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sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

O PREFEITO QUE ENFRENTOU LAMPIÃO PARTE III

Por Ana Paula Cardoso

Resistência marcou a história da família Fernandes

Além da história de Mossoró, o plano de defesa orquestrado por Rodolpho Fernandes é um marco e motivo de orgulho para os descendentes do prefeito mais corajoso que a cidade já teve. O filho mais novo de Rodolpho, Raul Fernandes, dedicou 15 anos de estudos para escrever o livro “A Marcha de Lampião”, que narra com detalhes a vida na cidade à época da invasão, o percurso percorrido pelos cangaceiros e o empenho das trincheiras montadas para a defesa de Mossoró.

Além de Raul, a ilustradora e bisneta de Fernandes, Marcela de Carvalho, também escreveu um livro sobre a resistência mossoroense. Voltado para o público infantil, “Lampião e o vovô da vov´na cidade de Mossoró” conta de forma lúcida como os mossoroenses conseguiram expulsar o bando de cangaceiros mais temido do Nordeste.

A revista Bzzz conversou com Marcela Carvalho sobre a resistência de Mossoró ao bando de Lampião e sobre o livro que preserva esta história.
Bzzz – Seu bisavô, Rodolpho Fernandes se tornou um ícone da resistência. A história da defesa da cidade contra o bando é contada até hoje entre a sua família? Virou motivo de orgulho?

Marcela Carvalho – Na família essas histórias são contadas com orgulho. Mas também com certo distanciamento, pois meu avô Paulo casou com minha avó Ana Luíza bem depois da morte de Rodolpho e eles criaram os filhos (minha mãe e meus tios) no Rio de Janeiro. Desse modo, as distâncias cronológicas e até mesmo físicas deixaram a história bem longe.

Bzzz – Você não conheceu seu bisavô, mas ainda assim, deve ter ouvido sobre ele em casa. Como sua família o descreveu para você?

MC – Meu tio avô Raul Fernandes. O Irmão de meu avô, Paulo, escreveu um grande livro sobre o assunto. Na minha opinião, o mais completo sobre o assunto “A Marcha de Lampião”. Há muitos livros sobre o assunto. E todos os que se aprofundaram ma pesquisa do cangaço acabam esparrando no Cel. Rodolpho. Conheço esse meu antepassado pelos livros e não por relatos pessoais e afetivos de pessoas com quem convivi. Isso é incrível.

Bzzz -  Recentemente, você lançou um livro infantil contando de forma lúdica a história da resistência ao ataque de Lampião a Mossoró. Como foi o processo de construção da obra?

MC – Sou ilustradora, contadora de histórias. Sou mãe e trabalho com crianças há algum tempo. Sou pesquisadora de Lij. Em uma conversa falei do feito de meu bisavô para Laura Van Boekel (coordenadora editorial da Zit editora) e ela achou que valia um livro, e quis saber se eu ilustrava. Eu me ofereci não só para ilustrar, mas também para escrever. Pra isso, tive que “passar no crivo” dela. P que foi um desafio delicioso.

Para o livro “Lampião e o vovô da vovó na cidade de Mossoró!” Em me baseei nas verdades históricas recolhidas por Raul Fernandes. Não só por ser meu tio avô e filho direto do grande herói dessa história, mas porque Raul foi muito criterioso no seu estudo. A precisão dos dados que ele apresenta é de um cuidado admirável.

Bzzz – O seu livro será lançado agora em agosto no Rio de Janeiro. A história da resistência de Mossoró ao ataque de Lampião desperta a curiosidade e tem boa receptividade do público carioca?

MC – Certamente. No Rio de Janeiro, Lampião é muito conhecido, assim com no Brasil inteiro. E as histórias de família são sempre de todos, todo mundo tem a sua família, o seu herói, a sua história. O causo do encontro dos cangaceiros com os coronéis interessa a todos nós.

Bzzz – No seu livro, as ilustrações são feitas de bordados. Por que você resolveu usar essa técnica? Qual a relação do bordado com a história da sua família e da resistência?

MC – O bordado tem sido meu modo de ilustrar, de dar vida aos desenhos iluminando os textos. Já tinha usado essa técnica em outros livros como o livro da canção de Gilberto Gil “A linha e o linho”. O bordado tem uma história de resistência. O próprio ato de bordar hoje é resistir. Resistimos ao tempo acelerado, resistimos ao consumo, à agulha penetra o tecido e a linha, o nó resite. E além disso, o cangaço é uma manifestação muito preciosa do bordado feito no Brasil. A produção dos cangaceiros e cangaceiras por uma coisa impressionante.

Bzzz -  Para você, qual a importância de reservar a história da luta dos mossoroenses contra o ataque de Lampião?

MC – Preciso contar essa histórias para o meu filho e minha filha (protagonista da história dentro da história). É importante que as gerações seguintes saibam de que maneira viveram seus antecedentes para que saibam mais de si e de seu entorno.

Bzzz – No livro “Jararaca: o cangaceiro que virou santo”, Fenelon Almeida escreve que, para acalmar os ânimos nas trincheiras de defesa de Mossoró, Rodolpho Fernandes distribuiu conhaque aos homens. Esse causo é verdadeiro?

MC – Não tenho repertório para contestar ou concordar com esse relato do autor Almeida. Raul Fernandes não fala sobre isso no livro dele “A Marcha de Lampião” e eu nunca tinha ouvido falar. O que sei é que o episódio do cangaço em Mossoró e em outros locais fala de um tempo distante, mas presente. É uma memória recente. Na comemoração dos 80 anos da resistência, em 2007, havia heróis vivos. E as versões das histórias são muitas.

CONTINUA...

Fonte:
Revista: BZZZ
Ano: 4
Nº: 51
Páginas: 24 e 25.
Mês: Setembro de 2017.
Digitado por José Mendes Pereira
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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