Seguidores

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Saudades de Raibrito

Por Lívio Oliveira

Em 27 de novembro de 2013 se passou o primeiro ano da despedida de Raimundo Soares de Brito deste mundo terreno. A minha homenagem, então, pode estar um pouco atrasada em face da efeméride, mas não com sentimento menor, principalmente porque tive o prazer de conhecer aquele importante nome da intelectualidade potiguar e privar de algumas de suas sábias palavras, em confiante e estimulante diálogo. Os que conheceram o seu trabalho – desenvolvido durante anos ininterruptos – sabem que Raibrito foi um expoente da historiografia no nosso Rio Grande do Norte. Uma conversa por entre os seus milhares de documentos configurava sempre uma experiência criativa, rica, viva e empolgante, com absorção de saberes angariados no tempo realizador de sua vida.

Tive o imenso prazer de encontrá-lo pela primeira vez, alguns anos atrás, em sua casa na rua Henry Koster, número 23, endereço que já chamava atenção pela importância histórica do topônimo, bem descrito na obra Ruas e Patronos de Mossoró, importante livro – em dois volumes – escrito por Raibrito e publicado na famosa Coleção Mossoroense. Naquela ocasião, estive na sua residência em companhia dos escritores Cláuder Arcanjo, David Leite e José Nicodemos, além de Misherlany Gouthier, firme colaborador à época. Alguns meses depois, haveria uma nova visita à qual se associariam os amigos Antônio Capistrano e Leonardo Guerra, juntamente com boa gente da Petrobrás, responsável pelos trabalhos de digitalização e divulgação eletrônica dos documentos, levando à criação de uma Biblioteca Virtual Raimundo Soares de Brito. Numa terceira visita, estivemos eu e Antônio Capistrano, grande amigo, grande camarada, parceiro e mestre em jornadas culturais.

Naquelas oportunidades presenciei a busca obcecada de um homem em realizar uma obra imaterial importantíssima: contar a história de sua terra, de seu povo, sua gente, destinando-a à consulta pública. Sua generosidade imensa o fazia compartilhar aquela riqueza com os interessados. Passeei por ela, entre os seus livros e documentos, estasiado com o notável frescor da inteligência do seu formador – apesar dos tons e aspectos esmaecidos dos papéis e objetos antigos, no amplo acervo de humanidades.

Livros, fotos, documentos de toda espécie e a voz do homem que narrava – como num tema cinematográfico – a sua própria história de vida e de como havia trabalhado tantos anos na coleta e organização de todas aquelas peças. Pude entender sua obsessão. Descobri que o sentido de sua vida, dedicado que sempre foi em entender e “radiografar” os outros homens, era a busca da essencialidade do próprio ser-no-mundo. A curiosidade imensa, a labuta incessante – como a de um escultor talhando uma obra-prima – eu as vi em Raibrito. Um olhar feliz, realizado, satisfeito. Olhar de quem foi parceiro e não inimigo do tempo e construiu, dia a dia, um retrato exato e profundo da humanidade.

Raimundo Soares de Brito nasceu em Caraúbas, mas o Rio Grande do Norte era e é a sua dimensão mínima, além, muito além das fronteiras de sua terra escolhida, Mossoró. Só mesmo um pesquisador de sua marca e estirpe para entrar nos complexos caminhos investigativos que trilhou. Buscou pistas que levavam sempre a soluções. Conhecer a alma do homem, fazer o retrato do homem e de sua terra, no correr dos anos, dos séculos, nas voltas do mundo sobre seu eixo: eis o trajeto que seguia. Sua hemeroteca se afirmava, assim – não há dúvidas –, como um organismo vivo, sempre alimentado como se alimenta um filho, para que se fortaleça e viva. Coalhada de papéis, papel dos livros a preencherem estantes, papel das cartas e documentos diversos, suas pastas de recortes de jornais, e o cheiro de vida. Fiquei feliz em saber que o seu acervo deverá ser preservado, segundo notícia que nos dá o Professor Antônio Marcos de Oliveira, parente dileto do homenageado: “Compreendemos a importância do acervo de Raibrito, um bem privado, mas de interesse público, que precisa ser preservado.” Assim seja, por ser de inestimável valor.


Enviado pelo pesquisador do cangaço José Edilson de Albuquerque Guimarães Segundo

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

Nenhum comentário:

Postar um comentário