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quinta-feira, 30 de abril de 2015

ROMEU MENANDRO DA CRUZ: O HOMEM DAS MÃOS MILAGROSAS

Por José Romero Araújo Cardoso

Examinada a valise com todos os procedimentos médico-farmacêuticos e conferida a munição do revólver colt cavalinha calibre 38, Romeu Menandro da Cruz ajeitava seu chapéu na cabeça, despedia-se de Dona Maria Isabel, companheira inseparável, montava em seu insubstituível cavalo branco e ganhava as quebradas das serras do alto oeste paraibano a fim de atender as urgências, os inúmeros pedidos de socorro partidos daqueles confins onde assistência à saúde era algo distante naqueles tempos passados marcados pela ausência da ação do Estado, exponencializando-se a não efetivação em garantir direitos inalienáveis à população que bravamente teimava em habitar o sertão de outrora.

Homem valente e destemido, Romeu Menandro da Cruz agia como se nada pudesse ameaçar sua integridade física. Desafiava com coragem inaudita todos os ditames de uma terra sem lei, marcada pelas useiras e vezeiras emboscadas, sempre buscando ajudar o próximo através do grande legado genético que trazia no sangue, herança genética do avô português de nome Jerônimo Ribeiro Rosado.

Jerônimo Rosado patriarca da família numerada de Mossoró. O autor deste artigo é da mesma família

Trazia consigo a marca indelével impressa através de milagres impressionantes, tendo salvo incontáveis vidas, graças ao ofício de farmacêutico prático, o qual aplicava sem distinção àqueles que o procuravam.

Não se tem a conta de quantos portadores bateram à sua porta, altas horas das noites escuras, acordando-os para que se deslocasse para ermas localidades a fim de salvar vidas ameaçadas. Romeu Menandro da Cruz nunca se esquivou em ajudar seus semelhantes. Era, verdadeiramente, um homem das mãos milagrosas.

Em sua farmácia na antiga Jatobá, bem como na que instalou em São José de Piranhas, dispunha de verdadeiro laboratório que lhe permitia manipular fórmulas complexas, resultando em inúmeros medicamentos que só eram encontrados em centros mais desenvolvidos, como penicilina e soro antiofídico.

Casos mais complexos eram imediatamente destinados a Cajazeiras, onde os recursos da medicina se encontravam mais evoluídos. Sabia perfeitamente seus limites e possibilidades, não excedendo-os de forma alguma.

Graças à dedicação aos trabalhos médicos-farmacêuticos, o casal Romeu Menandro da Cruz e Maria Isabel César da Cruz apadrinharam dezenas de pessoas, sendo a grande maioria que eles mesmo ajudaram a vir ao mundo. Dona Maria de Romeu tornou-se exímia parteira, auxiliando o marido no exercício do nobre ofício em prol da salvação de incontáveis vidas.

O cangaceiro Sabino Gório

Herói do histórico dia 28 de setembro de 1926, quando o cangaceiro Sabino Gório e seu bando sinistro tentaram atacar Cajazeiras, Romeu Cruz ganhou destaque literário em romance intitulado O Carcará, de autoria de Ivan Bichara Sobreira.

Fotografia da década de 30 do século XX, tirada no município sertanejo de São José de Piranhas, no sítio Riacho D’ água, na qual aparece o farmacêutico prático Romeu Menandro da Cruz montado em vistoso cavalo branco. Ao fundo podemos observar a presença da Sra. Maria Izabel César da Cruz, esposa do lendário Romeu Cruz. Personagem importante do romance “O carcará”, de autoria do ex-governador paraibano

Ser humano extraordinário, Romeu Menandro da Cruz, pombalense que fez história no alto oeste paraibano, portou-se em vida de forma digna e honrada, marcando significativamente a presença do velho Rosado nos anais das crônicas sertanejas.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mestre m Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso

Ilustrado por José Mendes Pereira

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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