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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Expectativa quanto... Aos ventos que virão - Publicado em 2010 no http://lampiaoaceso.blogspot.com

Por Alcino Alves Costa
Aderbal Nogueira e Alcino Alves Costa

Poço Redondo está sendo palco da filmagem do longa metragem “Aos ventos que virão”, filme que tem em Hermano Penna o seu diretor, ainda André Lavener como diretor fotográfico e Ana Clara Rafaldi, na condição de produtora executiva.

 
Poço Redondo, terra querida do mestre Alcino.

O filme é estrelado pelo ator Rui Ricardo Diaz, aquele mesmo que fez o papel do presidente Lula no filme sobre a sua vida, ainda pelas atrizes globais Neuza Borges e Emanuelle Araújo, além do nosso sergipano Antônio Leite e outros atores da Bahia.

Este é o terceiro filme que Hermano Penna faz em Poço Redondo. Anteriormente, na década de 70, aconteceram duas filmagens em nosso município: “Mulher no cangaço” e “Sargento Getúlio”, este teve como ator principal o lendário Lima Duarte que passou alguns dias em nosso município, nos dando a honra de sua ilustre presença em nossa cidade.

Foi naquela época que Hermano, ao ler o livro de minha autoria “Lampião além da versão” ficou encantado com a história de Zé de Julião, no capítulo intitulado “Zé de Julião – a grande vítima do destino”.

Aquela comovente epopeia do moço de Poço Redondo nunca mais saiu da cabeça do extraordinário cearense do Crato, porém radicado há muitos anos em São Paulo. Hermano havia jurado consigo mesmo que um dia iria levar para o cinema aquele extraordinário épico de um homem que viveu uma vida de terríveis provações até ser assassinado naquele lutuoso dia 19 de fevereiro de 1961.

Zé de Julião é um famoso e saudoso filho de Poço Redondo. O seu pai, Julião do Nascimento, era o único homem daquele então arruado das brenhas sertanejas de Sergipe, possuidor de muitos bens, de vez que era proprietário de várias fazendas e um rebanho bovino avultado. Mesmo assim, o filho do fazendeiro, então recém casado com Enedina, numa decisão de extrema infelicidade, porém temeroso pela perseguição que as volantes lhe moviam, ingressou no bando de Lampião, levando consigo a sua querida esposa, que perdeu a vida ao lado de Lampião, Maria Bonita, e os demais oito companheiros no célebre cerco à Grota de Angico pelo tenente João Bezerra da Silva.

Os anos se passaram. O projeto jamais saiu da cabeça de Hermano. Eis que, após muita luta e sacrifício, o sonho está sendo realizado. As filmagens tiveram seu início na semana passada, dia 19. O filme não segue propriamente a história e os acontecimentos da vida de Zé de Julião, segue o seu próprio caminho tão peculiar nos enredos e produções cinematográficas. Os nomes foram mudados. Zé de Julião passou a ser Zé Olímpio, e Enedina se tornou Lúcia. Enedina não vai morrer, ela acompanhará o marido até a sua morte em 1961.

O enredo do filme é emocionante. Por que “Os ventos que virão”? Vivia-se a esperança de Brasília, o então novo eldorado brasileiro. Naquele chão goiano estava sendo construída não só uma nova capital, mas as aspirações e os desejos de um povo. Recuperar a sua vida de empreiteiro naquele gigantesco canteiro de obras passou a ser o sonho de Zé de Julião, o nosso Zé Olímpio do filme. Aquela nova vida passaria a ser os ventos benéficos do futuro do homem que se tornou a grande vítima do destino. E assim, em sua sensibilidade artística, Hermano colocou o título “Aos ventos que virão”, aliás que nunca chegaram para Zé de Julião, na película por ele produzida.

Deixando de lado a fantasia do filme que nasceu da mente arejada de seu produtor, necessário se faz falarmos um pouco da verdadeira história do real personagem que fez florescer o enredo de “Os ventos que virão”.

Zé de Julião, nasceu José Francisco do Nascimento, naquele dia 19 de abril de 1919. O seu pai era um abastado fazendeiro para os padrões de Poço Redondo. Ainda muito moço contraiu matrimônio com uma parenta de nome Enedina. Na primeira quadra do ano de 1937 foi para a companhia de Lampião, levando ao seu lado a sua jovem esposa. No cangaço recebeu o nome de Cajazeira.

Zé de Julião

No pandemônio da Grota de Angico, vamos encontrá-lo naquele inferno. A sua esposa ali perdeu a vida. O cangaço morreu e Zé de Julião, após casar com uma irmã de Enedina, uma moça chamada Estela, arribou para as terras do sul, indo residir em Nova Iguaçu, no Estado do Rio de Janeiro.

Com a morte do pai foi obrigado a retornar ao Poço Redondo que ele tanto amava com a finalidade de cuidar dos bens deixados pelo genitor. Poço Redondo é emancipado em 1954. Zé de Julião se candidata a prefeito. A eleição terminou empatada entre ele e o seu opositor Artur Moreira de Sá. Por ser mais velho Artur ficou com os louros da vitória.

Na eleição de 1958 voltou a ser candidato. No entanto, uma medida compreensível da justiça eleitoral desgraçou a sua vida e ela chegou com a obrigação de se cadastrar todos os eleitores para adquirir novos títulos. Esta nova lei foi à desgraça de Zé de Julião. Nenhum de seus adeptos recebeu seu título.

Desesperado, no dia da eleição roubou as urnas. Foi perseguido como se fosse um cão danado. No dia 19 de setembro de 1959 foi preso e recambiado para a Penitenciária do Estado, em Aracaju. Após ganhar a sua liberdade, carregando o sonho dos ventos benéficos de Brasília, viajou para a nova capital. Eis que, misteriosamente, no aeroporto de Salvador, na Bahia, alguém cujo nome a história desconhece, o convenceu a não seguir a viagem tão sonhada para seguir o seu destino de dor e sofrimento, retornando ao Poço Redondo, aonde foi assassinado naquele dia 19 de fevereiro de 1961.


Que o nosso Hermano Penna, ao lado de sua competente equipe e de seus atores e atrizes tenham muito sucesso neste “Aos ventos que virão”, pois ele faz parte de nossa história sofrida e ao mesmo tempo bela deste tão amado Poço Redondo.

Em tempo: Você, meu leitor amigo, prestou atenção na repetição misteriosa do número 19 na vida e no destino de Zé de Julião? Nasceu em um dia 19, foi preso em um dia 19, morreu em um dia 19 e o filme baseado em sua saga começou num dia 19. Ainda mais, o nome de guerra, Cajazeira, tem nove letras.

Alcino Alves Costa
O Caipira de Poço Redondo

*As fotos que ilustram o artigo são do livro “Lampião além da versão - Mentiras e mistérios de Angico" estas foram escaneadas pelo reverendo Ivanildo Siveira.

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