Por José Mendes Pereira
Vi Dandara (era assim que eu a
chamava), pela primeira vez deitada sobre uma pedra de granito na área de sol do
meu quarto. Pelo seu tamanho, acho que Dandara ainda estava na sua plena
infância, vivendo no meio de muitas que com ela viviam. Eu não conhecia ninguém
da sua família, mas certo dia, a vi acompanhada da sua mãe que a
protegia dos perigos do mundo. Ali, cada passo que ela dava, a sua mãe
também dava, como quem se estivesse ensinando por onde ela deveria seguir a sua
trajetória da juventude, que logo, logo, não demoraria chegar.
O dia todo Dandara ficava sobre a
pedra de granito da área de sol do meu quarto, e cada vez que eu chegava no
ambiente restrito, eu a via me observando dos pés à cabeça, sabia que a
qualquer momento eu iria tomar banho.
Eu nunca fiz nada para que
Dandara fosse embora dali, e com a continuação do tempo eu me pus a conversar
com ela. Mas a Dandara nunca abriu nem se quer a sua boca para me responder.
Também pudera! Ela não falava, não ria e nem sorria, apenas comia, bebia e
se divertia como qualquer criança saudável a todo instante.
Quando eu pegava a toalha e
sabonete para tomar banho, às carreiras, Dandara saía de cima da pedra de
granito, e era a primeira a entrar no banheiro, e ficava aguardando que eu
ligasse o chuveiro. E assim que a água deslizava sobre o chão do banheiro ela caía no banho, correndo de um lado para o outro, feliz na vida, nadando naquela
água que corria para o ralo do piso, e com isso, molhava todo o seu corpinho.
A felicidade de quem está na
infância tudo é igual. Ninguém tem comportamento diferente. Toda criança sente
feliz quando brinca com qualquer coisa, até mesmo um banho de água fria faz rir
e sorrir exageradamente. Dandara não ria e nem sorria, mas era igualzinha a
todas as crianças do mundo, se sentia feliz no meio daquele banho de água fria.
Mas como nem tudo é mar de rosas
certo dia ao entrar no quarto não encontrei Dandara. Pus-me a invocá-la, mas
Dandara não deu nem sinal de vida. Procurei-a por todos os lugares do quarto,
até mesmo por debaixo da cama, mas não estava lá. Parecia que ela tinha
ido passear ou se divertir com as suas coleguinhas.
Fiquei ali interrogando a mim
mesmo: Será que Dandara foi levada pela sua mãe, que a poucos dias eu a vi
seguindo-a como se estivesse a protegendo? Mas não. A sua mãe já tinha
sido morta por um perverso assassino. Vi o seu corpo em plena rua, e não fiquei
com dúvida nenhuma, aquele corpo era da mãe da Dandara. E continuei procurando, e bem melhor que eu não tivesse a procurado, porque, a dor foi
grande quando a vi morta com as suas vísceras de fora e com os olhos fora da
sua cabeça.
Dandara era simplesmente uma Pererequinha ainda muito jovem, e um
pé maldito pisou sobre ela, tirando-lhe a vida para sempre.
Oh, que saudade da minha amiguinha! Ela se foi para sempre. Adeus, Dandara!
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