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segunda-feira, 29 de maio de 2023

ANTÔNIO CONSELHEIRO: A LUTA CONTRA A OPRESSÃO

por José Gonçalves do Nascimento

“O homem era alto e magro... sua pele era escura, seus ossos proeminentes e seus olhos ardiam como fogo perpétuo. Calçava sandálias de pastor e a túnica de azulão... era impossível saber sua idade, sua procedência, sua história...”.

Este, o perfil de Antônio Conselheiro na visão poética de Mario Vargas Llosa.

Antônio Vicente Mendes Maciel (mais tarde conhecido como Antônio Conselheiro) nasceu no dia 13 de março de 1830, em Quixeramobim, então província do Ceará. Quando jovem, frequentou uma das poucas escolas existentes na região. Ali estudou Português, Aritmética, Geografia, Latim e Francês. Por esses tempos, já demonstrava interesse pela leitura da Bíblia.

Após longos anos de intensa peregrinação, aporta Antônio Conselheiro em Canudos, antiga fazenda de gado, situada às margens do rio Vazabarris. As terras ali eram úmidas e férteis, devido às águas do grande rio, o que proporcionava boa agricultura. A vegetação à base de arbustos e favelas favorecia a criação de bode. A pele deste animal chegou a ser exportada para o exterior. Em quatro anos apenas (1893-1897) o arraial aglomerou de 10 a 15 mil pessoas, sendo uma das maiores concentrações populacionais do estado da Bahia. Canudos era uma comunidade solidária. Ali cada um possuía de acordo com suas necessidades. Havia escola e serviço de saúde. O povo vivia decentemente e não dependia dos "coronéis".

Não demorou muito e Canudos começou a abalar a velha e ultrapassada estrutura rural. A “Canaã do Povo” corria perigo. Em novembro de 1896, tem início a perseguição contra a comunidade de Antônio Conselheiro. Com o propósito de construir uma igreja maior em Canudos, o peregrino negocia compra de madeira em Juazeiro. O material comprado e pago, não foi entregue no prazo determinado. A construção não podia ser interrompida. Os canudenses, então, tomam a iniciativa de irem, eles mesmos, a Juazeiro,a fim de conduzir a madeira até Canudos. A notícia chega à cidade san-franciscana e soa como um alarme aos ouvidos do juiz daquela comarca, Dr. Arlindo Leoni, antigo desafeto do Conselheiro. O magistrado alarmou por toda a cidade e vizinhança que os canudenses estariam preparando um saque à feira de Juazeiro. Era a oportunidade que Leoni esperava, para acertar contas com Antônio Conselheiro.

RESISTÊNCIA ÀS EXPEDIÇÕES

Sob pretexto de que a cidade de Juazeiro estava prestes a ser invadida por moradores de Canudos, Arlindo Leoni requisita do governador da Bahia, Luiz Viana, proteção policial, a fim de conter a suposta invasão. O juiz é atendido, e para Juazeiro é enviada a primeira expedição militar, que é derrotada pelos canudenses no combate de Uauá.

Imediatamente é organizada a segunda expedição que, sob o comando do major Febrônio de Brito, tinha 543 praças, 14 oficiais e três médicos. Essa expedição também não logrou êxito. Foi batida pelos sertanejos, que se valiam de armas rústicas, como espingardas, facões, machados.

Para comandar a terceira expedição contra Canudos, escolheram “a maior estrela do florianismo” – na expressão de José Antonio Sola – o coronel Antônio Moreira César, já famoso por ter liquidado a Campanha Federalista de Santa Catarina. Dita expedição reunia 1.300 homens. Também foi derrotada pelos seguidores de Antônio Conselheiro. Moreira César morreu no início dos combates.

A quarta expedição, destinada a fechar o cerco contra Canudos, foi dividida em duas colunas. Uma coluna partiu de Sergipe, a outra de Monte Santo. A primeira, comandada pelo general Savaget; a segunda sob o comando do general Silva Barbosa. Tal expedição contava com batalhões de 11 estados da Federação.

Depois de obstinada resistência, tanto do lado do Exército, como do lado dos sertanejos, Canudos, finalmente, é derrotada. Foi quase um ano de resistência. Tombou por completo no dia 5 de outubro de 1897. Antônio Conselheiro morreu no dia 22 de setembro. No dia 06 de outubro seu corpo foi exumado, decapitado e seu crânio levado a Salvador, a fim de ser cientificamente examinado.

Euclides da Cunha, jornalista que acompanhou o desenrolar da quarta expedição, escreveu no final d'Os sertões”, o seu livro vingador: “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5 ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados”.

Poeta e cronista

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