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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A FORÇA DOS CORONÉIS : ZÉ ABÍLIO E CHICO HERÁCLIO


O coronel Chico Heráclio reconhece que os tempos, hoje, não estão mais favoráveis aos chefes políticos do interior. Lembra-se de 1951, na eleição para a Prefeitura de Limoeiro: em quase 11 mil eleitores, a oposição não alcançou 5% da votação. Em 1952, o candidato a governador adversário só conseguiu 47 votos no município. O voto, então, já era secreto, mas conta-se que a coisa funcionava assim:

O coronel dava toda a assistência ao eleitor. E lhe entregava, na boca da urna, o envelope com as cédulas, tudo prontinho. Às vezes o matuto perguntava se podia ver o nome dos candidatos. O coronel respondia:

— Pode não, oxente. Não sabe que o voto é secreto?

O coronelismo em Pernambuco estava então no auge. E não era só em Limoeiro. Em Serrita — quase divisa com o Ceará.

O coronel Chico Romão entendeu de pôr para fora o juiz de Direito da cidade. Sua força junto ao governo, entretanto, não valia muito no caso, pois juiz é inamovível.

Chico Romão resolveu usar seus próprios meios: proibiu toda a cidade, inclusive bares e empórios, de fornecer água ou comida ao juiz. Seu controle sobre a população era tão grande que o juiz não teve outra saída — foi embora.

Com um adversário político, que depois viria matá-lo a tiros, Chico Romão fez coisa parecida: comprava todas as casas onde ele fosse morar, e o despejava em seguida. O homem acabou se mudando para uma cidade vizinha, Salgueiro, onde afinal se deu o crime.

Zé Abílio, coronel de Bom Conselho, conseguiu o cargo de inspetor do Instituto do Açúcar e do Álcool numa terra que não tinha um só pé de cana:
— Se passar algum caminhão carregado de açúcar por aqui — dizia — eu inspeciono ele.

Até 1962, nenhum coronel tinha sido processado por assassinato, o que só ocorreria com Chico Romão, pouco antes de sua morte. O próprio Zé Abílio passou um susto certa vez, acusado da morte de dois cabras em plena rua, mas não chegou nem a ser pronunciado. E continuou batizando e casando, em Bom Conselho, apesar da opinião de monsenhor Damaso, vigário da paróquia:

— Abre-se o Código Penal ao acaso. Em qualquer página que cair, ele pode ser enquadrado em todos os artigos.


0 domínio dos coronéis era intocável. Criminoso que conseguisse asilo de um deles — LAMPIÃO e muitos cangaceiros haviam usado essa proteção, no seu tempo — estava salvo, não era mais procurado pela Polícia. Em compensação, quem caísse em desgraça, não tinha garantia nem com a Polícia inteira ao seu lado.

Conta-se que, um coronel chamou um dos cabras e lhe perguntou:

— Você conhece o padre Olavo?

— Conheço não, seu coronel. Mas já estou com raiva dele.

— Não é nada disso, oxente: é só pra levar este peru pra êle.

( FONTE : REVISTA REALIDADE — Novembro. 1966 )

Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

2 comentários:

  1. Anônimo10:25:00

    Mendes amigo, esse último caso no final do texto, faz rir quem está triste: "Você conhece o Padre Olavo? Conheço não, seu coronel, mas já estou com raiva dele. Não é nada disso, oxente: é só pra levar este peru pra ele".
    É BRINCADEIRA VOLTA SECA E MENDES?????
    Antonio Oliveira

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  2. Interessante! Quando eu estava arrumando para levá-lo até ao blog, e cheguei nessa parte, eu ri e ri muito. Nesse momento chegou Neto, meu vizinho e me perguntou? "-Você está endoidando, rindo sozinho?

    Felicidade e paz, companheiro Antonio de Oliveira.

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