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segunda-feira, 6 de julho de 2020

ESPÓLIOS DE LAMPIÃO (Parte I)



É sabido por todo pesquisador que os cangaceiros levavam consigo a maioria dos seus ‘pertences’. Também se sabe que em casos, ou em alguns casos, eles emprestavam, a juros altíssimos, algum dinheiro para as pessoas.

Citam alguns autores que o coronel Zé Pereira, de Princesa Isabel, PB, devia uma grande soma ao “Rei dos Cangaceiros”, e, para não saldar tal dívida, aproveitou o ataque de seu bando, ele não participa, a cidade de Souza, em solo paraibano, convidado pelo jovem cangaceiro Chico Pereira, para colocar seus capangas, e o coronel mantinha um contingente de jagunços maior do que o contingente da Polícia da Paraíba, em seus calcanhares.

Outra citação é que, ao transpor as água do Velho Chico, Lampião diz “levar muito dinheiro, balas e coragem...” para terras baianas. Na Bahia, há referências de que o chefe de subgrupo, o cangaceiro Zé Baiano, o “Pantera Negra”, vivia a emprestar dinheiro a juros para o pessoal.

Logicamente não se pode negar que, principalmente na ‘fase baiana’, foi a ‘maneira de ganhar’ dinheiro que fascinou tantos jovens, principalmente sergipanos, a adentrarem nos bandos. Sabe-se, através das entrelinhas dos escritores, que o pernambucano José Osório de Farias, o comandante Zé Rufino da Força Pública baiana, comprou algumas fazendas, isso dito por ele, após deixar a Polícia, e foi com os espólios retirados dos corpos dos cangaceiros mortos por sua volante. Além das promoções na hierarquia militar, das recompensas pelas ‘cabeças’ de alguns cangaceiros, que quem matasse um teria direito ao seu espólio.

O caso mais intrigante, até hoje, não poderia deixar de ser, exatamente, sobre os espólios de Lampião, Maria Bonita, sua companheira, e os outros nove cangaceiros abatidos na grota do riacho Angico em julho de 1938.

A pergunta que não cala é onde foram, ou com quem ficou os espólios dos maiores, mais antigos e mais ‘ricos’ cangaceiros da época?

Seguindo a rota que as cabeças seguiram, conseguimos seguir parte desses ‘tesouro’ até a sede do comando da Força Pública, II Batalhão, na cidade de Santana do Ipanema, AL. Ali, o restante daquilo que fora um dia os espólios dos cangaceiros mortos em Angico, fora divido entre os comandantes. “Restante” por, antes ter sido ‘repartida’ várias coisas entre a tropa, coisa que causou até brigas entre os soldados. Além das cabeças, foram decepadas mãos, dedos e a parte do corpo dos abatidos que estivesse alguma joia ou coisa de valor, dentre outras profanações.

“(...) Além das cabeças dos cangaceiros, alguns dedos e mãos também foram decepados para a retirada de anéis, bornais foram revirados e até brigas aconteceram pela disputa (...).” (“LAMPIÃO – Sua morte passada a limpo” – BASSETTI, José Sabino. e MEGALE, Carlos Cesar de Miranda. 1ª edição. 2011)

Após a morte dos cangaceiros no riacho Angico, foi designado um Delegado Federal, Dr° Joel Macieira de Aguiar, para apurar o caso do “tesouro” dos cangaceiros. Em sua investigação descobre que havia pessoas de várias esferas sociais a colaborar com Lampião, na sociedade sergipana, porém, como foram saqueados os pertences dos cangaceiros, até documentos que ajudariam a provar, ou comprovar, a participação dessas pessoas, foi retirada. O interventor do Estado de Sergipe, Dr° Manoel de Carvalho Barroso, é orientado pelo delegado a pedir a seu colega das Alagoas uma verificação por parte da Secretaria de Segurança Pública sobre essa documentação. Porém, nada fora catalogado daquilo que se encontrava em poder do “Rei dos Cangaceiros” e seus asseclas naquele coito.

“(...) Não existe, pelo menos de conhecimento público, um inventário oficial e verdadeiro, onde esteja catalogado todo o espólio dos cangaceiros mortos em Angico (...).” (Ob. Ct.)

A coisa, na época, não era de brincadeira. Não poderia, de maneira alguma, vir a público nome de pessoas influentes dos Estados em que Lampião estendeu sua malha e concretizou seu reinado.

“(...) dizem até que, foram encontrados em um dos bornais de Lampião, “um arquivo”, com correspondências de coronéis, políticos e fazendeiros, além de uma fotografia de um oficial comandante de volante, com dedicatória e tudo ao Rei do Cangaço. E tudo foi devidamente “abafado inclusive na imprensa” (...).” (Ob. Ct.)

Devemos lembrar que na época, o País estava sob um Regime ditatorial. A Ditadura Vargas estava em pleno exercício. Um, ou mais um, escândalo desses, o primeiro sobre o caso fora o filme de Benjamin Abrahão, não seria visto de bom grado...

Existe, dentre os pesquisadores/escritores, aqueles que acham difícil haver prova escrita de alguns ‘poderosos’ nos espólios do “Rei dos Cangaceiros”. No entanto, poderia ter sim, alguns nomes dos fornecedores e colaboradores escritos em algum papel... Que Lampião recebia colaboração de pessoas influentes é fato, porém, saber quem realmente eram, é mais uma incógnita do incógnito tema, o qual, seus nomes, parece jamais saberemos.

Na famosa foto, onde ficou registrada parte dos espólios junto às cabeças dos cangaceiros na escadaria da Prefeitura da cidade alagoana de Piranhas, de cara notamos uma ‘arrumação’ quando vemos máquinas de costuras e até um cilhão, sela exclusiva e apropriada para mulheres... Sabe-se que foi encomendada uma máquina para que, com ela, fosse ‘produzida’ a indumentária de Zé Ferreira, sobrinho do ‘Capitão’, que estava há poucos dias junto à cabroeira e o tio o faria mais um cangaceiro, o mais novo “Ferreira” no cangaço, mas, não deu tempo. E o que danado fazia uma sela de montaria naquele coito?

Relatos de ex volantes deixam registros de que o comandante da Força Pública alagoana que pôs fim a vida do “Rei Vesgo”, sua ‘Rainha” e parte dos seus cabras, apossou-se da maior parte dos espólios.

“(...) Os soldados são unânimes em afirmar que João Bezerra (tenente comandante da tropa) levou para casa quase tudo de valor que foi encontrado, inclusive dinheiro, prometendo dividir com todos no dia seguinte. Os ex-militares José Panta de Godoy, Elias Marques de Alencar e Antônio Vieira, estão entre os que afirmaram em entrevista que havia muita coisa, mas que nada receberam e, acusaram João Bezerra e Ferreira de Melo de terem ficado com quase tudo. João Bezerra e Ferreira de Melo pegaram ainda em Piranhas o que quiseram, pois tiveram tempo suficiente para escolher e separar tudo de valor material e “sentimental” que acharam interessante guardar (...)”. (Ob. Ct.)

Com o passar do tempo, obras literárias trazem em suas entrelinhas a notícia de que partes desses objetos foram adquiridos pelos escritores, comprados mesmo e, pasmem, é através de uma dessas obras que começa-se a descobrir-se que parte daqueles objetos que estão a mostra em museu, não são verdadeiros...

CONTINUA...
Foto A Noite
Benjamin Abrahão
Joãozinho Retratista
PS// FOTOS DO CANGACEIRO CHICO PEREIRA E DO BANDO EM JARAMATAIA FORAM COLORIZADAS, DIGITALMENTE, PELO AMIGO Rubens Antonio

Clique no link para ver todas as fotos:


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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