Seguidores

domingo, 13 de abril de 2014

Entrevista com o Ex chefe Cangaceiro "Sinhô Pereira"


In Fundação Casa da cultura S. Talhada

Conheçam a entrevista concedida pelo lendário chefe de Lampião ao Sr. Luiz Lorena , em 1971

Seu nome na pia batismal deve-se ao fato de ter nascido no dia de São Sebastião, 20 de Janeiro de 1896.

Sebastião Pereira da Silva "Sinhô Pereira" (Foto) nasceu em Vila Bela, em meio à uma áspera guerra entre as famílias Pereira (a sua) e Carvalho. Foi chefe de cangaceiros e das suas mãosLampião recebeu o bando.

Sinhô Pereira foi embora para Goiás no ano de 1922 e só voltou beber das águas límpidas e saborosas do Pajeú no ano de 1971 (mês de junho), quando veio visitar a família em Serra Talhada, PE.

Naquela ocasião Luiz Lorena e Sá, da família Pereira , travou o seguinte diálogo com seu brioso parente, que fora no passado o braço armado do clã: 

Lorena - Qual o momento que marcou sua vida de maneira indelével? 

Sinhô - Foram tantos os momentos dramáticos no meu trajeto que seria impossível escolher um. 

Lorena - Qual seu dia de maior alegria? 

Sinhô - Chegar a Serra Talhada 50 anos depois e ser recebido por todos os parentes com carinho que me dispensaram, foi na verdade motivo de muita alegria. 

Lorena - Qual seu dia de maior tristeza? 

Sinhô - Estando eu em Lagoa Grande, distrito de Presidente Olegário/MG, recebi a noticia do falecimento de Luiz Padre, em Anápolis, Goiás. Nem ao sepultamento compareci. 

Lorena - Você tem alguma grata satisfação do seu tempo de guerrilheiro? 

Sinhô - Não. Nasci para ser cidadão, casar-se e constituir família. Fui namorado da moça mais bonita do Pajeú. 

Lorena - Por que se envolveu nessa tragédia? 

Sinhô - A impunidade em Vila Bella teve seu auge em minha juventude; do assassinato de seu Né - meu irmão - nem inquérito policial foi aberto. 

Lorena - Você reconhece o que seus contemporâneos dizem sobre o seu espírito guerreiro e de ser você o mais valente entre esses? 

Sinhô - havia homens valentes até quase a loucura, entretanto, brigavam para matar. Na hora de morrer, até fugiam do campo de luta. Naquelas circunstâncias matar ou morrer para mim, seria a mesma coisa; daí a diferença. 

Lorena - Desses confrontos, qual o que você teve mais proveito? 

Sinhô - A família Pereira (minha família) vivia atormentada em face de minhas ações. Era imperativo mudar a face da história.  

Lorena - Quais os fatos que mais perturbavam você? 

Sinhô - Vários. No começo tudo o que eu fazia errado dava certo. Com o passar do tempo tudo o que eu fazia certo dava errado.  

Lorena - Entre estes, você poderia destacar um? 

Sinhô - Sim. A morte de João Bezerra, em Bom Nome. Na forma como eu procedi, acelerou minha decisão. O meu estado de espírito estava de tal forma desajustada que já não tinha condição de conduzir as ações do grupo que comandava. 

Lorena - Em que circunstância Lampião apareceu em sua vida? 

Sinhô - Ele e os irmãos chegaram de Alagoas depois do assassinato do pai, dispostos a confrontar com José Saturnino, seu inimigo comum.Não tinham condições financeiras nem experiências. Procuraram-me e participaram com muita bravura de alguns combates. 

Lorena - Por que Virgolino Ferreira da Silva ganhou o apelido de Lampião? 

Sinhô - Num combate, a noite, na fazenda Quixaba, o nosso companheiro Dê Araújo comentou que a boca do rifle de Virgolino mais parecia um lampião. Eu reclamei, dizendo que munição era adquirida a duras penas. Desse episódio resultou o Lampião que aterrorizou o Nordeste. 

Lorena - Você não quis Lampião em sua viagem para Goiás? 

Sinhô - Ao despedir-me dele na Fazenda Preá, no município de Serrita/PE, pedi para não molestar ninguém da família Pereira. Ele prometeu e cumpriu. Não quis, entretanto, seguir viagem comigo. 

Lorena - Depois de instalado em Goiás você convidou Lampião para ir morar naquela região? 

Sinhô - Sim. Quintas (meu irmão) foi o portador da carta. Ele respondeu verbalmente, dizendo que não aceitava o convite para não me criar embaraços. 

Lorena - Você recebeu o convite de alguém para atacar Antônio da Umburana em Queixada (Mirandiba)? 

Sinhô - Não. Tudo aconteceu por minha conta e risco. 

Lorena - E o seu problema com Isnero Ignácio, como aconteceu? 

Sinhô - Naquele tempo chegou para se agrupar comigo o meu parente Luiz Pereira Nunes (Luiz do Triângulo) acompanhado dos primos Chiquito e Teotônio do Silveira, valente ao extremo. Depois de várias refregas, explicou-me que estavam comigo por que foram escorraçados da sua propriedade na região de Santa Rita pelo primo Isnero Ignácio. Estavam se preparando para desforra e esperava o meu apoio. 

Lorena - Qual foi sua reação? 

Sinhô - Ponderei que já bastavam as inimizades já existentes e que Sinharinha, mãe de Isnero, era filha de tia Donana, figura considerada sagrada pela minha mãe. 

Lorena - E Luiz do Triângulo, como reagiu? 

Sinhô - Ficou contrariado, sem aceitar minhas ponderações. Entretanto, concordou que eu fosse com Luiz Padre pedir a interferência de Antonio Inácio de Medeiros também primo de Isnero, Sr. Sebastião Inácio de Oliveira, concordou. Isnero e mãe Sinharinha foram radicais, não aceitaram qualquer forma de reconciliação, inclusive proibiram o parente Luiz do Triângulo de voltar a sua propriedade. 

Lorena - E daí, o que aconteceu? 

Sinhô - Foi uma estupidez o que fizemos. Ateamos fogo na Fazenda Santa Rita, deixando em cinzas o roçado, o canavial, o engenho, os currais e a casa da fazenda. 

Lorena - Dos oficiais da policia militar que o combateram, qual o de maior respeito? 

Sinhô - O capitão José Caetano era um bravo. Intrépido e leal no mais duro da refrega. 

Lorena - Qual o combate mais dramático que você participou? 

Sinhô - Foi na Serra da Forquilha, numa semana em que estávamos repousando. Éramos doze homens, cercados num casebre, por cento e vinte policiais. Sem outra alternativa bradamos para que segurassem as armas porque iríamos para a luta de corpo-a-corpo e de corpo a punhal. 

Lorena - O que aconteceu? 

Sinhô - O que aconteceu? Saltamos e fugimos ilesos. 

Lorena - Por que a idéia de avisar aos sitiantes, nessa e em outras oportunidades, que continuariam a luta, mas, na verdade, abandonavam o refúgio? 

Sinhô - Enquanto aqueles procuravam entrincheirar-se, nós fugíamos. 

Lorena - Você viajou para o Planalto Central desprovido de recursos financeiros? 

Sinhô - Não. Isidoro Conrado e Né da Carnaúba financiaram a nossa viagem com dinheiro que compraríamos duzentos bois. 

Lorena - Em Dianópolis, onde se instalaram, tudo correu bem? 

Sinhô - Vivemos uma epopéia mais dramática do que aqui, expressar numa entrevista nem vale a pena... 

Lorena - Por que essa expressão! "minhas navegações" quando sabemos que navegar é próprio do oceano? 

Sinhô - Ouvíamos dizer que o mar é uma imensidão de água, e como a extensão de nossa desgraça não tinha limites, usávamos a expressão "nossas navegações". 

Lorena - É verdade que você anteviu a genialidade de LAMPIÃO? 

Sinhô - Dos homens que deixei em armas no Pajeú, só Virgolino podia chegar à celebridade. Os demais eram formiga sem formigueiro. Minha profecia foi cabalmente comprovada. Lampião nada aprendeu comigo. Já nasceu sabendo".

Sinhô Pereira faleceu numa manhã no final do ano 1979, em Lagoa Grande - Estado de Minas Gerais -, deixando para trás uma vida e uma história marcadas de angústia, dores e vontade de viver feliz com sua família e amigos.  

"Sinhô Pereira era uma baraúna"!

Créditos da nota de falecimento: Hildebrando Neto "Netinho".
Transcrição da entrevista Ivanildo Silveira. 

http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2009/02/entrevista-c-o-ex-cangaceiro-sinho.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

2 comentários:

  1. Anônimo17:54:00

    Mendes, tenha a bondade de me informar depois se a foto em primeiro plano é senhor Luiz Lorena e em segundo plano, mais uma que não conhecia - Sinhô Pereira.
    Grato,
    Antonio

    ResponderExcluir
  2. Antonio de Oliveira:

    Segundo a página de fotografias, este é o Luiz Conrado Lorena e Sá.

    Sobre a foto que foi postada como sendo Sinhô Pereira, o que aconteceu, foi um corte na NET, que realmente eu não consegui voltar à página e retirar a foto de Lampião, que aparece sendo o Sinhô Pereira. Só agora foi que eu consegui consertar o erro. Foi um erro no momento que eu tentava inseri, ambas pertinho, findei clicando nela como sendo Sinhô Pereira.

    Já a excluí da página.

    Desculpa-me o meu equívoco. Isso muito ajuda a levar ao leitor informações concretas.

    Muito obrigado pela correção da foto.


    ResponderExcluir