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domingo, 8 de julho de 2012

Horácio Novaes e o Coronel Santana

Por: Bosco André
Pesquisador Bosco André, notável contador de histórias e grande memorialista do cariri cearense

Missão Velha ainda não possui comarca; era o início do século passado; respondiam pelo município, Juízes da Comarca de Crato e Barbalha. Dentre esses, destacaremos o Dr. Antonio  Olímpio da  Rocha,  que em sua judicatura, ocorreu  um fato pitoresco, envolvendo  o magistrado e o famoso Cel. Santana,  da Serra do Mato; então  ex-Intendente   de Missão Velha (1903  até 1913 e de 1914 a 1917).

cariricangaco.blogspot.com
Houve um homicídio em que foi vítima o infeliz Cangaceiro  Cobra  Preta, esse, afilhado  de   batismo  e  cangaceiro do   Cel. Santana. Na época não existia cercas divisórias entre as propriedades e o gado era  pastoreado solto  em cima da Serra do Araripe. Começaram a  roubar gado em cima da Serra  e o Cel. Santana, desconfiava  que  o  autor dos roubos, tratava-se de  um  seu   desafeto, Delegado de Porteiras, Horácio Cavalcante, mais conhecido por Horácio Novais. O Cel. Santana na época já  havia perdido  o  poderio político, entretanto mantinha ainda grande força na região e aguardava  Horácio  Novais, "pisar novamente na Gameleira!!!"
Foi aí que o Cel. Santana, mandou que Cobra Preta, se infiltrasse no  Grupo de Novais, afim de matá-lo. Como por ironia do destino,  sob  o   novo  comando,  o cangaceiro foi  melhor aquinhoado talvez,  recebendo melhor tratamento e lá ficou.   Novais,  como desafio ao Cel.  Santana,  começou  a visitar  a  feira  da  Gameleira (o pé de Gameleira, ainda hoje existente) a mesma se realizava debaixo da grande árvore, onde os feirantes comercializavam os seus produtos, inclusive improvisando os caixões para acondicionamento das suas mercadorias nas raízes expostas da árvore.
Gameleira; testemunha secular dos tempos do cel. Santana da Serra do Mato
O Cel. Santana comentava em rodas de sua convivência: "nesses  dias,  Horácio Novais,  vem bater  aqui  na  Serra  do  Mato!!! " (local  da  sua  moradia). Decorridos alguns meses, o Cel. Santana,   mandou  seduzir Cobra  Preta, para voltar para  o seu grupo, conseguido o intento, poucos dias depois, Cobra Preta, foi morto  no sitio Talhado, altas horas da noite, quando foi invadida sua própria casa.  Instalado o Inquérito Policial e ao chegar a Justiça, foi intimado a depor o Cel. Santana,  perante a autoridade Judiciária. Tendo a incumbência de ouví-lo,  a pessoa do Dr. Antonio Olímpio da Rocha, então Juiz de Direito do Crato.

O magistrado ao chegar ao Cartório do Tabelião José Jácome, ali já  se encontrava  o  Cel.  Santana,  em atendimento à sua intimação.  Em Termo de  Assentada, para tomada do depoimento de Santana, o Juiz, após  as  advertências  do    estilo, perguntou ao Cel. Santana, se "a sua pessoa tratava-se de Antonio Joaquim de Santana?", tendo o Cel. Santana, respondido "tratar-se do Cel. Antonio Joaquim de Santana", ao que Juiz, o interpelou por três ou  quatro vezes, se a pessoa ali presente, tratava-se de Antonio Joaquim de Santana, tendo o Cel. Santana, repetido por todas as vezes, de que se tratava do Cel. Antonio Joaquim de Santana. Tendo o Juiz, dito em tom de ameaça, que podia mandar prendê-lo, ao que o Cel. Santana, respondeu: "Sei Doutor, mais se o Senhor fizer isso: “Vai cavar o chão com as costas!".  Neste momento  o  Juiz,  retirou-se  da  Sala  das  Audiências    e  imediatamente  ausentou-se da Vila. 

O Processo só teve seu término no ano de 1926, entretanto a condenação  veio para o famoso Horácio Novais e seus cangaceiros:  Pedro Dedão e Zé Sanção; funcionaram como componentes   do  Corpo de Sentença deste  Julgamento, dentre outros, os Srs. José Gonçalves  de  Lucena,  Crispim de  Oliveira  Rocha, Pedro Silva Lima e  José  André  Gomes  (Zeca André); pai do autor destas notas e pesquisa.

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