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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

MARTHA MENEZES RUAS FILHA DA EX-CANGACEIRA DULCE MENEZES, NA CASA DE PEDRO DE CÂNDIDO.

Por José Mendes Pereira
Foto do acervo da Martha Ruas

Segundo Martha Ruas esta foto foi feita no interior da casa de Pedro de Cândido, que foi apontado como traidor de Virgolino Ferreira da Silva, o afamado, sanguinário e rei do cangaço Lampião.

Ex-cangaceira Dulce Menezes
Será Martha Ruas, que a biografia da sua querida mãe já foi feita? Não deixe para amanhã!

Vemos o pilão já meio estragado, que com certeza, dona Guilhermina a mãe de Pedro de Cândido e Durval Rosa pilava seu fubá, e principalmente o café em grão misturado com açúcar.

A TRAIÇÃO DE PEDRO E A MORTE DE LAMPIÃO


A seguir, material do acervo do pesquisador e colecionador do cangaço Ivanildo Silveira

Segundo o cangaceiro Balão 
"Nunca pensei que Lampião morresse."

Estávamos acampados perto do Rio São Francisco. Lampião acordou às 5 da manhã e mandou um dos homens reunir o grupo para refazer o ofício Nossa Senhora. Enquanto lia a missa, em voz alta, todos nós ficamos ajoelhados, ao lado das barracas, respondendo "amém" e batendo no peito na hora do "Senhor Deus
Terminado o ofício, Lampião mandou Amoroso buscar água para o café. Mas, quando ele se abaixou no córrego, veio o primeiro tiro. Havia uma metralhadora atrás de duas pedras a 20 metros da barraca de Lampião. Pedro de Cândido, um dos nossos, havia nos traído, e acho que tinha dado ao sargento Zé Procópio até a posição das camas.

Numa rajada de metralhadora serrou a ponta minha barraca. Meu companheiro Merguião, levantou-se de um salto, mas caiu partido ao meio por nova rajada. Eu permaneci deitado, com jeito coloquei o bornal de balas no ombro direito, o sobressalente no esquerdo, calcei uma alpercata. A do pé esquerdo não quis entrar, e eu a pendi também no ombro.

Quando levantei vi um soldado batendo com o fuzil na cabeça de Merguião. De repente, ele estava com o cano de sua arma encostada minha perna, e eu apontava meu mosquetão contra sua barriga. Atiramos. Caímos os dois e fomos formar uma cruz junto ao corpo de Merguião. Levantei-me devagar. O soldado estava morto, e minha perna não fora quebrada.

Então vi Lampião caído de costas, com uma bala na testa. Moeda, Tempo Duro; Quinta-feira, todos estavam mortos. Contei os corpos dos amigos. Nove homens e duas mulheres. Maria Bonita, ferida, escondeu-se debaixo de algumas pedras. Mas foi encontrada e degolada viva. Não havia tempo para chorar. As balas batiam nas pedras soltando faíscas e lascas, ouviam-se; os gritos por toda parte, um inferno. Luis Pedro ainda gritou: "Vamos pegar o dinheiro e o ouro na barraca de Lampião". 

Não conseguiu, caiu atingido por uma rajada. Corri até ele, peguei seu mosquetão e, com Zé Sereno, consegui furar o cerco. Tive a impressão de que a metralhadora enguiçou no momento exato. Para mim foi Deus.

No rancho do Minduim encontramos os cangaceiros: Cobra Verde, Novo Tempo, Candeeiro, todos feridos. De lá fomos para a Fazenda Cuiabá. , Muitos se entregaram. Eu resolvi seguir com um grupo, para Pinhão, onde estava Corisco. Mas no caminho fomos cercados pela: forças do sargento Zé Luis. Os cangaceiros Cruzeiro, Amoroso, Zé de Vera foram mortos.

Consegui esconder-me ate escurecer e então comecei a descer, seguindo o rio. Os soldados, porém, não haviam desistido logo eu os senti na minha pista Resolvi tentar driblá-los. Voltei e consegui outra vez furar o cerco No caminho derrubei um soldado que gritou, antes de morrer: "Pelo amor de Deus, eu não tenho culpa!" Depois contei mais de quinhentos buracos de bala, na minha roupa e nos bornais.

Como é que gente não morre?

Em Pinhão encontrei Corisco, Zé Sereno e Anjo Roque. Corisco era chamado também, de Diabo Louro; brigava muito. Nunca si entregou. Zé Rufino o matou. E como são as coisas: Dadá, mulher de Corisco, foi quem mais tarde colocou a vela nas mãos de Zé Rufino, que morreu pedindo perdão.

O descanso da guerra na cidade grande:

— Estávamos cansados de brigar. Ficamos nos divertindo em Pinhão, passeando dançando. Era a despedida - íamos nos entregar. Fomos bem recebidos em Jeremoabo, pelo capitão Aníbal. Não ficamos presos, mas apenas detidos. O capitão Aníbal era nosso amigo e algumas vezes chegou a desviar as volantes para evitar um encontro. Tive até privilégio de ter até um ordenança, à minha disposição, chamado Doutor.

Depois de soltos, tivemos de nos acostumar aos poucos com a civilização. Nas caatingas de Sergipe vi pela primeira vez um zepelim. Parecia um fim de mundo. Nesse tempo, em 1939, diziam que o mundo todo estava em guerra, e eu me apavorei: "Corre, gente, é um bombardeio".

Todos se esconderam numa moita de mucunã. Numa cidade, Anjo Roque não deixou um homem ligar o rádio perto de bando: “Essa máquina é de prender, vai nos deixar sem movimento!"

Viajei muito. Trabalhei em Minas, como pagador da estrada de ferro. Um serviço perigoso na época, mas nenhum assaltante se meteu comigo. Depois morei muito tempo em Marília, no interior de São Paulo, e finalmente vim para a capital. Há algum tempo comecei a trabalhar numa construção. Tomava o trem às três e meia da madrugada e entrava no serviço as oito na Lapa. Havia perigo de desabamento, no poço que estávamos cavando, e eu já avisara o engenheiro. Mas ele não ligou.

Um dia aconteceu: veio tudo abaixo. Eu, que enfrentara tanto fogo sem sofrer um arranhão, quebrei a espinha, cinco costelas e perdi oito dentes. A espinha nunca mais sarou. Tenho a impressão de estar com ela atravessada por uma porção de agulhas. Segundo o advogado do INPS, a firma, terá de me indenizar.

Até agora, nada, e já faz um ano. 
Mas vou deixando. Eu sou caboclo, não me afobo, eu espero.
  
Esse depoimento do "Balão" é muito interessante, pois traz muitas informações importantes, sobretudo s/ o combate de Angicos, local da morte de Lampião.

Um abraço a todos e obrigado pela atenção.
Ivanildo Silveira
NATAL/RN

http://diariodabarrablog.blogspot.com.br/2012/02/traicao-de-pedro-e-morte-de-lampiao-um.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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