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quarta-feira, 17 de março de 2021

SINHÔ PEREIRA, LUIZ PADRE E VIRGULINO NA LIDA PARA DELMIRO GOUVEIA

Por João Costa

O cearense Delmiro Gouveia tombou a tiros de rifles em 10 de outubro de 1917, a ele historiadores atribuem profundas influências econômicas organizacionais, arrojo aventureiro e inovação a ponto de transformar um pequeno vilarejo, vila da Pedra, hoje município Delmiro Gouveia, num oásis de progresso econômico e industrial e que manteve sob seu guarda-chuva antes da vida bandoleira, três icônicos cangaceiros: Sinhô Pereira, Luiz Padre e Virgulino Ferreira.

Imaginemos vila da Pedra um lugar miserável dos homens e mulheres analfabetos, submetidos ao tacão de coronéis latifundiários, sendo bafejada com luz elétrica, água irrigada, estradas carroçáveis, escolas gratuitas e fossas sanitárias e fábrica com gabinete odontológico.

Foi para este lugar e em meio a estas transformações que homens acostumados à vida das armas, migrantes do sertão do Riacho do Navio, Pajeú de Pernambuco puderam compreender o modo de produção capitalista por meio de terceirização de serviços e comandos.

Foi neste reduto de progresso e mudança de hábitos, que Sebastião Pereira da Silva, o Sinhô Pereira desembarcou como agregado trazendo ao seu lado um primo que também se tornaria famoso no cangaço, de nome Luiz Pereira da Costa, o Luiz Padre, e o jovem Virgulino Ferreira da Silva, que se tornaria o “Rei do Cangaço”, todos na lida de almocrevaria.

Virgulino tinha 18 anos de idade, e ao chegar ao pequeno vilarejo para trabalhar como almocreve, já transitava ou flertava com dividendos advindos das armas.

O historiador Frederico Pernambucano de Mello, em seu magnífico “Apagando o Lampião – Vida e Morte do Reio do Cangaço, contextualiza esse universo progressista de Vila da Pedra e suas influências até para aqueles que já transitavam pelo banditismo rural àquela altura subserviente ao coronelismo, dominado pelo alcoolismo e desorganização.

Foi neste universo socialmente influenciado por Delmiro Gouveia, que Virgulino aprendeu e dominou modos capitalistas de associação comercial para o lucro e os usou para o crime, terceirização de ações, partilha de lucros advindos das razias com coronéis associados e policiais corruptos.

Foi uma virada no modus operandi do banditismo rural em que bandoleiros celerados deixaram de ser jagunços de coronéis e políticos.

Frederico P. de Mello exemplifica essas transformações, mostrando que Virgulino Ferreira, ao morrer na Grota de Angico, em 1938, coordenava dez subgrupos de cangaceiros em vários estados do Nordeste e que ele mesmo tinha sob suas ordens diretas 22 cangaceiros selecionados em função de suas capacidades guerreiras.

A exemplo de Delmiro Gouveia que terceirizava serviços, mão de obra, compra e transporte de algodão, Lampião copiou tudo isso e mantinha ao longo dos anos 30, uma “franquia” para condução da guerra entregues a homens firmes na liderança, implacáveis e leais no comando de subgrupos.

Corisco, Luiz Pedro, Moreno, Zé Sereno, Labareda, Português, Balão, Criança, Diferente e Juriti formavam o seleto círculo de lugares-tenentes de Virgulino, ou “franquiados” de Lampião.

Esses cangaceiros movimentaram somas altíssimas em dinheiro e joias, frutos das razias, venda de proteção a fazendeiros e garantia de inviolabilidade de seus latifúndios.

Virgulino a todos liderava com fornecimento de armamentos e munições novas, compartilhamento de planos e dividendos, e tudo isso sob o manto protetor mafioso de políticos, religiosos, chefe militares e até governantes.

Dada a esta capacidade Lampião se transformou em chefe de um poder paralelo nos estados da Paraíba, Bahia, Sergipe, Pernambuco e Ceará, onde o poder religioso do padre Cícero Romão associado ao poder político liderado pelo deputado federal Floro Bartolomeu, abriu caminho para esquisita legalidade do “Rei do Cangaço”.

Nesse tempo Lampião foi um paradoxo na vida nacional. Para combater a Coluna Prestes que cruzava os sertões do Brasil, o governo federal recorreu às milícias armadas por coronéis políticos, exatamente porque o Exército Brasileiro não tinha ânimo para combater ex-companheiros de farda.

Em Juazeiro do Norte o Batalhão Patriótico, a milícia armada por fazendeiros sob a influência do padre Cícero e Floro Bartolomeu, era composta por 360 soldados e 45 graduados do Batalhão de Caçadores do 11 Regimento de Infantaria do Exército Brasileiro, mas para reforço por critério de arrojo, combatividade e liderança, todo esse arcabouço legal recorreu a Lampião e seu bando.

Mas aqui já é outro conto porque para a História ficou a noção de que a patente de “Capitão” dada a Virgulino até podia ser ilegal; que o próprio Lampião caíra no “conto do vigário” e se deixara encantar pela legalidade, mas estava robusta de legitimidade, porque tudo isso se confundem tempos de guerra, especialmente num país dominado pelas injustiças, mentalidade escravocrata, violento, medieval inclusive.

E que assim permanece até os dias de hoje.

Acesse: blogodojoaocosta.com.br

Fonte “Apagando o Lampião – Vida e Morte do Reio do Cangaço, de Frederico Pernambucano de Mello.

Fotos. Delmiro Gouveia(E) Lampião(D).

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