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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

ENDOGAMIA: MARIA BONITA E A TRADIÇÃO DE CASAMENTOS ENTRE PRIMOS

Por João de Sousa Costa

Maria Gomes de Oliveira é de 8 de Março nasceu na Bahia em 1911 numa família numerosa de homens e mulheres: Ananias, Oséias, José, Isaías, Arlindo; e mais Benedita, Antônia, Dorzinha, Chiquinha, Nana, Dondon e Deusinha.

Sua avó era holandesa de nascimento, casada com um português; tendo o casal emigrado para o Brasil em 1850 e radicado na Região de Santa Brígida.

Mais conhecida no sitio Malhada da Caiçara, onde vivia Maria de Déa, seguiu uma tradição social sertaneja, de influência judaica: a endogamia. Casou com um primo chamado José Miguel da Silva, mais conhecido como Zé de Neném. Sapateiro de profissão, homem mais velho e condições de sustentar uma família.

Sua irmã Dondon fez o mesmo, casou com um tal de Cícero, também sapateiro e irmão de Zé de Neném. Desde a sua infância até a fase adulta, Maria de Déa preservou uma confidente e conselheira: sua prima Maria Rodrigues.

Como Maria conheceu Virgulino, há versões para todos os gostos. Em prosa e verso. Mas segundo Oséias, seu irmão, Lampião frequentava sua casa. E o casal se conheceu, dançou e namorou, antes de Maria tomar a decisão de seguir o novo amor.

Mas há relatos que indicam mais sobre as inquietações da baianinha que viria ser a “Rainha do Cangaço”. Contam que, mesmo casada, Maria de Déa teve aventuras extraconjugais. O escritor Alcino Costa atribui à Maria Bonita um caso com comerciante de tecido de Santa Brígida.

“Um romance sigiloso, com o tal comerciante de nome João Maria, tão sigiloso que ainda hoje é negado pelos seus familiares”. Este suposto romance extraconjugal não é mencionado em profundidade por nenhum outro escritor.

Conta-se que entre 1929 até 1932, já convivendo com Lampião, permaneceu Maria em casas de coiteiros. Por conta da Revolução de 1930, a repressão ao cangaço arrefeceu, as forças policiais estavam focadas no Litoral e Lampião aproveitou a oportunidade para determinar que as mulheres casadas com cangaceiros podiam se juntar ao bando.

Foi uma mudança radical no cangaço no que se refere a costumes, higiene e civilidade nas relações em grupo, porque o bando seguia barbarizando nas razias e vinditas.

Atentem para as fotografias de Maria Bonita e das demais cangaceiras; elas expressam esteticamente como elas gostariam de ser lembradas: bem vestidas, cobertas de joias e em poses ensaiadas (nas duas fotos abaixo, uma Maria Bonita produzida para ser fotografada e outra despojada de adereços)

A vaidade reinante no bando criou uma estética, um estilo. Lampião não deixava por menos: homem dos “sete instrumentos” pois dominava a arte de costurar em couro, fora pedreiro, dava uma palinha na harmônica e também compunha, além de ser um “pé de valsa”.

E a relação com Virgulino veio a maternidade, uma vez que no primeiro casamento, devido à infertilidade de Zé de Neném, ter filhos estava fora de questão.

Relatam que Maria Bonita engravidou quatro vezes, mas só uma filha nasceu e que recebeu o nome de Expedita. O parto foi assistido por uma senhora de nome dona Rosinha, e é atribuída a essa parturiente o fato de a criança ter sobrevivido, pois nos outros três partos anteriores não houve assistência alguma.

Maria Bonita foi descrita pelo Diário de Pernambuco como “Madame Pompadour” do Cangaço, uma definição de Benjamin Abraão. Na edição de 30 de julho de 1938, sobre os acontecimentos em Angico, inclui um parágrafo sobre Maria de Déa, que diz:

“Maria Bonita amava Lampião doidamente. Nunca o abandonava quando no combate. Com ele viveu, com ele morreu”.

Por fim, o relato do soldado José Panta de Godoy, da volante do aspirante Francisco Ferreira de Melo e que foi o carrasco de Maria Bonita. Diz ele:

“Aí eu atirei nas costas dela e ela caiu; no que ela caiu, ela levantou-se; eu dei outro tiro na barriga dela, assim por trás, ela caiu e não levantou mais. O soldado Santo cortou a cabeça de Lampião, e depois me emprestou o facão para mim cortar a cabeça de Maria Bonita. Nisso nóis fiquemos levantando a saia dela com a boca do fuzil, pra vê a caçola que era incarnada”.

E completa o carrasco:

- No borná de Maria Bonita tinha um pouquinho de ôro quebrado. Dentro de um pé de meia tinha uma base de meio quilo de ôro quebrado, além de volta, anel...”

Como Lampião terminou seus dias todo mundo sabe. Mas como viveu e morreu Zé de Neném?

O pouco que se sabe, Zé de Neném nunca sofreu assédio da polícia pelo fato de ter sido o ex-marido da “rainha do cangaço” e também nunca chegou sequer a conhecer Lampião – seu rival de alcova.

Relatam que deixou tudo para trás, casou novamente e reconstruiu sua vida; jamais deu entrevistas; migrou para São Paulo onde fez fortuna e virou industrial do ramo de calçados.

João Costa. Acesse: blogodojoaocosta.com.br Siga: @joaosousacosta (instagram)

Fotos. Benjamin Abraão.

Fonte: “Lampião Além da Versão, Mentiras e Mistérios de Angico”, de Alcino Alves da Costa

“Maria Bonita – Entre o Punhal e o Afeto”, de Nadja Claudino.

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