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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

CARTINHA A ELA

*Rangel Alves da Costa 

Mylla é o nome dela. O nome de minha namorada. O nome de meu amor. Ela gosta que a chame de Myllinha. Também gosto de chamá-la assim. Mas não importa o nome. Importa a flor. Importa o amor.

Mas de repente o meu amor se fez de ventania para sair de minha janela. Sem qualquer motivo forte que justificasse o voo ligeiro, mas a verdade é que ela já se diz no ar e pronta para voar, pronta para partir.
Incompreensões da vida. Ela me quer ao seu lado, eu também quero demais - e até preciso - estar ao lado dela, juntinho, dentro do corpo e do coração. Mas só porque não poderei estar num certo dia e num certo momento, então ela se fez de ventania.

Não só de ventania, mas também de voraz tempestade, de redemoinho devastador, de furação avassalador. Pela minha ausência num instante, num só final de semana, e ela se fez cheia de ódios, raivas, agressividades, ameaças, de palavras ferinas, de punhaladas mortais. Tudo isso para dizer que vai voar.

O meu amor é tão grande que recuo para não torná-la mais odiosa. Ela esbraveja e tento apenas ouvir. Ela cospe em fogo suas razões e apenas entristeço tendo que ouvir. Ela não aceita uma só palavra minha, uma só razão que a faça compreender, mas ainda assim apenas entristeço. Quero apenas continuar amando o meu amor.

Quero apenas continuar amando o meu amor, e isso repeti várias vezes. Mas ela não ouve. Ela não compreende o motivo justo que tenho de me ausentar por um final de semana. Um, apenas, um, e ela diz que já não me quer mais, que não é mais minha namorada, que não é mais nada na minha vida.



E o pior: vai me ferir, vai me machucar. Ao dizer que vou me arrepender por não estar ao seu lado neste final de semana, acrescenta dizendo que vai fazer tudo aquilo que tanto peço que não faça. Que vai curtir, que vai beber, que vai fazer tudo aquilo que uma pessoa livre faz.

Tenho máxima certeza que são apenas palavras lançadas em momento de raiva. Ainda assim, não deixam de ferir, machucar, maltratar. O pior de tudo é que nas palavras ressoam todo o inverso do que costumamos dizer e prometer um ao outro. É como se o amor de repente se transformasse no seu mais absoluto inverso.

Mylla, menina minha. Mylla, minha namorada e mulher, nós não construímos possibilidades para que assim acabem. Nós não nos comprometemos tanto para que raivas ou ódios infundados possam ser mais fortes do que nós mesmos. Nós não estamos brincando de amar, não estamos brincando de nós mesmos.

Mylla, nós já não somos mais crianças para que um diga apenas não ao outro e depois vá embora. Nós não somos tão irreais que não compreendamos que o amor se constrói a cada esforço de luta pelo que desejamos e não pelo nada que surge para desconstruir.

Um final de semana, dois dias, não é o fim do mundo. Uma ausência de dois não significa uma eterna separação. Quem ama compreende o outro, quem ama sabe esperar, quem ama não se deixa conduzir apenas por ódios.

Quando segurei pela primeira em sua mão não o fiz em vão. E quando na sua mão apertei, naquele momento senti que não mais desejava afastá-la de mim. E daí em diante nós caminhamos de mãos dadas, como devemos continuar pela estrada.

Mylla, você é bonita demais para embrutecer, você é bela demais para ter na face o rancor, você é doce demais para ter na boca o azedume de tudo. Mylla, você é minha demais para num instante de ódio dizer que nada mais é.

Agora silencio. Mas a voz continua por dentro. E você, Mylla, sabe muito bem o que pode ouvir no meu coração. Amo-te!

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com


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