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quarta-feira, 18 de abril de 2018

O SERTANEJO, SEGUNDO O LIVRO DE JÓ

*Rangel Alves da Costa

Um livro bíblico de Jó é um verdadeiro cântico do sofrimento, mas também de fé. É a demonstração da fé em meio às contínuas angústias e aflições. Jó é testado na tentativa de se afastar de seu Deus, mas ainda assim mostra-se sempre fiel. Padece, mas transforma o padecimento em superação.
Além de perder filhos, bens, riquezas e uma vida cheia de benesses, de repente Jó se vê tomado pelas próprias dores da alma, pelas doenças, pelos males do mundo. Contudo, resiste, persiste na fé, sendo sempre levado pela esperança de que os justos alcançam a salvação.
O Livro de Jó se caracteriza, pois, por ser a prova mais contundente de devoção a Deus. Os desatinos sofridos, as dores sofridas, os tormentos vividos, nada disso foi maior que a sua crença. Quanto mais padecia mais acreditava, quando mais se afligia mais sentia que seria recompensado pela dádiva sagrada.
Com as devidas compensações, o Livro de Jó muito se aproxima do livro da vida do homem sertanejo. Não que este um dia tivesse sido rico e depois de tudo perdido tivesse sido tentado na sua fé, mas pelo constante sofrimento que carrega consigo e ainda assim jamais abandona sua convicção religiosa.
Diz o Livro de Jó: “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal”. Diz o Livro do Homem, do homem sertanejo: Havia um homem na terra sertão e este era íntegro, trabalhador, cuja devoção religiosa o tornava um servo de Deus sobre tudo.
Diz o Livro de Jó: “Que veio um mensageiro a Jó, e lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pastavam junto a eles; E deram sobre eles os sabeus, e os tomaram, e aos servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova”. Diz o Livro do Sertanejo: Que veio a estiagem e a tudo dizimou, o rebanho secou e a planta morreu, no fundo do tanque só restou o barro endurecido e petrificado.


Diz o Livro de Jó: “Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou. E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor”. Diz o Livro do Sertanejo: O que é meu me foi dado por Deus, e se é do seu desejo que tudo se vá, então que seja feita a sua vontade.
Diz o Livro de Jó: “Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma”. Diz o Livro do Sertanejo: Que seja feita a vontade de Deus. Não sou eu quem tem o poder de mandar a chuva cair, de fazer com que a planta renasça, de trazer de volta a força nos animais. Tudo na vontade de Deus e sua justiça será feita segundo o seu tempo.
Por que o sertanejo é assim, é assim como um Jó que sofre, que lamenta, que se aflige por dentro, que sente na pele e na alma todo o tormento do mundo, mas jamais renega sua fé. O sertanejo possui tamanha crença nas forças sagradas que sempre acredita no amanhã como um dia de renascimento.
Por que o sertanejo é assim, é assim como um Jó que depois de tudo perdido continua acreditando que tudo será reconquistado. O gado que berra faminto amanhã terá pastagem farta, o tanque seco amanhã já estará transbordando, a fome do homem e do animal é apenas um instante de privação, pois logo haverá fartura.
Por que o sertanejo é assim, é assim como um Jó que nunca esmorece ante as forças do mal e nem nega sua fé e o seu Deus perante as falsas promessas. Na casa sertaneja nunca deixará de existir a imagem santa, a vela acesa, o oratório, o terço, o rosário, a Bíblia. No sertanejo nunca silencia a prece, nunca se mostra inútil o sino da capelinha que brada na hora santa.
Jó foi salvo pelo seu destemor e pela sua fé. O sertanejo é sempre salvo por sua abnegação de fé e por sua contínua esperança nos dias melhores que virão em nome do Senhor.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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