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terça-feira, 6 de agosto de 2019

A HISTORIA DA CANGACEIRA ARISTÉIA - CAPIÁ DA IGREJINHA PARTE II


Por João de Sousa Lima

Zé Soares, primo de Aristéia, jovem de dezesseis anos, na companhia do amigo Pedro Tomáz seguiam para roça quando avistaram alguns cangaceiros que deram com a mão chamando-os. O irmão chamou Zé para correr. Zé falou que se corressem podiam morrer. Os dois foram ao encontro dos cangaceiros. O cangaceiro pedra Roxa foi logo identificado pelos irmãos. Pedra indagou aos jovens:

- Quem tinha na casa de Pedro Jaquinta?

- Tinha uma mulher!

- O que ela tava fazendo?

- Tava torrando umas pipocas !

- Volte e traga uma cuia cheia de pipoca pra gente !

Os rapazes voltaram e quando deram o recado à mulher, ela caiu assustada.

Zé Soares apressou-se

- Avia (se apresse ) Carolina!

Ainda no chão a mulher respondeu :

- Pegue ai, meu filho!

Zé pegou a cuia e levou até o cangaceiro.

- Oi só tem o torrero!

- Tá bom, ta bom! Volte e traga um machado pra eu tirar uma abelha que eu achei aqui!

Zé voltou, encontrando a mulher ainda no chão, tentando se recuperar do susto.

- Levanta, Carolina, me dá um machado que a coisa tá apertando!

- Pegue aí debaixo do banco!

Zé entregou o machado a Pedra Roxa e o cangaceiro obrigou Pedro Tomáz a tirar o mel. A empreita entrou pela noite, gastando o rapaz, duas caixas de fósforos para clarear e fazer fumaça, espantando as abelhas.

De repente um barulho foi ouvido e um farol clareou os cangaceiros e os rapazes. Era um caminhão abarrotado de soldados. Os cangaceiros se abaixaram e por muita sorte não foram avistados. Refeitos do susto os cangaceiros foram saborear o mel. Pedra Roxa se aproximou dos dois irmãos e alertou:

- Olhe, vão embora, mais se conversarem que me viram, passam por essa daqui (apontando a boca do mosquetão )!

- Eu por mim me garanto, só não garanto por este daqui! Falou Pedro Tomáz.

Diante do embaraço da resposta do irmão, Zé ficou sem palavras para se defender. O cangaceiro ameaçou o jovem :

- Qué dizê, rapaz, que você é assim? Você agora achou! Você agora vai aprender a viver!

No momento de angústia, Zé Soares se lembrou da padroeira do Capiá a quem ele venerava : “ Valha-me Nossa Senhora Divina Pastora “ Clamou Zé, silenciosamente.

Com pensamento na santa, as palavras vieram e ele disse:

- Mais Pedro como é que você diz uma coisa dessas comigo, eu tenho visto esses homens muitas vezes, estando com você e nunca falei nem pra minha mãe!

Foram as palavras salvadoras. O cangaceiro reconheceu que estava seguro.

Os jovens puderam seguir o caminho de volta. No trajeto Zé reclamou de Pedro.

- Mais Pedro como é que você fala uma coisa dessas comigo?

- Agente com medo não Sabe o que diz!

A escuridão da noite era testemunha de uma conversa de amigo cobrava de um amigo a sua lealdade e a justificativa do medo servia para pedir perdão e ser perdoado.

Nota: Relato colhido pelo autor, no dia 25 de janeiro de 2007, em noite festiva, na novena consagrada à Divina Pastora, no Capiá da Igrejinha. Canapí, Alagoas, Presente a ex-cangaceira Aristéia e o próprio Zé Soares.


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