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quinta-feira, 10 de março de 2016

O GLOBO – 05/10/1975 JOÃO ALVES, O CASCAVEL, DE CANGACEIRO A CURANDEIRO

Acervo do pesquisador Antônio Corrêa Sobrinho

 Lembrando ao leitor que este artigo foi publicado no jornal "O Globo" em 05 de outubro de 1975

Aos 97 anos, Cascavel, que lutou no bando de Antônio Silvino, é o outro cangaceiro nordestino ainda vivo, chama-se João Cosme Alves e vive na Ilha do Bispo, pequeno povoado na periferia de João Pessoa, na Paraíba, preparando garrafadas que curam dor de dente, espinhela caída, doenças venéreas e até impotência masculina. Cascavel garante que já expulsou o demônio do corpo de uma mulher que contraíra uma doença chamada “macaca-de-purungá”. E embora se sinta obrigado muitas vezes a pedir esmolas na esquina da rua em que mora, costuma emprestar dinheiro a quem precisa, sem cobrar juros e nem lembrar os compromissos dos devedores.

Em 1903 – há exatamente 72 anos – Cascavel enfrentou um desordeiro que pretendia desonrar sua cunhada. Ele diz que apenas emasculou o homem. Mas outros garantem que matou o galanteador. Foi durante a fuga para escapar da prisão que encontrou o bando de Antônio Silvino e seguiu o cangaceiro, tornando-se famoso nos sertões nordestinos.

Cascavel lembra os feitos do bando de Antônio Silvino contando o caso da invasão da fazenda de Manoel Belo, em Pernambuco. O chefe dos jagunços mandou pedir três contos de réis ao fazendeiro e recebeu o recado de que teria três balas se ousasse chegar perto da propriedade:

- Juntos, nós invadimos o lugar e todos fugiram, o dono da fazenda e a resistência organizada por um destacamento da polícia. Manoel Belo chegou a Caruaru sem conseguir falar e, quando recuperou o fôlego, só conseguiu dizer: “Antônio Silvino”.

TUDO NA VIDA

Cascavel diz que já fez quase tudo na vida. Foi sapateiro, carpinador, barbeiro, funileiro e agora é rezador ou curandeiro. O apelido lhe veio quando era menino, depois que foi picado por uma cobra cascavel e esteve entre a vida e a morte. “Mas quem morreu foi a cobra”, e o episódio valeu-lhe o nome que a princípio incomodava e depois virou lenda.

A camisa entreaberta ao peito deixa à mostra uma cicatriz. Cascavel explica que o buraco é de bala calibre 44 e o tiro foi durante a companha de Princesa, em 1930, na época em que servia na Polícia Militar. Recorda a noite em que chegou à capital da Paraíba, quando João Pessoa era presidente do Estado, antes da Revolução de 30, em companhia dos batalhões destroçados pelas tropas rebeldes de José Pereira.

- Da ponte Sanhauá, avistei o fogo que subia em labaredas mais altas do que os prévios. O povo incendiava a Casa Vergara, o armazém mais importante da cidade, ligado aos rebeldes de Princesa, e isso mostrava que a Revolução tinha começado.


Fonte: facebook
Página: Antonio Corrêa Sobrinho

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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