Seguidores

segunda-feira, 27 de julho de 2020

SEBASTIÃO VIEIRA SANDES – O FRANCO-ATIRADOR E SUA VERSÃO



Amanhecer na Grota Angico, em 28 de julho de 1938. Na linha avançada da Volante de tenente João Bezerra, está o aspirante Ferreira. “Ocupada a posição, a um sinal do aspirante, Pedro de Cândido se aproxima da borda do penhasco e recua de repente, branco como papel: avistara Lampião logo abaixo, em frente de uma pedra pontuda”; (pág. 260) O até então, “ Rei do Cangaço está a menos de oito metros de distância, em pé, inteiramente equipado, salvo pelo chapéu e pela cartucheira de ombro”, narra Frederico Pernambucano de Melo, em seu livro “Apagando Lampião”.


E segue narrando em detalhes: o coiteiro Pedro de Cândido “olha para Santo; por meio de gestos e de movimentos de boca, Santo confirma a identificação para o aspirante (Ferreira) que, em resposta, “olha para Santo e molega o dedo indicador na direção de Pedro”. Era a senha para que este também fosse eliminado, algo que não aconteceu.

Em cima da grota o aspirante Ferreira “eleva a Bergman à posição de tiro e, fosse por ceder a evidência de serem as metralhadoras armas contraindicadas par o tiro de pontaria, fosse por sentir o peso, desiste e faz gesto para Santo”, famoso na tropa como franco-atirador, e o autoriza a fazer uso do fuzil conhecido por Mauser alemão, modelo 1908, calibre sete milímetros, cano extralongo, balas novíssimas, de 1932, contou Sandes.


Lá embaixo, Lampião leva à boca sua caneca com café, e é nesse exato o instante do disparo fatal, de cima para baixo. O ex-amigo, ex-coiteiro, ex-cangaceiro apelidado por Maria Bonita, de Galeguinho, e agora soldado de volante, Sebastião Vieira Sande – o soldado Santo, assiste à “queda desconjuntada do corpo; queda de quem cai para não levantar mais”.

Esta versão de quem matou matou Lampião merece crédito, mesmo vindo à tona muitas décadas depois, em contraponto às que surgiram no calor dos acontecimentos. Um dado importante: ali, no momento do ataque, a menos de oito metros de distância de Virgulino Ferreira da Silva, apenas dois homens o conheciam bem: o coiteiro Pedro de Cândido e o soldado Santo, que após o tiro fatal em Lampião, se desamarra de Cândido, e mesmo tendo recebido ordens do aspirante Ferreira para matar o coiteiro ali mesmo, o mandou correr.

-“Corre, condenado”, soprou Sandes ao ouvido do coiteiro.

“Imediatamente depois dos tiros, houve um pequeno intervalo, e os cabras que estavam perto de lampião foram acossados por fortes rejadas que partiam quase da mesma direção, vindas por cima de uma elevação. Logo caíram, mortalmente feridos, Quinta-Feira, Merulhão, Colchete, Maria Bonita e Marcela.”

Mas os admiradores do cangaço, podem ficar com outra versão dos acontecimentos – a do sargento Honorato – Noratinho.


Ao Jornal Diário de Pernambuco de 2 de agosto de 1938, Noratinho deu a sua versão numa narrativa elaborada. Disse Noratinho:

“Vi Lampião se erguer, apresentando na face a expressão de um enorme pavor. Levei o fuzil ao rosto. Mirei bem. A mulher do bandoleiro, nesse instante, estendeu os braços pedindo clemência. Fiz fogo e o chefe dos cangaceiros baqueou. Acompanhei sua queda com dois tiros”.

Lembrando aos conhecedores de armas deste grupo, que Noratinho portava de arma de repetição e não automática.

Fonte: “Apagando Lampião”, de Frederico Pernambucano de Melo.
Foto 1. Sebastião Vieira Sandes (em depoimento a Frederico)
2. Lampião e Maria Bonita, foto de Benjamim Abraão (Abba Filmes) 3. Pedro de Cândido. 4. João Bezerra(sentado à E; Ferreira (em pé à D)


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário