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quarta-feira, 8 de maio de 2019

NUM DIA DE PÁSSARO

*Rangel Alves da Costa

Acordei logo após a madrugada e depois que abri a janela e olhar adiante, ainda com as poucas luzes do alvorecer, então disse a mim mesmo: Hoje é dia de pássaro!
Mas por que dia de pássaro? Passei a indagar em seguida. Busquei a melhor resposta e então surgiu: Talvez porque hoje eu queira viver além da terra, eu queira como que voar.
Isso mesmo, depois confirmei. E disse mais: chega de viver apenas dias de vermes, de rastejantes, de bichos se embrenhando pela terra. Chega do reles chão e seu vagar espinhento.
Sim, eu queria que o dia fosse de pássaro e não de outro animal. Eu queria que o dia fosse de espaço, de céus, de azuis, de horizontes, e não entre as mesmas pedras do caminho.
Eu queria voar. Não precisamente ter asas para voar, mas ter as asas que desprendem o indivíduo da mesmice e o eleva ao alto. As asas dos sonhos grandes, dos grandes feitos.
Somente com asas podemos sonhar, podemos querer mais, podemos correr atrás de realizações antes dificultadas pelo medo de cair do alto. Asas que se elevam na vontade, no desejo e no pensamento.
Muitas vezes cansa abrir a porta e sair por aí e para os mesmos lugares. Ruas, calçadas, esquinas, encontros com desconhecidos, tropeções, indelicadezas, caras feias e ameaças.
No reles do chão é assim. Caminhar entre os esgotos, entre as imundícies da cidade, entre os lixões, entre a pressa e o desassossego. Andar sempre correndo perigos e mais perigos.
Não sei se vale a pena o acostumar ou o contentamento com aquilo que nada eleva ao espírito. Não sei se vale a pena dizer que é feliz entre tantas e tristonhas felicidades.


Sim, sei que não é fácil mudar. O mundo em si parece num caminho sem volta e onde a cada curva há o encontro com o espanto e o inesperado. Um mundo de medo, de violência e de brutalidades.
Sei que o pássaro também sofre, entristece, cala seu canto, emudece dias seguidos. Sei que o pássaro chora sua dor, pranteia sua solidão, agoniza em seus dias de desventuras.
Mas também sei que o pássaro possui todos os horizontes do mundo para alçar voo. E por isso mesmo deixa o seu ninho, deixa sua árvore e se lança em meio às alturas. E vai.
E ser pássaro é isso, é também a possibilidade de não aceitar a continuidade engaiolada, fechada, aprisionada. Ser pássaro é ter a certeza que pode alçar o tão desejado voo.
Mas como dito, tantas vezes apenas o voo da imaginação, da ideia, do pensamento. Por mais que se deseje voar mais alto, surgem sempre os empecilhos pelas mãos do mundo que não soltam e não deixam voar.
Mas amanhecer num dia de pássaro é muito bom. É dizer a si mesmo que naquela manhã e no restante do dia, e talvez depois, o seu passo será diferente e não se permitirá o enclausuramento.
Ser pássaro de si mesmo é se prometer a felicidade, é dizer a si mesmo que vai voar e nada impede que voe. Aquele voe que tanto precisamos: à altura da maior felicidade possível.
E certamente você também amanhece com dia de pássaro. Ao abrir a janela, então logo diz que naquele dia nada lhe impedirá de ser feliz, de realizar, de sorrir, brincar, de alcançar grandes conquistas.
E que não fique somente na janela aberta. Voe. Voe porque não é todo dia que amanhecemos em dia de pássaro.

Escritor
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