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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Fogo da Abóbora - 82 anos 

Por: Rubens Antonio

        A 07 de Janeiro de 1929 travou-se o combate de Abóbora, povoado de Juazeiro, BA, lembrado pela morte de Mergulhão, (foto) cujo nome real era Antonio Juvenal da Silva, mas que aparece citado também, na literatura sobre o Cangaço como Antônio Rosa. Da visita ao local pode colher alguns depoimentos e bater algumas fotos.

O cangaceiro Mergulhão

          Antecipando algo do material, observo que a povoação está muito mudada, em relação ao contexto de então, mas há muitos elementos reconhecíveis e outros identificáveis através de testemunha ainda viva dos eventos.

          Sabemos que o fogo se deu quando a volante chegou e os cangaceiros dançavam em uma casa, num forró.

          A causa do forró, na verdade, era alheia aos cangaceiros. Era festejo local pela construção de uma nova "armação" para a feira do povoado, que, na verdade, não passava de uma arranjo descontínuo e desordenado de casas mais esparsas.

           O cemitério local foi o sítio de maior destaque, onde morreram os dois policiais, soldados José Rodrigues e Manoel Nascimento.


Segundo a autópsia:


           "José Rodrigues, com um ferimento com orifício de entrada na região dorsal superior e orifício de saída sobre o mamillo direito; Manoel Nascimento com três tiros; um que penetrava entre a 6ª e a 7ª lombar, com destruição das anças intestinais e orifício de saída sobre a crista illiaca com fractura; outro na região anterior direita do torax e outro na região cervical esquerda."

         Na imagem acima vemos com o número "1" o sítio em que se situava o antigo cemitério. Ele foi eliminado com a reurbanização. As lápides foram retiradas, mas os restos ficaram no local. Aí, portanto, "sob a rua", é que estão os restos dos soldados.

          Em "2" temos o local das casas em que dançavam os cangaceiros.

        Em "3" estão algumas lajes rochosas bem baixas, mas que "apadrinharam" bem os cangaceiros durante o tiroteio.

         Em "4" está a sepultura, perdida, em um quintal de casa, uma propriedade particular, do cangaceiro Mergulhão. Segundo depoimentos do dono do terreno e de um outro senhor, havia apenas algumas pedras e uma cruz de madeira, que ficou velha e caiu, sem ser substituída.


Tira-gostos:


          "BUM! PÁ! PÁ! Foi papoco pá peste! E isso de que a puliça abriu a cova do cangacêru é mintira! Só tiraram os mininu da puliça mesmu e trabaiaru e colocaru di vorta... O cangacêru mexeram nele não! Ficou a cova lá fechadinha!""Aquele Calais! Êta cabra faladô! Mas nas ora dos papôco, mais dispois, ô cabra pra corrê! Faladô prezepêru... mas covarde que nem só ele mesmu!"

          "E no tiroteio que teve lá adipsois? Na curva? Foi anos depois... Eu ainda lembro da curva... O Azulão era uma peste muito bom de pontaria... Acertô bem na testa da burra... ô pontaria do cão!""Sabe o que eu achei ingraçado? Adispois de muitos anos, aqui, pra fazê esta rua nova, sabe quem trabaiô? o Bem-ti-vi... que foi também cangacêru... Trabaiô pra fazer a terraplenagi... Era muito sorridente... Simpático... Foi até lá.. Oiô a sepultura do Merguião... Falou nada não... Só ficou quietu oiano..."

          Os detalhes do evento consegui lá mesmo em Abóboras a partir do relatório do tenente Othoniel.

          Sobre as descrições dos cadáveres, a partir do exame do legista Anísio Teixeira.

Edilson dos Santos, proprietário do terreno, aponta a localização
da sepultura do cangaceiro Mergulhão.
 
         O esquema que fiz acima é uma indicação relativamente precisa... Posteriormente publicaremos outros depoimentos; Tomei dois, porque agregavam praticamente tudo o que os outros diziam...
 
          São o do senhor "Joãozinho", que presenciou o fogo... está quase cego, mas enxergando o suficiente para, acompanhado do filho, me conduzir e indicar o sítio do cemitério... e o Manoel, que é um jovem que herdou o terreno onde foi sepultado Mergulhão... 
 
 Rochedo em que Lampião e Ezequiel se apadrinharam para disparar contra a volante, que se encontrava no Povoado de Abóboras.  A posição da volante era aproximadamente a da caixa d'água vista ao longe, entrincheirada no antigo cemitério.
 
João Alves Guimarães apontando localização da entrada do antigo cemitério.
 As pedras diante dos seus pés são do antigo portal.
 
            A terraplenagem e a pavimentação foi feita somente com a retirada das lápides. Portanto, os restos dos sepultos ainda estão aí. Próximo à quina branca que se vê à esquerda estão sepultados os restos de um dos soldados mortos no tiroteio. Seguindo-se em frente, em direção à rua, encontram-se os restos do outro soldado.

Abraços!
Rubens Antonio é Professor e palestrante sobre História Geológica da Bahia, Antropologia, Geologia, Epistemologia, Metodologia do Trabalho Científico, História da Ciência.


CRÉDITOS: Artigo pescado na comunidade "Cangaço, discussão Técnica" de compadre Ronnyeri.
 
 
Foto de Mergulhão cortesia de Ivanildo Silveira.

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