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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

O PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB) E O CANGAÇO LAMPIÔNICO - VISÃO ERRÔNEA SOBRE UM CHEFE CANGACEIRO -

Em determinada época na sequência historiográfica pesquisada e editada do Fenômeno Social Cangaço, alguns adeptos partidários políticos, principalmente com ‘ideologias comunistas’, tentaram levar para a população uma imagem diferente da real quanto a posição social dos cangaceiros, referindo-se precisamente ao último dos grandes chefes que existiram, o pajeuzeiro Virgolino Ferreira, cangaceiro “Lampião”.

O cangaceiro, em toda história da existência do Fenômeno não teve, nem defendeu, uma bandeira social/partidária a não ser a dele própria. Existiram três classes de cangaço, classificadas por uma das maiores autoridades no assunto, o sociólogo Frederico Pernambucano de Mello, que foram a da VINGANÇA, o cangaceiro vingador que se juntava aos outros para poder executá-la, a da FUGA, onde o sertanejo procurava os bandos de cangaceiros em busca de proteção, fugindo dos inimigos diretos e/ou da própria polícia, outros deixavam as volantes, desertando, e procuravam juntarem-se aos bandos cangaceiros, tanto que Nicanor Guedes de Moura Alves, quando exercia o comando geral das Forças que reprimiam o banditismo rural no estado da Paraíba, envia uma missiva com os seguintes dizeres: “...as praças desertavam aos grupos de quatro a seis diariamente, conduzindo armamento e munição para engrossarem as fileiras dos bandidos.” (MELLO, 2011). E, por último, a do cangaço MEIO-DE-VIDA, ‘arrecadando-se bens de maneira fácil’, tomando de quem tinha simplesmente, fase em que entrevam e desertavam na mesma intensidade.


Chefe cangaceiro Virgolino Ferreira - o Lampião 
Imagem registrada por Benjamin Abrahão em 1936/37.

O pesquisador/historiador citado acima, referindo sobre os dois maiores desafetos de Lampião, Zé Saturnino e José Lucena, quanto a vingança prometida ao mesmos, refere que se concluídas, não poderia mais ficar no cangaço. Teria ele que deixar as fileiras em busca de novas terras e respirar novos ares. Portanto, segundo o escritor, não eram mais as intenções do chefe cangaceiro deixar seu ‘reinado’ tão lucrativo.

Pois bem, o jornalista/escritor/advogado e militante do Partido Comunista Rui Facó, em seu livro “Cangaceiros e Fanáticos” publica em 1963, diz, querendo sensibilizar a população, principalmente a rural, que “o cangaço foi proto-revolucionários”. Onde já se viu o cangaço ter raízes e/ou ideais político-revolucionárias. São, ou foram essas informações descabidas, talvez procurando juntar o útil ao agradável, as ações dos cangaceiros que tiveram seu fim na década de 1930 ao momento político nacional daquela época, que Facó, entre outros, lançaram em suas literaturas tais informações descabidas.

Na primeira metade da década de 1930 o PCB já de olho numa tomada revolucionária do País, leva para Moscou, capital da União Soviética, a proposta da integração dos cangaceiros numa ação de guerrilhas nos sertões nordestinos. Segundo José Ferreira Júnior, em uma matéria sensacional, citando o pesquisador/historiador Luís Bernardo Pericás, em seu “Cangaceiros”, ressalva: “Imaginando os cangaceiros como sendo sujeitos propícios à absorção de ideais revolucionários, o PCB leva à III Conferência de Partidos Comunistas da América Latina e Caribe, realizado em Moscou, em 1934, proposta de alinhar os cangaceiros na luta revolucionária, fazendo-os participantes das guerrilhas nordestinas. Moscou compra a ideia do PCB e se propõe a apoiar a intensificação dos contatos com os cangaceiros(...).”


Não houve, nunca mesmo, se quer um pensamento de caráter revolucionário em nenhum dos cangaceiros desde o surgimento do Fenômeno no segundo meado do séc, XVIII até seu total fim em maio de 1940. O pesquisador/escritor Péricás diz, referindo-se a proposta idealizada pelo PCB e levada a Moscou: “os comunistas ingenuamente achavam que se poderia dar um caráter revolucionário ao cangaço, influenciando-o de tal forma que vários grupos de bandoleiros iriam até mesmo querer adotar o programa da Aliança Nacional Libertadora (ANL)”.

“A ideia do PCB era reflexo da ideologia stalinista da revolução num só país, que defendia a revolução por etapas e as políticas de frentes populares. Uma aliança dos trabalhadores com a ala mais progressista da burguesia nacional, o que significava a subordinação política da classe. Tratava-se de uma visão linear da história, ideia que confrontava o pensamento leninista que defendia que o socialismo era, antes de tudo, análise concreta de situações concretas. É óbvio que o devaneio do PCB ficou somente no devanear.” ( José Ferreira Júnior).

A existência do discurso contemporâneo referindo os ‘devaneios’ daqueles que formavam as fileiras do PCB, defendendo o “revolucionarismo nas ações lampiônicas”, e ainda afirmando “ter sido o cangaço lampiônico luta contra as injustiças protagonizadas pela estrutura coronelística e oligárquica dos seus dias”, não tem como segurar-se, pois não se pode pensar alguém revolucionário estabelecer relações de compadrio com a classe que oprime.

Chamar o cangaço lampiônico de ‘protorrevolucionarismo’, e ‘Lampião de revolucionário’ é, sinceramente, desconhecer o que foi o movimento camponês chamado Fenômeno Social Cangaço. Não só quanto ao cangaço, mas vemos ao longo da História, tais expressões, típica da política estalinista, de não realizar uma profundo análise concreta, das situações concretizadas e/ou concretizantes, determinando em termos leninistas cada formação econômico-social sem o conhecerem exatamente qual seja.

Por outro lado, sabemos que os ideais dos comunistas sempre foram de usar uma ocorrência social, ou mesmo a falta desta, sem saber qual fora, nem suas razões, para influenciar ou bitolar a mente daqueles menos favorecidos culturalmente e usá-los para seus fins de galgarem o poder.

Fonte José Ferreira Júnior
Foto Benjamin Abrahão
OBS.: Foto de Lampião colorizada, digitalmente, por Rubens Antonio

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