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domingo, 24 de março de 2019

QUAL O DIA DO ATAQUE A FAZENDA TAPERA? ‘DOS GILO’


Por Sálvio Siqueira


São muitas as controvérsias encontradas nas obras literárias que discorrem sobre o Fenômeno Social Cangaço. As mais antigas, ou seja, que foram elaboradas, feitas, editadas, mais próximas aos fatos existentes no fenômeno, incrivelmente são as que nos trazem mais distorções. Várias outras, pegando o conteúdo destas, logicamente o erro se propaga. E, se propagando, a historiografia está contada, ou, no caso, descrita incorreta.

Só descobrimos a imagem de Horácio Grande através do livro dos pesquisadores de Floresta Cristiano Ferraz e Marcos De Carmelita Carmelita. Até o lançamento do livro "As Cruzes do Cangaço" em meados de 2016, pelo menos que saiba, jamais pesquisadores, autores ou estudiosos tinham ou sabiam de como era fisicamente através de registro fotográfico Horácio Cavalcanti de Albuquerque, o conhecido Horácio Novaes.

A data do ataque do bando de lampião a Fazenda Tapera, imóvel rural que tinha como proprietário Manoel Gilo, homem destemido, trabalhador e honesto, porém, valente ao extremo, fora dita, escrita e contextuada em uma data fora do ocorrido. Isso, para a história é demasiado penoso, pois leva-nos há horas, dias ou meses diferentes. Prejudicando o conteúdo histórico. Não sabendo-se, até se aceita, no entanto, tendo condições de cravar nas entrelinhas das páginas de seus livros, para nós, é um dever o autor fazê-lo.

O discorrer da preparação, distribuição dos homens feita antecipando ao ataque feito por Lampião é narrada, descrita, nas obras literárias contando como o “Rei do Cangaço” colocou seus ‘cabras’ na montagem de piquetes nas estradas que davam acesso a sede do município aonde ocorreu o fato. Essa providência tomada pelo chefe mor do cangaço era para que aqueles que se dirigissem a mesma: vendedores, compradores, tangerinos, tropeiros, fossem parados e presos, ou mantidos como reféns, como queiram, enquanto o ataque se consumia, de fato, na sede da fazenda. Isso, entre outras coisas, impediria da população que iriam à feira semanal da cidade dar o alarma quanto o que estava acontecendo, assim, impediria uma provável ajuda, auxílio, em armas da guarnição aquartelada no batalhão da Polícia Militar daquela cidade ou mesmo por parte da população urbana que se voluntariasse. 


Pois bem, essas discrições desses fatos estão descritas nas várias entrelinhas de inúmeras obras literárias. O caso é que juntando a essas, vem a informação do dia de feira e em seguida, ou antecipadamente, dizem que fora numa quinta-feira, dia 26 de agosto de 1926.


Não tem como ter ocorrido numa quinta-feira, que foi o dia realmente 26 de agosto daquele ano, pois jamais se teve uma feira em Floresta, PE nesse dia. As feiras semanais da cidade citada no Sertão do Pajeú sempre ocorreram aos sábados. Portanto, data e dia distorcido daquele em que o caso se deu.

Não podemos ver e saber, porém nada dizer quanto a um erro crasso sobre um fato histórico tão horrendo, covarde e traiçoeiro da parte de Horácio Novaes de Albuquerque, o Horácio Grande, que conseguiu tapear Virgolino fazendo com que esse juntasse seus cangaceiros e fosse tirar satisfações sobre uma provocação que ‘teria’ feito Manoel Gilo através de uma carta. Sem possuir a coragem necessária para enfrentar Manoel Gilo, Horácio covardemente manda sua esposa fazer uma carta provocando e desafiando o “Rei do Cangaço” em nome de Manoel. Essa mentira resulta em treze vidas ceifadas naquele dia de feira, 28 de agosto de 1926, pelas balas assassinas das armas dos cangaceiros por parte dos familiares de Manoel Gilo e amigos. E por outro lado, um dos parente “dos Gilo”, Permínio Alves dos Santos, fazendo parte do plano de Horácio Novaes, entra no complô na parte que caberia informar e tentar agrupar todos os homens da família, em um só local, marcada para morrer.


Agradecemos aqui aos pesquisadores florestanos Marcos De Carmelita Carmelita e Cristiano Ferraz que, através do seu livro, “As Cruzes do Cangaço – Os fatos e personagens de Floresta - PE”, 1ª edição, 2016, vieram nos esclarecer e colocar um ponto final nos equívocos constantes nas outras obras literárias. Assim, os autores descrevem parte do ataque, sua preparação, traição e arquitetura do plano para matar as pessoas de uma família no Pajeú das Flores em agosto de 1926, época do cangaço lampiônico:

“(...) O ataque à fazenda Tapera foi planejado minuciosamente. Permínio Alves dos santos, filho de Severiano Francisco dos Santos e de Belarmina Francisca de Barros, nascido em 02/01/1894, parente dos Gilo que residia a pouco menos de dois quilômetros dali, fora envolvido na trama. Permínio recebeu uma ameaça de Horácio dizendo que, se por acaso ele não o ajudasse, a sua família iria arcar com as consequências, e ofereceu a quantia de 200 mil réis em dinheiro para que ele reunisse todos os homens dentro de casa e o seduziu com a oferta financeira.


No dia 27 de agosto de 1926 sexta-feira, Permínio fez uma visita à casa dos familiares. Com uma boa soma nos bolsos, planejou como iria concretizar o seu plano. Surgiu então a ideia de convidar todos para um jogo de baralho.

O caçula dos Gilo, Cassimiro, ainda um menino com quinze anos de idade, foi a cidade de floresta na companhia do senhor José de Ângelo Torres (Zé de Anjo), que morava a quatrocentos metros a leste dali, na sua propriedade de nome Tapera, casado com Brígida Freire da Silva. Zé de Anjo tinha ido pedir a Gilo Donato para que o acompanhasse na entrega de uma carga de rapaduras e ele respondeu:

- Eu não vou não. Cassimiro serve prá ir mais você? Porque eu não posso ir. Leve Cassimiro que é menino, eu mando ele e vou ficar.

O velho Gilo já estava combinado com Permínio e os familiares para jogarem e não queria perder a hora(...).

Na madrugada do dia 28 de agosto de 1926 (sábado), os cangaceiros cruzaram o riacho do Capim Grosso, chegando embaixo de uma encosta, protegidos por um lajedo de pedras, a poucos metros da casa.

Lampião dividiu estrategicamente seus homens em diversos locais. Alguns cangaceiros tomaram a estrada que levava à cidade, com ordens para aprisionarem todas as pessoas que por ali passassem indo à feira.

Outros bandidos, entre eles João Ângelo de Oliveira, vulgo “Vereda” sob o comando de “Félix Caboje”, se posicionaram esperando o reforço da Força Volante, que poderia chegar a qualquer momento de Floresta ao tomarem conhecimento do combate (...).” (O.C.)

Foto “As Cruzes do Cangaço – Os fatos e personagens de Floresta - PE”, 1ª edição, 2016,
Agosto 1926
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