Por: Honório de
Medeiros
Paulo Gastão,
Honorio de Medeiros, Luitgarde, Carlos Santos e Franklin Jorge no Cariri
Cangaço 2013
Aparentemente
apenas dois personagens são protagonistas tanto da invasão de Apodi, por
cangaceiros, em 10 de maio de 1927, quanto de Mossoró, em 13 de junho de 1927.
Trinta e três dias separam uma da outra.Eles são o Coronel Isaías Arruda,
Intendente de Missão Velha, no Cariri cearense, e o cangaceiro Massilon.
Qual a
natureza da relação entre o Coronel e o Cangaceiro? Circunstancial ou
decorrente de um planejamento? No que diz respeito ao Coronel sabemos que a
invasão de Apodi somente lhe surgiu na mente quando foi procurado por Décio
Hollanda para ajuda-lo nesse propósito. Não há qualquer registro de interesse
seu quanto ao Rio Grande do Norte anterior a esse contato.
E quanto à
invasão de Mossoró, sabemos que essa idéia lhe foi apresentada após o retorno
de Massilon da invasão de Apodi, apesar da opinião de Sérgio Dantas, calcado em
Raul Fernandes, no sentido de que o Coronel tinha seus olhos voltados para a
riqueza da segunda maior cidade do Rio Grande do Norte.E o sabemos em primeiro
lugar porque o Coronel não chamara Lampião às suas terras. Lampião lá apareceu
inesperadamente, conforme nos demonstra, com precisão, o próprio Sérgio Dantas.
E o sabemos também porque não há registro de qualquer atividade anterior do
Coronel em promover essa “indústria” da invasão de cidades em busca de lucro.
Massilon
Por fim,
podemos inferir essa hipótese com base na seguinte cadeia de raciocínio: se ele
não tivesse sido procurado para ajudar na invasão de Apodi, não teria conhecido
Massilon; se não tivesse conhecido Massilon não haveria o ataque a
Mossoró. Então tudo leva a crer, em uma primeira análise, ao se observar a
balança na qual estão postados os argumentos, no fator circunstancial, quanto
ao Coronel, enquanto não encontramos qualquer indício que aponte para um planejamento
anterior no sentido de atacar Mossoró.
Se
circunstancial, então o papel do Coronel nas duas invasões foi de somenos
importância, limitando-se a arranjar jagunços, armas, munição e, talvez,
animais para as duas invasões, e a convencer Lampião a participar do ataque a
Mossoró. Coube, aqui, para empreender esse raciocínio, usar a Navalha de
Ockham. Entretanto se essa participação do Coronel foi circunstancial
cabe, agora, perguntar o seguinte: o ataque a Apodi e Mossoró, no espaço de trinta
e três dias, foi, também, circunstancial ou havia um nexo entre eles, anterior
ao próprio ataque?
Izaias Arruda
Quanto à
existência do nexo existem os seguintes fortes indícios:
(i) a
correspondência de Argemiro Liberato avisando previamente do ataque;
(ii) o aviso
do Coronel Chico Pinto ao Coronel Rodolpho Fernandes após a invasão de Apodi e
antes de Mossoró;
(iii) a menção
ao projeto do ataque a Mossoró feito por jornal da cidade;
(iv) a
presença, tendo em vista seu passado, nos dois ataques, enquanto protagonista,
de Massilon.
Se assim o é,
então a idéia de atacar Apodi e Mossoró já existia antes dos ataques serem
realizados. Quanto à invasão de Apodi, não existem dúvidas em relação a
sua natureza política. Teria o ataque a Mossoró também a mesma
finalidade? Mais: se o ataque a Apodi tinha natureza política, e o ataque
a Mossoró também o tinha, o que se conclui quando sabemos que no primeiro caso
o objetivo era o Coronel Chico Pinto? Obviamente que o ataque a Mossoró queria
atingir, por sua vez, o Coronel Rodolpho Fernandes.
Se decorrente
de um planejamento, então como explicar esse liame entre as invasões? Se o
há, necessariamente passa pelo único personagem cuja presença nos dois ataques
não foi circunstancial: Massilon. Nesse caso somente a história de
Massilon anterior aos fatos pode explicar o ataque a Mossoró. Suas relações,
seus antecedentes, sua geografia.
Esse é o “x”
da questão.
Honório de
Medeiros
Pesquisador,
escritor, sócio da SBEC
Conselheiro
Cariri Cangaço
www.honoriodemedeiros.com
http://cariricangaco.blogspot.com
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