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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Nordestern

Por: Fernando Spencer(*)

O cinema brasileiro ainda não descobriu o grande filão do cangaço. Houve tempo em que chegaram a chamá-lo de nordestern, de modestern, como um gênero cinematográfico do nosso cinema. Mas não aconteceu como já houve no cinema norte-americano. Tudo começou em 1903, com o Grande Roubo do Trem, de Edwin S. Porter. O grande western da época foi filmado nos descampados de Nova Jersey.

O crítico Alberto Silva, em seu interessante ensaio intitulado O Cangaceiro, Herói do Terceiro Mundo, analisa: "Mítico e rústico, justiceiro e criminoso, o cangaceiro forma ao lado do cowboy norte-americano e do samurai japonês a trindade dos grandes heróis cinematográficos, pelo menos para os brasileiros. Três heróis que se identificam e se distanciam: o cowboy leva o revólver insensível: o samurai; a espada e o cangaceiro, o facão (ou o punhal) e a espingarda".

O filme de cangaço, infelizmente, até hoje não emplacou. E por quê? Primeiro, por falta de investidores otimistas. Porque também no cinema se investindo dá. Além da figura do produtor, a presença indispensável do público que irá, sem dúvida, garantir o retorno do investimento. Logo, produtor e público devem andar juntos. Um faz e o outro consome.

Os filmes produzidos no eixo Rio São Paulo não conseguiram retratar o verdadeiro universo do cangaço. A paisagem, os personagens e as histórias se perderam em banalidades criadas por roteiristas sem o mínimo conhecimento do assunto. O mundo forjado pela miséria e as injustiças sociais.

Depois de O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto, premiado em Cannes como melhor filme de aventuras e menção especial para sua música, houve uma espécie de corrida em busca do ouro. Mas com a única preocupação de arrecadar gordas rendas. Houve, consequentemente, um desnível com respeito ao filme de cangaço. Desnível entre realidade e fantasia. A fantasia e o deboche (As Cangaceiras Eróticas, 1974, de Roberto Mauro). Ou o sério-falso (Lampião, O Rei do Cangaço, 1963, de Carlos Coimbra).

De acordo com Alberto Silva, para melhor compreensão, o Ciclo do Cangaço pode ser dividido em três fases: 

1) - Os filmes comerciais de Carlos Coimbra e Aurélio Teixeira;
2) - O novo cinema das fitas de Glauber Rocha; e
3) - O Cangaço da Boca do Lixo (as películas de Osvaldo de Oliveira).

O primeiro filme brasileiro que contou com a presença do cangaceiro data de 1925 e se chamou Filho sem Mãe, da Planeta Filme, com argumento, roteiro e direção de Tancredo Seabra. A produção era de Paulino Gomes, com Barreto Jr., mais tarde o popular "Rei da Chanchada" do teatro rebolado do Recife. Barreto já havia trabalhado no primeiro filme pernambucano, também de 1925, da Aurora Filme, Retribuição, dirigido por Gentil Roiz e cinegrafado por Edson Chagas. Falam de outro filme envolvendo cangaceiro. É Sangue de Irmão, 1926, rodado na cidade de Goiana, Pernambuco, pela Goiânia Filmes, de Leonel Correia. Filme em três partes, com argumento, roteiro e direção de jota soares. sangue de irmão foi destruído num incêndio ocorrido no escritório da distribuidora de Leonel correia. nada restou senão a lembrança de Jota Soares quando se referia ao ciclo do recife e do pioneirismo de todos.

A destacar os filmes rodados em 1936, por Benjamin Abrahão (tema do filme "Baile Perfumado"), únicos documentos vivos dos cangaceiros em seu habitat. Ele foi, na realidade, o primeiro e único repórter da histórias a conhecer o mundo de Lampião.

(*) Jornalista e cineasta

Fonte:

Diário Oficial
Estado de Pernambuco
Ano IX
Julho de 1995

Material cedido pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço:
Kydelmir Dantas

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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