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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Contou-me a minha avó

Por: José Mendes Pereira


             Não posso afirmar de certeza se isto aconteceu mesmo, mas também não me arrisco em dizer que foi conversa inventada pela minha avó. Até onde eu sei é que Herculana Maria da Conceição (mãenanana, minha avó), era uma grande rendeira, mas historiadora e mentirosa, nunca ouvi falar. Ela deve ter escutado de alguém.

Bando de Lampião

             Certo dia, dizia Mãenanana, Lampião e seu bando se encontravam arranchados bem próximos a um rio no Estado de Sergipe. E por ironia do destino, um senhor chamado Lauriano que andava procurando caças para alimentar os seus filhos, saiu no local onde se encontrava o bando. Logo os cangaceiros o rodearam e começaram as suas humilhações contra ele. Cuspiram e surraram o infeliz.

No "canion" do Rio São Francisco
                 
              Lampião que descansava encostado ao tronco de uma frondosa árvore, apenas observava as maldades dos cangaceiros contra o pobre infeliz caçador. E em seguida levantou-se dizendo-lhes:
              -É mió ixecutá-lo do qui ficarim  maltratando um home qui ainda nada feiz cronta nóis.
              E apoderando-se do seu maldito rifle, que estava ao seu lado, ordenou-lhes que colocassem o marcado para morrer   em posição de execução.
             O homem ajoelhou-se  ao pés do poderoso carrasco rogando-lhe:
             -Senhor, pelo amor de Deus não me mate! Eu deixei em casa três filhinhos pequenos para criar, e minha esposa é paralítica dentro de uma rede, sem condições de ralar para terminar de criá-los. Sem eu cuidando deles, eles e a sua mãe vão morrer de fome senhor!

Lampião
             
               Apesar de sanguinário, Lampião condoeu-se da lastimação do homem dizendo-lhe: 
               -Eu lhi faço um desafio cabra! Se ocê tivé sorte na vida num vai morrê não...         
               E olhando em direção a um baixio bem próximo ao coito, onde lá repousa  um rio milenar, perguntou-lhe com ignorância: 
               - Tá vendo aquela catinguêra ali seu peste? 
               -Estou sim senhor! Estou! - Respondeu o pobre homem.
               -Ocê vai andando até a catinguêra. Conde se impariar cum ela, corra, qui a partir daí é qui eu cumeço a atirá. Num corra antes purque eu atiro e ocê morre logo.
                  Pela proposta feita ao pobre infeliz, Lampião não tinha intenções de matá-lo, já que não havia motivo nenhum para executá-lo. O seu desejo era que ele escapasse das balas e fosse criar os seus filhinhos.                 
              O homem conhecia bem a região. Da catingueira até ao rio, tinha uma ladeira. Mas quando ele se emparelhou à catingueira, em vez de correr, deitou-se e saiu rolando em direção ao rio.
              Lampião saiu correndo atraz dele e atirando para cima.
              Mas o homem medroso, querendo escapar da morte, caiu dentro dágua, submergiu e adeus Lampião! 
                - Maiz qui sujeitim intiligente gente! - Disse Lampião aos seus comparsas.             
             - O safado mi pegô de chei.  - Disse ele sorrindo da astúcia do caçador. 

Observação:


As fotos foram inseridas 
apenas para dar mais cor e fantasiar a historinha. 

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