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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

DA LAGOA DO MIJO AO JALAPÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de fevereiro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.850

O artesanato brasileiro firma-se cada vez mais na Europa e nos Estados Unidos, assim como a literatura de cordel. E por falar em artesanato, vamos ao Parque Estadual do Jalapão, região leste de Tocantins. No vilarejo de Mumbuca, município de Mateiros, teve início à arte com um capim do campo chamado capim-dourado. Com ele a comunidade quilombola fabrica bolsas, brincos, cestas e muitos outros objetos que ficam parecidos mesmo com mercadorias de ouro tal o brilho dourado do capim. Lá fora algumas peças podem custar até 500 dólares. A comunidade é pobre, onde tudo falta. O capim colhido na região do parque vem por inteiro e não deixa sementes para a perpetuação da planta. A escassez do produto já teve início e preocupa as próprias artesãs. 

CAPIM DOURADO. FOTO: (GUIA TURÍSTICO BRASIL).

 Isso faz lembrar o artesanato sertanejo de Santana do Ipanema e Poço das Trincheiras, baseado no barro, no cipó e na palha do coqueiro Ouricuri. A região da antiga Lagoa do Mijo – atual povoado Alto do Tamanduá e Baixa do Tamanduá – fica na fronteira dos dois municípios, servida pela BR-316. Ali se fabricava bem as panelas de barro, jarras, potes, porrões, brinquedos como o boi e éguas com caçuás. Enquanto as mulheres confeccionavam no barro vermelho, os homens trabalhavam com cipós fazendo balaios e caçuás. O barro foi ficando escasso e o desmatamento fez desaparecer os cipós, parasitas de grandes árvores da caatinga. E agora, como ficam as comunidades?
     No Bebedouro/Maniçoba, bairro de Santana do Ipanema, as artesãs trabalhavam com palha de coqueiro Ouricuri, fazendo chapéus, abanos e esteira-de-caboclo. Devido aos velhos costumes de queimadas nos roçados, os coqueiros também sofreram muito com as queimaduras. Centenas e centenas desapareceram e outros deixaram de produzir a palha e o coco. Vai ficando cada vez mais raro encontrar esses produtos nas feiras da região sertaneja, inclusive, o tão delicioso “rosário-de-coco”, nas feiras de Semana Santa.
A brutalidade e a ignorância contra a Natureza vão acabando com tudo. É o trator humano sobre o paraíso vegetal da Lagoa do Mijo ao Jalapão.


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