redondo, é quem melhor fala dos ‘Mistérios
e Mentiras do Angico’. “
“(...) É como se uma névoa escura envolvesse aquele lugar em mistérios indecifráveis. Ali, os segredos, mentiras e mistérios jamais serão revelados (...).” (Ob. Ct.)
Tive o privilégio de participar de uma expedição de estudos lá na grota.
Estudando, em outras duas viagens feitas ao local, maio de 2014 e julho de 2015, o lugar do desembarque da tropa e a trilha seguida por a mesma. Além das citações de várias pessoas de lá, do local, tanto do lado alagoano como sergipano, mostram-nos que a tropa subiu a trilha até o Alto das Perdidas pelo lado esquerdo do riacho. Isso é confirmado para nós pelo ilustre Alcino Alves em suas obras literárias e oralmente por um dos maiores conhecedores do fato Angico do tema estudado, José Sabino Bassetti. Onde hoje se encontra o Restaurante Eco-Parque, não foi aonde à tropa desembarcou, e sim mais acima, contrário a correnteza do Rio São Francisco, onde ainda está à casa de Durval Rosa, irmão de Pedro de Cândido que morava em Entremontes, AL, bem abaixo do local em que a tropa ancorou.
Após chegarem ao Alto das Perdidas, o comandante da tropa, tenente João Bezerra, divide a mesma em colunas e passa para seus oficiais as coordenadas a serem seguidas.
Historiadores/pesquisadores como Alcino Alves Costa, Jairo Luiz e Antônio Vilela e outros, nos mostram as brechas que ficaram quando do movimento, deslocamento, de aproximação para onde se encontrava Lampião.
O cabo Bertoldo e o Aspirante Ferreira de Melo com seus homens, descem em sentido leste, por uns 200 metros, pois a margem esquerda do riacho fica a essa distância e, depois de transporem essa distância, dentro da mata, Bertoldo segue subindo na margem esquerda do riacho, o aspirante transpõe a grota naquela altura, e começa a subir com seus homens, inclusive o soldado Adrião, no sentido contrário a correnteza das águas do riacho em direção ao acampamento do “Rei Vesgo”. O sargento Juvêncio, com sua coluna, sobe direto do lado esquerdo do riacho, a partir do Alto das Perdidas até certa altura e atravessam o riacho para o lado direito, seguindo a partir dai a correnteza das águas em direção ao acampamento de Lampião.
Chã Preta - terra natal do soldado Adrião Pedro de Souza
As outras últimas colunas restantes, a do sargento Aniceto e a do comandante
João Bezerra, estavam muito próximos. Do Alto das Perdidas para o local onde
estava a tolda de Lampião distam uns 200 metros.
Tenente João Bezerra da Silva - Detalhe: o comandante militar, nesse registro, está
usando parte da indumentária do chefe cangaceiro 'Lampião', como seu lenço de
pescoço, suas cartucheiras, seu bornal e etc...
Seguindo direto, a coluna do
tenente Bezerra, segundo Alcino Alves e Jairo Luiz, era a que deveria ter
chegado primeiro, pois não tinham que descer nem subir, apenas seguir em
frente. Não chegando junto, ficou a primeira “brecha”. A coluna comandada pelo
sargento Aniceto, atrasa-se, também, e depois surge a conversa que se perdeu,
deixando a outra “brecha”. E é justamente por essas duas “brechas” que fogem a
maioria dos cangaceiros.
Quem primeiro atira, segundo relatos, são os soldados da coluna do Aspirante Chico Ferreira, a qual também é tida como a que mais matou inimigos naquele ataque. Abaixo, mostramos parte de um diálogo entre os pesquisadores, lá, nos arredores da Grota.
“- Espere aí! Nós vamos descer... Nessa descida não tinha volante. Uma estava na ponta do riacho e a outra volante na extremidade do riacho.” – disse Alcino.
“- Alcino, eu estou mostrando a você que o correto era uma volante descer por aí, eles estavam bem próximo.” – disse Jairo.
“- E quem atacou primeiro?”. - Pergunta Jairo.
“- Chico Ferreira”. - Respondeu Alcino.
“- E quem matou mais cangaceiros?” - Pergunta de novo, Jairo Luiz a Alcino.
“- Chico Ferreira.” – Respondeu o caipira de Poço Redondo.
“– Jairo, você está me ajudando. Na realidade a volante do Aspirante Francisco Ferreira de Melo foi quem tomou a iniciativa do ataque ao bando de Lampião”. – Conclui Alcino. (Ob. Ct.)
Quando se inicia “o pego – pra – capá”, os homens da coluna do Aspirante Ferreira de Melo, se ‘avexam’ tanto que, segundo historiadores, alguns têm que recuar para poderem atirar nos cangaceiros, e isso tudo no miolo da grota, no leito seco do riacho.
Nesse reboliço todo o valente soldado Adrião é morto. Relatos posteriores de um cangaceiro, em revistas e livros, diz que atirou em um soldado. Lá, naquele dia só teve uma baixa militar. Estando deitado, quase que encostando o cano do mosquetão em um soldado, que o mesmo, ao receber o impacto, é atirado longe. Já vemos em outras obras literárias de que o digníssimo soldado da coluna do Aspirante Ferreira de Melo, Adrião Pedro de Souza foi abatido por fogo “amigo”.
Fonte "A
OUTRA FACE DO CANGAÇO - Vida e morte de um Praça" - SOUZA, Antonio Vilela. 1ª edição. Recife, 2012.
Foto Ob. Ct.
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