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sábado, 1 de março de 2014

Sílvio Bulhões filho do casal de cangaceiros Corisco e Dadá


No bairro do Farol, em Maceió, um homem próximo dos 73 anos guarda com cuidado pequenas roupas que têm a sua idade. Elas são a lembrança material do carinho dos seus pais, que não chegou a ver, a não ser em fotografias, já adolescente. Sílvio Bulhões, economista, nascido em agosto de 1935, é filho dos cangaceiros Corisco (Cristino Gomes da Silva Cleto) e Dadá (Sérgia Ribeiro da Silva), com quem só permaneceu por nove dias.

Foi entregue para ser criado por um padre em Santana do Ipanema, também em Alagoas, de quem assumiu o sobrenome. "Fui cangaceiro por nove meses e nove dias", conta, enquanto guarda o enxoval que foi enviado por Dadá, junto com uma carta de Corisco, para o religioso.

Padre Bulhões - Pai adotivo de Sílvio Bulhões - filho dos cangaceiros: Dadá e Corisco

Sílvio Bulhões prepara um livro que conta a sua história. Nele, narra como, em 1944, teve um sonho com um homem vestido com roupas estranhas, que se dizia seu pai. Mais tarde, ao ouvir escondido uma conversa do padre com visitantes, em que este revela que o menino era realmente filho de Corisco, entra em um quarto proibido para ele, e descobre, dentro de um baú, uma revista Noite Ilustrada que narrava os últimos dias do cangaceiro. "Lembro que corri para o quintal e subi numa árvore. Fiquei horas lá em cima, vendo aquelas fotografias. O homem se parecia com o do sonho", relata. O primeiro encontro com a mãe se deu quando Sílvio já tinha 18 anos. Dadá, que se locomovia com dificuldade por causa da sua perna amputada, pôde finalmente contar mais detalhes sobre Corisco. "Ela disse que ele tinha muitas saudades. Encontrei mais tarde um homem que, quando soube que eu era filho de Corisco, abraçou-me e disse que eu tinha salvado a vida dele. Aprisionado pelo cangaceiro, contou que havia me visto na casa do padre, em uma cadeira que depois se transformava em um carrinho. Como Corisco queria mais detalhes, começou a inventar histórias sobre mim. Acabou libertado". Da outra margem do Rio São Francisco, Corisco, alagoano de Matinha de Água Branca, nascido em 1907, chegou a ouvir os tiros em Angicos, para onde se dirigiria no dia 28 de julho de 1938 com o objetivo de se encontrar com Lampião, o homem que, além de chefe, era inspiração para ele também se autodenominar "capitão". Depois de confirmadas as mortes de 11 cangaceiros, entre eles Lampião e Maria Bonita, mandou degolar seis pessoas de uma mesma família.


Corisco tentou assumir o posto de Lampião, mas não tinha a mesma habilidade para reunir os grupos restantes de cangaceiros. No dia 25 de maio de 1940, em Brotas de Macaúbas (Bahia), já abandonado pelos companheiros, com um braço gravemente ferido e sendo amparado pela mulher, ele é morto pela volante de José Rufino.


Já não podia nem segurar uma espingarda. Dadá, baleada, tem que amputar uma perna. Ela é libertada apenas em 1942. Com o homem que lhe levou ao cangaço com apenas 12 anos de idade, teve sete filhos. Além de ter sido a única mulher que verdadeiramente pegou em armas, contribuiu com sua arte para embelezar os apetrechos usados pelos bandos. Dadá morreu em fevereiro de 1994.Sílvio Bulhões ainda guarda com cuidado o enxoval que Dadá mandou entregar ao padre que o criou. As peças foram temas de uma reportagem de O Cruzeiro em 1956 (abaixo). Acima, o menino em sua cadeira que se transformava em carrinho. A peça acabou salvando a vida de um prisioneiro do pai.

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