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quarta-feira, 28 de março de 2012

UM PÔR DO SOL (Crônica)

   Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

UM PÔR DO SOL

Na mesma hora do entardecer, o pôr do sol é quase sempre o mesmo na paisagem ao fundo. Contudo, será sempre um pôr do sol diferente para cada um que está do lado de cá, em cima das pedreiras, presenciando a magia dessa despedida.
O pôr do sol sempre é mais belo e brilhante do que o seu nascer. O vermelho e o alaranjado tomam conta de tudo, cores com muitos significados, dependendo do olhar e dos sentimentos de quem mira o horizonte nesse período que é o mais reflexivo do dia.
Diz-se ocaso, diz-se poente, diz-se da cor da atmosfera durante o crepúsculo vespertino. O pôr do sol é sempre o momento em que o sol desaparece no horizonte ou se põe e que antecede a noite. Mas creio que não seja somente isso...
Indubitavelmente que há uma mudança no espírito daquele que vai exclusivamente apreciar aquela dança de luz que vai mudando de tonalidade e sumindo aos poucos. Antes mesmo de sentir de perto a mutação colorida, logicamente que basta mentalizar aquele quadro para que o espírito procure se adequar ao que sentirá mais tarde.
Pôr do sol é visão e paisagem que lembram viagem, partida, adeus, uma saudade infinda. É quadro emoldurado por doces ou tristes recordações, momento de relembrar e reviver tantos momentos idos. Como aquele vermelho abrasador desperta a paixão, o desejo, o querer, o corpo e o lábio da mulher amada. E como aquele amarelo alaranjado faz lembrar repouso nos braços de quem tanto ama.
Mas também é fogo, é brasa, é ardência por dentro, volúpia tomando conta do ser, vontade de tocar com a mão aquele matiz candente e sentir muito mais do que o calor. E se esse momento de cor vier acompanhado de uma leve brisa, de uma revoada de passarinho, de uma cantiga das folhagens da natureza, então dificilmente o indivíduo ficará imune à lágrima, ao arrepio, ao aperto no coração.
Agraciados divinamente aqueles que podem ver o sol se pondo lá por trás das águas do mar ou do oceano. De cima da montanha às margens, o olhar irrompe a areia molhada da praia, remove as conchas que se avolumam em pensamento, corre por cima das águas, vence as ondas e persegue de braços abertos o inatingível.
Ora, desde a beira da praia começa o rastro avermelhado, alaranjado, mistura, dançando sinuosamente por cima das águas e nesse passo vai seguindo até onde o olho avista. E se o olhar pudesse tomar da natureza molhada o seu barco e nele singrasse em busca da casa do sol poente, ainda assim quanto mais seguisse mais seria tomado pelas cores, até elas sumirem sem tocar num seu raio.
O mesmo encanto encontra aqueles que de uma montanha se põem em vigilância para acompanhar o crepúsculo por trás do monte mais além. Por trás das serras o pôr do sol vai surgindo segundo o desenho da natureza. Estando por trás, o olho avista no cume o dedo de Deus, uma mão erguida para os céus, uma face contrita em oração. Ora, o monte está ali imutável, mas tendo o sol ao fundo e um olhar à sua frente, tudo de repente pode se transformar naquilo que o pensamento desejar.
Mas muitas vezes o pensamento se contenta apenas em enxergar a paisagem, encontrar o real significado daquele momento, e depois se entregar à prece, à oração, ao diálogo consigo mesmo, à fruição espiritual. Em pé ou ajoelhado, de braços sempre abertos naquela direção, o olhar se fecha para a mente enxergar seus anjos, seu Deus, sua sacralidade, um rosto adorado, uma face amada.
E ainda de olhos fechados o pôr do sol vai mudando de cor segundo os sentimentos despertados. É uma viagem, um encontro, um retorno. E quando o olhar se abre e olha além já não mais encontra nenhuma ponta de luz. O sol já sumiu, já desapareceu. A luz agora está retida na mente e no espírito, como um renascimento a cada dia.
A noite começa a chamar seu pintor. E ele coloca um amarelo bonito, dourado, imenso, lá no alto da tela escurecida...

Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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