Por André Nogueira
Pancada e Maria Jovina, do bando de Lampião - Wikimedia Commons
Muitos
acreditam que o bando de Lampião era composto de valentes heróis, todavia,
esquecem de ver o ponto de vista das mulheres, submetidas às piores violências.
O Cangaço foi
um dos movimentos de infração da lei mais famosos da história do Brasil. A sua
atuação nos sertões causou desespero e violência entre a população.
Independentemente da versão que tivermos do bando de Lampião como heróis ou
bandidos, é impossível ignorar o fato de que os bandoleiros cometeram diversas
agressões contra pessoas humildes.
Um dos fatores
mais fortes na violência do cangaço era a violação do bando com as mulheres. O
estupro era visto de maneira ambígua pelos cangaceiros: ao mesmo tempo em que
era entendido como uma violação, era frequentemente praticado.
No caso dos
estupros coletivos realizados pelos bandos, a prática ficou conhecida como
gera. Frequentemente praticados com furor, era uma forma de dominação das
mulheres sertanejas comuns entre os homens
de Virgulino.
A jornalista
Adriana Negreiros foi responsável por um relevante debate dessa infeliz
cultura, através da biografia Maria Bonita: sexo, violência e mulheres no
cangaço. Para ela, essa pratica comum, como forma de domínio e mantimento de
poderes masculinos, tinham diversas motivações individuais. A infelicidade de
topar com um bando poderia levar à violência completa.
Maria Bonita /
Crédito: Wikimedia Commons
Muitos casos
de estupros eram formas de repressão ao que Lampião ou o bando reprovavam. O
primeiro caso de violência relatado por Negreiros é o de uma mulher que
Virgulino encontrou, que era casada com um homem de 80 anos. O cangaçeiro,
inconformado com a situação, degolou o idoso, partindo em seguida para cima da
esposa, que foi agredida e estuprada (sempre tendo Lampião como o primeiro a
violar a vítima). O rito era comum e praticado contra os inimigos do bando.
Porém, não
eram apenas as mulheres de fora do bando que eram estupradas: muitas
companheiras dos bandidos também passavam por violências do tipo, pois eram
obrigadas a servirem à libido de seus maridos. Muitas delas, inclusive,
entraram no bando em situações de sequestro, e começaram no mundo do crime por
estupros. Inclusive, nenhuma delas poderia fugir sem antes ser baleada até a
morte.
Maria
Bonita, ou de Déa, não estava livre dessas agressões. Negreiros afirma
em seu livro que “todas as cangaceiras, Maria incluída, eram tratadas como
inferiores aos homens. Ela viveu uma existência marcada pela violência – e uma
das mais fortes certamente foi entregar a filha recém-nascida, Expedita, para
um casal, visto que as cangaceiras não tinham o direito de criar os próprios
filhos”.
Dadá e Corisco
/ Crédito: Wikimedia Commons
Outra vítima
foi Dadá, que havia sido raptada por Corisco para entrar no cangaço aos 12
anos. Ela foi sequestrada dos braços dos pais, amarada a um jumento e levada
para o interior da caatinga, até que o sequestrador parou, a jogou no chão e a
estuprou violentamente.
Outro caso
notório foi o de Dulce Menezes dos Santos, sequestrada ainda jovem pelo
cangaceiro Criança, estuprada e mãe por obrigação. Muitos são os exemplos
possíveis sobre o tema, e mesmo assim, a comunidade acadêmica tende a reduzir o
peso dos fatores ligados à violência sexual na vida cotidiana do Cangaço.
Essa é uma das
denúncias feitas pela revolucionária biografia escrita por Adriana.
“Nenhuma dessas terríveis cenas me chocou tanto quanto a mais incômoda das
constatações: a de que os relatos das cangaceiras são geralmente desacreditados
em relação à extrema brutalidade da qual foram vítimas”, afirmou a autora.
+Saiba mais
sobre o cangraço através dos livros abaixo:
Cangaços, de
Graciliano Ramos (2014) - https://amzn.to/37pGy7p
Os
cangaceiros, de Luiz Bernardo Pericás (2010) - https://amzn.to/30SLA9O
Apagando o
Lampião, de Frederico Pernambucano de Mello (2018) - https://amzn.to/2TVp7HO
Maria Bonita,
de Adriana Negreiros (2018) - https://amzn.to/2NVgAkz
Vale lembrar
que os preços e a quantidade disponível dos produtos condizem com os da data da
publicação deste post. Além disso, assinantes Amazon Prime recebem os
produtos com mais rapidez e frete grátis, e a revista Aventuras na História
pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links
nesta página.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário