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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A moda que vem do cangaço

Por: Thabata Alves

Lampião e Maria Bonita, o casal que ditou moda no cangaço

Lampião e  Maria Bonita se tornaram mitos em todo o nordeste brasileiro ao misturar riqueza, extravagância e barbárie. Para o ”Rei do cangaço”, vestir-se bem era essencial para triunfar. Ele foi o primeiro cangaceiro a cuidar da sua imagem, aí reside sua originalidade. A partir do estilo ”criado” por Lampião e adotado por seu bando era reconhecido entre os demais. O vaidoso cangaceiro tinha um estilo pessoal e costumava entre outras roupas e acessórios usar um colar de prata e ouro, chapéus bordados, lenços de seda inglesa ou em tafetá, broches e camisas com botões de ouro.

Sempre preocupado com a aparência – bem antes de sua entrada no cangaço, Lampião costurava suas roupas e sabia bordar a máquina com perfeição – e soube elaborar um personagem singular para ele, utilizando efeitos visuais para valorizar a vida que levava com seu grupo e transmitir a imagem de bandido rico e poderoso que exercia fascínio e respeito sobre o povo do sertão.

Fotos dos cangaceiros Dadá e Corisco

Dadá, mulher de Corisco, companheiro de Lampião, teve papel importante na história do cangaço, não só por participar ativamente das lutas, mas, sobretudo por ter sido a “estilista” dos cangaceiros. Ela mudou radicalmente os motivos e a confecção das roupas e acessórios usados pelo bando.

A partir de 1932, lançou a moda dos motivos bordados em couro branco sobre os chapéus – foi a criadora da famosa estrela de oito pontas -, das flores em tecido colorido bordadas sobre as bolsas, dos peitorais e dos cinturões largos e de couro.

A nova indumentária criada por Dadá era também utilizada para diferenciar status e poder. Os motivos e as estrelas dos chapéus variavam de um cangaceiro para outro e permitiam reconhecer a sua importância dentro do grupo.

Geralmente, o lenço dos cangaceiros era feito em seda inglesa ou em tafetá francês e traziam sempre monogramas. O lenço de Lampião era em seda vermelha, bordada nos quatro cantos, fixado por diversos anéis – geralmente de ouro – em volta do pescoço. As bolsas bandoleiras eram feitas em tecidos resistentes e tinham vários bolsos fechados por diversos botões, com a parte externa ricamente bordada com motivos florais.

Enquanto os cangaceiros usualmente vestiam uma camisa cáqui ou azul, Lampião, como chefe, às vezes se diferenciava, usando camisas listradas ou estampadas, com botões de ouro. As calças de cintura alta eram geralmente curtas, obrigando os cangaceiros a usar tornozeleiras em couro e ornamentadas com botões e bordados para proteger da vegetação espinhenta. Por causa também da vegetação, os cangaceiros usavam luvas; as de Lampião eram bordadas.

Mesmo os objetos mais simples eram enfeitados, por exemplo, o cantil de alumínio de Lampião era recoberto por tecido bordado. As bainhas dos punhais, as cartucheiras, as alças dos fuzis completavam a riqueza dos trajes. Até os cães dos cangaceiros não escapavam a essa moda de ostentação: Dourado, o cão de Lampião usava uma coleira feita de ouro e prata.

As companheiras dos cangaceiros adaptaram-se a esse novo estilo de vestimenta. Havia dois tipos de indumentária feminina: a roupa típica das mulheres dos cangaceiros, usada durante as longas caminhadas na caatinga; e um vestido à moda da cidade, que as mulheres usavam geralmente nos refúgios, quando sabiam que estavam protegidas das forças policiais e podiam desfrutar de algum descanso.

A estética da extravagância de Lampião e seus cangaceiros já influenciou muitos estilistas. Zuzu Angel apresentou em seu primeiro desfile em Nova York, em 1970, uma coleção inspirada em Maria Bonita.

Em 2002, o universo do cangaço inspirou Tufi Duek e as roupas e acessórios da “Forum” foram enfeitados por pespontos ou tachas que recriavam os desenhos dos artesãos da caatinga. Amir Slama, da Rosa Chá, e Ronaldo Fraga também já se deixaram seduzir pelo estilo do cangaço brasileiro.

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