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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

VENENO, INCÊNDIO, TRAIÇÃO E FUGA.


Por João Filho de Paula Pessoa

Na reta final da passagem pelo Ceará durante sua fuga de Mossoró/RN em 1927, Lampião foi traído por um fazendeiro que julgava seu amigo e que tinha participado dos planos ao ataque à Mossoró, o Cel. Isaias Arruda. 

O Bando de Lampião já tinha passado por vários combates de perseguição e provações durante esta fuga, muita fome, sede, exaustão, perdas, mortes e deserções, sencontrando-se seu bando reduzido, em frangalhos e extremamente debilitado. Lampião esperava encontrar guarida na fazenda do amigo para se recompor e prosseguir sua viagem de volta à sua terra. 

Cel. Isaías o recebeu e o encaminhou à uma outra fazenda vizinha para hospedá-los na casa grande. Ao se aproximar da casa grande Lampião seguindo seus instintos, resolveu não entrar e acampar numa várzia próxima, debaixo de algumas árvores. No outro dia, Cel. Isaías convidou o bando para um almoço na mesma casa grande, onde seria mais confortável, mas, ao se aproximar o horário do almoço, Lampião instintivamente e novamente não entrou na casa, e pediu para o almoço ser servido no pátio da fazenda, ao ar livre. 

Os instintos, as precauções e a sagacidade de Lampião lhes salvaram a vida, pois seu suposto amigo tinha tramado um plano cruel e “infalível” para sua morte. Mandou envenenar a comida que lhe seria servida, para quando estivessem envenenados dentro da casa, fosse tocado fogo em todo o canavial que a rodeava por todo o pasto e ainda posicionou sua tropa de jagunços de tocaia fora da casa, em posição de combate, para abater a tiros todos os que, por ventura, se salvassem do veneno, das chamas do fogo e da intoxicação da fumaça e assim aniquilar Lampião e todo o bando de uma vez só. 

Iniciou-se o almoço e logo alguns cangaceiros começaram a passar mal e o fogaréu se alastrou rapidamente por toda a fazenda, e a fumaça tomou conta do pátio e da roça, formando uma imensa e tóxica nuvem negra de fumaça, que aumentou ainda mais o mal estar dos envenenados. Lampião estranhou tudo aquilo e imediatamente ordenou a retirada, e iniciou o combate com os jagunços, empreendendo fuga. 

Os cangaceiros envenenados correram aos tropeços, combateram, tombaram e fugiram aos vômitos e dores, recorrendo ao que restavam de suas últimas forças, e sumindo na negritude da nuvem de fumaça e na vermelhidão das chamas do fogo, alguns caíram e ficaram pelo caminho, mas, heroicamente e inimaginavelmente, Lampião chegou à terras pernambucanas em condições totalmente precárias, com seu bando quase moribundo, mas vivos e em “casa”. 

João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/CE. 14/02/2020.


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