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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

SILA E ZÉ SERENO


"Sila e Zé Sereno, já entrosados, estavam indo em direção à Frei Paulo. Ele era acompanhado de Pitombeira, Balão, Criança, Enedina, Dulce, Mergulhão II, Marinheiro II e Novo Tempo II (os últimos três, irmãos de Sila e entraram junto com ela no bando). Eles vinham do norte, iam até a povoação se encontrar com o coiteiro José de Binha. O céu estava carregado, trovões cruzavam o céu e o bando se agasalhava quando podiam. Era mais ou menos nove horas da manhã e então, após caminharem umas três léguas (quase quinze quilômetros) a chuva veio. O céu praticamente “desabou” sobre eles. Marinheiro e Criança foram procurar lenha para uma fogueira, mas nem conseguiram acendê-la. Foi um pandemônio. 

Passaram três horas com fome e com frio tentando se apadrinhar nas pedras altas que encontraram, a chuva começara a dar ares que ia parar. Quando a última gota caiu, Zé Sereno ordenou que continuassem a marcha até Frei Paulo, pois deveriam chegar em breve. Foi aí que chegaram no Rio Jacoca. Sim, aquele rio hoje seco que corta a estrada entre os municípios de Nossa Senhora Aparecida e Ribeirópolis que hoje chamamos de Riachinho. Vejam a descrição de Sila no livro “Sila, Uma Cangaceira de Lampião”, escrito pela cangaceira e Israel (Zai) Araújo Orrico.

Três quilômetros adiante, porém, deparamo-nos com o Rio Jacoca que brotava água pela boca. Zé Explanou:

-Vixe Maria, parece o mar! Quem é doido de atravessar um rião desse?

Todos sabíamos ser temerário tentar a travessia naquele momento. Decidimos, então, esperar as águas baixarem, o que ocorreria no dia seguinte. Escolheu-se local junto a umas pedreiras. Também este não oferecia proteção, de modo que deixamos de armar barracas. Assim, seria mais fácil empreendermos a fuga, caso houvesse necessidade de fazê-lo.

Hoje este rio está completamente assoreado e nem nos períodos de chuva é capaz de reter tamanha quantidade de água ao ponto de impedir que uma pessoa passe a pé.

O sol começou a iluminar o chão, a fome apertava e as providências eram mínimas. Zé Sereno resolveu enviar Novo Tempo até uma venda no povoado próximo, já que conhecia a região. Este povoado, tomando como base a localização deles e a impossibilidade de passagem pelo rio, só poderia ser Cruz do Cavalcanti. Como Novo Tempo estava há pouco tempo no cangaço, era pouco conhecido, facilitando assim sua entrada no vilarejo em trajes civis. Então ele foi, chegando lá comprou algumas coisas e foi logo rodeado por volantes que começaram o interrogatório:

-De onde tu vem, ômi?

-Tô de passagem p´ra Frei Paulo, vou atrás de minha irmã, para avisar a ela que nossa mãe tá muito doente, morre num morre.

Ficou por ali passando o tempo, pagando umas pingas bebendo outras e então resolveu ir embora. Se despediu de todos e saiu. Percebeu que estava sendo perseguido. Chegando perto de um mato ele apertou o passo e correu, percebendo que a volante estava atirando nele, apertou o passo até chegar onde o bando se encontrava. Lá, tomou bronca de Zé Sereno, trocaram tiro com a volante e ficou nisso. Depois de tudo se acalmar, eles tentaram descansar um pouco e seguir viagem no dia seguinte. Eles seguiram dois quilômetros oeste por dentro do rio, assim, dificultaria a volante em decifrar os passos dos cangaceiros.

Chegando no seu destino, comeram bastante e descansaram... Sila estava grávida de seu primeiro filho..." O Cangaço em Itabaiana Grande (inédito).

Fonte: facebook
Página:  Robério Santos

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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