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terça-feira, 27 de agosto de 2019

MENTOR DE LAMPIÃO. QUEM FOI SEBASTIÃO PEREIRA E SILVA

 Sinhô e seu primo Luís Padre

Nesta edição, o Nossa Folha prossegue com a série de reportagens sobre a vida de líderes de movimentos culturais, sociais e políticos. Última biografia sobre líderes de movimentos culturais, sociais e políticos do Brasil publicada pelo jornal Nossa Folha foi a de Manoel Antônio dos Santos Dias.

Nesta edição, é a vez de Sebastião Pereira e Silva "Sinhô Pereira", nascido em 20 de janeiro de 1896, em Vila Bela, atual Serra Talhada, em Pernambuco, em meio a uma áspera guerra entre as famílias Pereira (a sua) e Carvalho.

Ocupou posição de destaque na grande saga do cangaço nordestino, tendo sido um dos comandantes. Era neto de Andrelino Pereira, o Barão do Pajeú. Em suas andanças pelo sertão, na vida bandoleira, Sinhô Pereira se comportou como homem honesto e nobre, tendo como meta a vingança de dois parentes, vítimas da violenta luta entre as famílias Pereira e Carvalho, que encharcou de sangue e ódio o vale do Pajeú, desde o ano de 1848.

Era alfabetizado e trabalhava no campo, o que o diferia culturalmente dos outros bandoleiros. Ocorre que motivos familiares levaram-no a ingressar no cangaço, tendo recebido a insígnia de comandante de tropa. Segundo ele, a impunidade em Vila Bela teve seu auge em sua juventude, como no assassinato do seu irmão Né Pereira (Né Dadu), que nem inquérito policial houve.
Né Dadu - (Acervo Lampião Aceso)


Pressionado politicamente e perseguido por forças policiais, viajou para Goiás e Minas Gerais, onde obteve o título de cidadão mineiro. Foi o único comandante de Virgulino Ferreira da Silva (Lampião) e recebeu dos populares o apelido de Demônio do Sertão, por ser rei nas estratégias de guerrilhas pela caatinga. Por várias vezes, foi cercado pela polícia e conseguiu escapar. Segundo históricos, era homem do bem, embora justiceiro popular.

Abandonou o cangaço por duas vezes. A primeira, em 1918, quando Lampião ainda não integrava seu bando. Sinhô Pereira não se sentia à vontade sendo fora da lei, como acontecia com muitos cangaceiros. Ele contava que tinha nascido para ser cidadão, casar e constituir família.

Em 1918, Sinhô Pereira e seu inseparável primo Luís Pereira da Silva Jacobina (Luis Padre) resolveram recomeçar a vida e deixaram o cangaço. Alguns historiadores afirmam que eles haviam atendido a um pedido do padre Cícero Romão Batista que, por meio de carta, pediu que os primos deixassem a região do Pajeú, que vivia em clima de guerra e medo. Ao receber a resposta favorável, o sacerdote cearense enviou outra carta para padre Castro, no município de Pedro II, no Estado do Piauí, pedindo ao vigário que recebesse os dois jovens e encaminhasse-os para o Maranhão, mas os primos escolheram o Estado de Goiás.

A primeira retirada de Sinhô Pereira para o Estado de Goiás ocorreu em dezembro de 1918. De José do Belmonte, em Pernambuco, foram em direção ao Estado do Piauí. Em Simões, já distante do Pajeú, decidiram se separar para despistar possíveis perseguidores, marcando reencontro no Sul do Piauí, em Correntes, próximo à fronteira com Goiás. Dali, seguiriam até a São José do Duro, corruptela de São José d’Ouro, em Goiás, hoje Estado de Tocantins.

Luiz Padre rumou a Uruçuí, no Piauí. Já Sinhô Pereira seguiu para Corrente, também no Piauí, passando por São Raimundo Nonato e Caracol. Próximo destino seria Parnaguá, mas Sinhô Pereira foi surpreendido pela força policial comandada pelo tenente Zeca Rubens e um contingente de 20 soldados em Caracol.

Na ocasião, a casa em que Sinhô Pereira e seus homens dormiam foi cercada pela força policial. As carabinas de Sinhô Pereira estavam desmontadas, mas depois de um tiroteio, o cangaceiro e seu pessoal fugiram carregando Cacheado, gravemente ferido.

Tido por alguns como “arquiduque do sertão” e, por outros, o rei das guerrilhas na caatinga, mesmo com um grupo de cinco pessoas, conseguiu escapar, pois suas táticas de guerrilha funcionavam.

Ao atingir Nova Lapa, município piauiense de Gilbués, Luiz Padre soube que Sinhô Pereira fora cercado pela polícia do Piauí nas proximidades de Caracol. O primo de Sinhô Pereira resolveu prosseguir a viagem pelo cerrado piauiense, rumo ao Estado de Goiás, passando pela cidade piauiense de Santa Filomena, e perdeu o contato com Sinhô Pereira – que ficou por quatro dias na Fazenda Mulungu, com Cacheado muito ferido, até que o tenente Zeca Rubens mandou-lhe dizer que não o perseguiria enquanto ele tivesse tratando do cabra ferido.

Não resistindo aos ferimentos, o cangaceiro Cacheado morreu nos braços de Sinhô Pereira, que reiniciou a viagem, mas em Jurema, em Piauí, encontrou João de Bola, o cabra que feriu Cacheado, morto em combate por um dos seus homens. A partir deste episódio, a perseguição policial recrudesceu com o tenente Zeca Rubens e seus 40 soldados seguiram as pegadas de Sinhô Pereira que, ao longo das fazendas percorridas, ia trocando de animais.

Novamente cercado pela força policial, quando dormia, 40 léguas para além de Caracol, Sinhô Pereira e seus homens conseguiram furar o cerco policial mais uma vez. Em Tocoatiara Paulista, Sinhô Pereira e seu bando perderam os animais e, em Sete Lagoas, tomaram outros novos, que novamente precisaram ser trocados em Barra de São Pedro.

Nessa ocasião, Sinhô Pereira decidiu voltar ao Pajeú e lutar com seus inimigos, já que não o deixaram buscar a paz e o esquecimento em terras distantes, como era seu desejo. Desanimado, retornou a Pernambuco e desistiu da viagem ao Estado de Goiás. Ali, reassumiu o comando junto dos seus cangaceiros. Assim, em oito dias, estava novamente nas barrancas do Pajeú.

Até que, em 1922, Sinhô Pereira conseguiu deixar o Nordeste no seu segundo e definitivo abandono da vida do cangaço. Desta vez, saiu da Fazenda Preá, propriedade do coronel Napoleão Franco da Cruz Neves, casado com Ana Pereira Neves, sua prima e de Luiz Padre. Foi, então, que Sinhô Pereira entregou o comando do bando para Lampião e resolveu ir aonde estava seu primo, Luiz Padre. Para isso, passou a ter o nome de Chico Maranhão. Assim, Sinhô Pereira e seu primo Luiz Padre nunca foram presos.

 O velho cangaceiro no final da jornada.

O justiceiro popular só voltou a beber das águas límpidas do Pajeú em 1971, quando foi visitar a família em Serra Talhada, em Pernambuco.

Sinhô Pereira faleceu aos 83 anos, na manhã de 21 de agosto de 1979, na cidade de Lagoa Grande, no Estado de Minas Gerais, onde residia naquela época.



 Túmulo de Sinhô Pereira
Foto Ferreira Anjos para o Acervo Cangaçologia de Geraldo Jr.

Pescado no Jornal Nossa Folha.



http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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