Valdir José Nogueira, talvez somente Ariano Suassuna para descrevê-lo assim de relepada, quando o mestre armorialista diria: “Olhe no homem a pedra em seu estado de pedra, no silêncio e na mansidão do tempo, no seu estado de sol e de chuva, e no seu lodo encobrindo segredos. Mas tente se aproximar da pedra, falar com a pedra, aprender com a pedra. E terá uma pedra que é um reino de humildade, de simplicidade, de conhecimento e de sabedoria. Assim é Valdir, o belmontense, o guardião da Pedra do Reino, dos segredos do Castelo Armorial, o olhar dos casarões antigos e avivados na cor, o jardineiro das pedras portuguesas e o estandarte da cavalaria, dos bacamarteiros e de toda a cultura brotada em seu imenso Pajeú”.
O prazeroso destino me fez chegar a Valdir Nogueira durante o Cariri Cangaço Belmonte, em outubro do ano passado. O evento parecia somente ele. A voz do evento parecia somente a dele. Tudo se fazia perante sua presença, orientação e guia. Homem de estatura mediana, de gestos despreocupados e ao mesmo tempo atentos a tudo ao redor, de calmaria em mar bravio, de palavras profundas e desapressadas, numa ser de simplicidade difícil de ser encontrada. Um chapéu na cabeça, óculos moldurando um olhar de águia. Acessível, de mão estendida e sorriso estampado e, de repente, um amigo. Um grande amigo.
Augusto Martins, Manoel Severo e Valdir Nogueira
Algumas ligeiras informações. Valdir Nogueira, filho de Pedro Andrelino Nogueira e Aliete Moura Nogueira, é escritor, historiador, professor, palestrante, com profunda atuação na Secretaria Municipal de Turismo de Belmonte, membro da Associação Cultural Pedra do Reino, Conselheiro Cariri Cangaço, dentre outras atividades. Enquanto historiador apresentou estudos sobre os coronéis belmontenses, sobre a saga dos Pereira e dos Carvalho, a valentia de Quelé do Pajeú, sobre a Lendária Casa de Pedra, acerca do Capitão Luiz Mariano da Cruz, sobre o Movimento Sebastianista, sobre as Memórias do Antigo Casarão e a Morte do Coronel Gonzaga, sobre a História de São José do Belmonte, e muito mais.
Desde aquele Cariri Cangaço que Valdir Nogueira começou a despertar minha atenção e curiosidade. Ora, seu conhecimento histórico e cultural poderia levá-lo ao pedestal daqueles que se acham diferenciados pelo saber. Mas quem avista e dialoga com Valdir encontra um conhecido de soleira da porta ou de pé de balcão. O contexto cultural no qual está envolvido, num emaranhado de ricas e preciosas informações, bem que poderia torná-lo como aquele indivíduo que só tem tempo para o acúmulo do que interessa. Mas Valdir procurar compartilhar, de forma sucinta e inteligível, toda informação recolhida nas suas andanças, nos seus olhares, no seu sentimento de historiador do singelo e do grandioso.
Jorge Figueiredo, da cidade Baiana de Entre Rios, Valdir Nogueira, da cidade pernambucana de São José de Belmonte, João Tavares Calixto Junior, da cidade cearense de Juazeiro do Norte, Manoel Belarmino, da cidade sergipana de Poço Redondo; , Quirino Silva, da cidade paraibana de João Pessoa e , empossados como Conselheiros Cariri Cangaço na noite de abertura da festa de 10 anos, 24 de julho de 2019 em Crato
Dificilmente alguém vai se preocupar com as pedras portuguesas antigas cimentadas nos belos casarões belmontenses. Dificilmente alguém se orgulha tanto com o que convive como Valdir. Peça-lhe para falar sobre Ariano Suassuna, sobre a Pedra do Reino encravada em Belmonte, sobre João Antônio, João Ferreira e demais personagens daquela saga de fanatismo, loucura e sangue. Valdir é sebastianista, é armorialista, é um livro de Ariano. Valdir é o guardião dos mistérios e segredos da Serra do Catolé. Creio que Valdir seja o próprio Quaderna narrando a epopeia de seu povo e de sua terra.
Por tudo isso - e muito mais - eu aprendi a devotar admiração especial por Valdir Nogueira. Meu leitor em alguns textos que publico, igualmente sabedor de minha escrita engajada com a cultura e a história sertaneja, ele bem sabe que muito nos aproximamos na apreciação das singelezas da vida. Então de repente faz surgir de sua boca uma nostalgia encantadora: “Hein Rangel, vai fumar um cigarrinho em deforete?”. Para depois lembrar que deforete é um termo interiorano para indicar descanso ou folga. Mais adiante se volta pra mim e diz: “Viu Rangel, aquele senhor na madorna no sombreado da igreja?”. E repliquei: “Só você Valdir, para aparecer agora com essa madorna!”.
E de sua boca vão saindo pérolas e preciosidades já fora do alcance e do entendimento moderno. E de sua presença aquele sopro de vento bom e de sombreado debaixo de frondosa árvore. Abraço-te, amigo Valdir!
Rangel Alves da Costa, Pesquisador, Poeta e Escritor
Conselheiro Cariri Cangaço ; Poço Redondo, Sergipe
blograngel-sertao.blogspot.com
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