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segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

A MEDICINA POPULAR SERTANEJA CUROU O CANGACEIRO NOVO TEMPO

Manoel Belarmino

Aqueles tempos, na década de 30 do século passado, quem morava nos sertões do São Francisco não sabia o que era encontrar um médico. Médico era coisa rara na região. Nem enfermeiro, nem agente de saúde. Não existia nenhuma politica governamental de saúde que chegasse a esses sertões.
O homem e a mulher sertaneja cuidaram de buscar nos conhecimentos herdados dos negros e dos povos originais as saídas para o enfrentamento às doenças, aos males. Os remédios caseiros tinham como fonte os minerais, a flora e a fauna da caatinga.
Os sertanejos conhecem cada planta, cada bicho da caatinga e cada rocha. Conhecem as plantas, os bichos e os minerais pelo nome. E sabem para que servem. São remédios e são alimentos.
Em cada comunidade antiga, ali se encontrava um rezador, um curador, um benzedor. Quem, que viveu ainda no fim do século passado, não conheceu um curador se cobra? Quem naquele tempo não conheceu um rezador de combate a incêndio? Aqueles homens de reza forte tinham poderes sobrenaturais que dominavam os animais, o vento e o fogo. Também, os homens das rezas fortes tinham o poder de se tornarem invisíveis, se "invurtavam".
Muitos cangaceiros e cangaceiras do tempo do Cangaço de Lampião, quando ficavam doentes eram tratados e curados pela medicina popular da caatinga. Como exemplo, podemos citar, entre tamtos casos: a estadia do terrível Zé Baiano na casa de seu Luiz Pereira e Dona Maria Rosa no Salgadinho, em Paulo Afonso; e o caso de Novo Tempo que foi curado dos tiros, que deixou quase morto, através de Tonho Nicácio, no Alto Bonito, em Poço Redondo.
Quando Zé Baiano ficou muito doente com um grande tumor que o impedia de andar, o cangaceiro ficou ali na casa do coiteiro por mais de duas semanas sendo cuidado e tratado com ervas e meizinhas da caatinga. Quando ficou bom, deixou a casa do coiteiro levando Lídia. E o outro caso de cura


Quando o cangaceiro Novo Tempo escapou do combate entre o bando de Lampião e a volante Zé Rufino na Lajinha, na Lagoa de Domingo João, em Canindé de São Francisco, foi parar nas terras da Fazenda Paus Pretos de Antônio Cacheiro. Novo Tempo foi atingido por alguns tiros nos braços e em outras partes do corpo. Foi varado à bala. Saiu da área do tiroteio e chegou aos Paus Pretos mais morto que vivo.
Novo Tempo foi avistado por um auxiliar do coiteiro Zé Vaqueiro, o Francelino de Poço Redondo, filho de Manoel França, quando se aproximava da sede da Fazenda Paus Pretos. Zé Vaqueiro era vaqueiro ali. Para se livrar de Novo Tempo, o vaqueiro resolveu acabar de matar o já quase morto cangaceiro. E assim o fez com um tiro no ouvido do cangaceiro. Mas o cangaceiro é duro de matar ou duro de morrer. Enquanto Zé Vaqueiro saiu do local para pegar algumas ferramentas para enterrar o corpo de Novo Tempo, o cangaceiro foge se arrastando e vai parar nas proximidades do Riacho Novo, o mesmo riacho que recebe as água do Riacho Quartavo. E ali fica escondido "quase morto", mas teimando em viver. Quando o Zé Vaqueiro retorna já na boca da noite não encontra o corpo do Novo Tempo. O morto havia desaparecido. Procura, procura, e nada do corpo. Sumiu misteriosamente. Zé Vaqueiro já estava nas proximidades da Fazenda Alto Bonito de Antônio Soares (Tonho Nicácio).
No outro dia de manhã, as filhas de Tonho Nicácio foram caçar lenhas nas proximidades do Riacho Novo. Aí ali escutaram alguns gemidos. Correram para avisar ao pai. Tonho Nicácio, já desconfiado que poderia ser algum cangaceiro ou volante ferido foi ao local indicado pelas filhas e encontrou o cangaceiro Novo Tempo numa situação de mais morto que vivo. Era um cabra cangaceiro conhecido, um filho de Poço Redondo, irmão da cangaceira Sila e dos cangaceiros Mergulhão e Marinheiro.
Antônio Nicácio, que também era pai da cangaceira Áurea, e dos Soares do Maranduba, acolheu em sua casa o cangaceiro Novo Tempo. E ali, com urgência, fez.todo o tratamento do cabra com as meizinhas das plantas medicinais da caatinga. Tudo foi feito, conforme a medicina caatingueira e as rezas fortes do homem sertanejo na casa de Antonio Soares. Casca de paus da caatinga, sangue cru de pinto caipira, lambedores, banhos.
Depois de duas semanas de tratamento, internado na casa do mateiro e vaqueiro Antônio Soares(Tonho Nicácio), Novo Tempo já estava recuperado e em condições de retornar ao bando. E assim o fez. Quando chegou no coito, onde estava o seu grupo liderado por Zé Sereno, foi uma festa. Todos ficaram surpresos e felizes.
Quando Novo Tempo contou tudo o que lhe ocorreu e falou sobre a traição do coiteiro Zé Vaqueiro, os seus parentes cangaceiros e o chefe do grupo Zé Sereno decidiram vingar. E assim o fizeram mandando o coiteiro traidor nas Pias das Panelas, nas margens do Riacho do Quartavo. O corpo do Zé Vaqueiro ficou ali estendido, morto, rasgado a punhal. Insepulto.
Novo Tempo escapou de um tiroteio que o deixou varado a balas, escapou da traição do coiteiro Zé Vaqueiro que o quis matar com um tiro disparado no ouvido, foi curado pelos remédios caseiros de Tonho Nicácio e escapou, no fim do Cangaço, do fogo de Angico.
Novo Tempo morreu de velho em Minas Gerais.

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