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quarta-feira, 2 de abril de 2014

O TRÁGICO MASSACRE DE SÃO JOSÉ DE BELMONTE - PARTE II

Por Souza Neto

Logo de manhã cedo sem as informações almejadas a volante cearense tratou de sair da fazenda Cristóvão e talvez pela falta de caráter que lhe era peculiar, Montenegro afirmou que estava ali por informação e solicitação de Luiz Gonzaga. Para alguns uma justificativa herética e totalmente sem crédito.



O fato é que dali por diante a semente da desavença foi cultivada, Luiz Gonzaga jurando inocência e Yoio Maroto fingindo acreditar.

Sedento de vingança sempre triste e acabrunhado Yoio Maroto mandou avisar a Sinhô Pereira o ultraje sofrido juntamente com a família. Sinhô já decidido a seguir para Goiás pede então a Lampião que resolvesse essa questão de Belmonte. Sinhô Pereira tinha enorme gratidão e apreço a Yoio, que além de ser seu primo era casado com Maria, irmã de Luiz Padre.

Luiz Gonzaga Gomes Ferraz avisado de um possível ataque por parte de cangaceiros parentes de seu compadre contratou um efetivo armado para lhe garantir proteção. Semanas após resolveu deixar Belmonte retirando-se para a Bahia e depois Sergipe buscando se estabelecer quando foi convencido a voltar ao Pernambuco com todas as garantias, inclusive do governo do estado. Esse fato provocou ainda mais a ira de Yoio Maroto que começou a ponderar ser Belmonte pequeno demais para os dois, vez por outra murmurava: aqui ou um ou outro!

Entra em cena Antônio Maroto, irmão de Yoio que para conseguir um empréstimo de três contos de reis, convenceu Gonzaga a não acreditar na boataria de uma possível vingança por parte de Yoio e que se empenharia no sentido de convencer o seu irmão de sua inocência. O avisa da saída de Sinhô Pereira do sertão nordestino o que deixa Gonzaga exultante, e em uma demonstração de placidez despensa a sua guarda pessoal recolhendo as armas e munições. Acreditou que tudo havia acabado. Mero engodo. 

Ainda alertado pelos habitantes de Belmonte para não dar crédito a Antônio Maroto, alguns amigos diziam: “Gonzaga em cangaceiro não se pode confiar, Yoio está preparando o bote"!

É certo que todos tinham razão. Yoio Maroto ia pouco a pouco arregimentando homens para o ataque. Entre outros contou com Tiburtino Inácio (Gavião), filho do major Zé Inácio do Barro que tinha uma irmã casada com um primo de Yoio. Depois Cicero Costa e mais alguns familiares.

Em recente entrevista que fiz com o Sr. Vilar Araújo, filho de Luiz Padre no estado de Tocantins, esse afirmou que José Terto (Cajueiro) já se encontrava na região central do país há mais de dois anos ao lado de seu pai, quando da chegada de Sinhô Pereira lhe ordenando a voltar ao sertão nordestino comandar essa ação. Vilar conta que o seu tio Quinzão (Cajueiro) quando tomava umas doses de aguardente, sempre narrava esse episódio. 

É certo que a mãe de Cajueiro D. Antônia Pereira da Silva foi ultrajada pela força volante de Peregrino Montenegro como ele mesmo narra. O que me causou mais curiosidade foi o fato do cangaceiro tão distante ser enviado para comandar uma ação já designada a outro.

Questionei com o senhor Vilar essa motivação de Sinhô Pereira e Luiz Padre. A resposta veio sem pestanejar: “Tio Chico (Sinhô Pereira) acreditava que Lampião pudesse não atender ao seu pedido”.

Cajueiro chega e se integra ao pequeno grupo liderado por Lampião e principia os preparativos para o ataque.

Yoio Maroto escolheu o dia ideal para o ataque. Belmonte estava em festa, outubro era o mês dos festejos celebrados ao Sagrado Coração de Jesus. Dia 19 de outubro o “noitário” ou patrono da festa era justamente Luiz Gonzaga Gomes Ferraz e o ataque teria que ser no dia seguinte logo cedo, pois com certeza Gonzaga estaria em casa.

Ao romper o dia 20 de outubro o casarão de Gonzaga estava completamente cercado. O povoado é acordado ao som de machadadas, pernadas e várias outras formas de conseguir arrebentarem as portas da residência. As pancadas pouco a pouco iam despertando os vizinhos e outros moradores que logo perceberam se tratar de um violento ataque a residência do homem mais prestigiado daquele vilarejo.

Segundo o cangaceiro Cajueiro na aludida entrevista, disse ser ele o primeiro a penetrar no interior da residência após escalar o muro do quintal. Ficou dando apoio enquanto os seus companheiros arrombavam um portão que dava para a rua dos fundos. Outro grupo tentava o arrombamento da porta da frente. Foi justamente nesse momento que Cajueiro assistiu a morte de Baliza, um dos que tentavam despedaçar o portão. A morte de Baliza ainda não está de tudo esclarecida, há mais razões para esse assassinato e em breves dias irei explanar. Isso é outra história. 

CONTINUA...

Lampião, cangaço e nordeste
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