Seguidores

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

BATIZADO NO RIO SÃO FRANCISCO


Por Jose Gilberto Ferreira

Esse era um dos meus sonhos, ser batizado nas água do Grandioso Rio São Francisco e de preferência na majestosa cidade de Piranhas. E o sonho se concretizou no dia 26 de Março de 2018. Chegamos naquele belo lugar por volta de meio dia, infelizmente não demos a mínima atenção para a parte nova da cidade, nem olhamos direito quando chegamos e tão pouco quando saímos. Fomos direto para a parte antiga cravada na beira do rio. Corremos para a margem do rio como quem estar com sede a vários dias. Tirei a sandálias e entrei na água até a altura do joelho, minha esposa veio e fez o trabalho de uma boa pastora. Derramou sobre a minha cabeça as aguas sagradas do velho Chico. Fiz o mesmo com ela. O meus genro Luiz Eduardo entrou foi com roupa e tudo e a minha filha Natureza depois de molhada ficou só olhando.

Depois do batismo, com o corpo e a alma renovada, retornamos para saborear tudo que estava ao nosso redor. Caminhar passo a passo e observar tudo aquilo é gratificante para qualquer ser humano. O lugar desperta a curiosidade dos visitantes com suas ruas fora de padrão de alinhamento, ora estreita, ora largas, o colorido das fachadas com cores fortes e diversificadas. Realmente é deslumbrante, é indescritível. Quase todo o seu casario e prédios permanece no mesmo estilo da arquitetura colonial de séculos atrás. Esse era um dos motivos de estar ali, o outro era o valor histórico das lutas épicas e sangrentas vividas pelos antigos moradores contra os cangaceiros que por muito tempo assombraram o Nordeste Brasileiro.

Depois de caminhar pelas rua do pequeno lugar, me afasto um pouco, e de súbito entro em transe, e me tele transporto ao passado. São exatamente três momentos bem distante vivido naquele mesmo lugar.
De repente me vejo, e lá estava eu, fazendo parte e opinando na comitiva do Imperador do Brasil, D. Pedro II, quando da sua estada em Piranhas no dia 18 de Agosto do ano de 1858. E ali no sobrado onde ele se hospedou foi discutido por ele pela primeira vez na história, a tão sonhada transposição do Rio para o resto do Nordeste.

Em seguida deixo essa reunião e vou para o ano de 1936. Esse dia foi marcante para mim e para a população da cidade, foi a Invasão do Cangaceiro Gato e seu bando. Era o dia 29 de agosto de 36. Um dia antes a cidade recebeu um telegrama avisando que o bando do Gato iria atacar. Gato era chefe de um subgrupo e um dos cangaceiros mais violentos pertencente ao grande grupo de Lampião. Gato resolveu atacar Piranhas com ajuda de Corisco, na tentativa de resgatar a sua amada Anicinha que tinha sido preza um dia ante num fogo cruzado entre o seu bando e a volante do Tenente João Bezerra. Ele pensava, tinha quase certeza, mas ela não estava lá. E eu onde estava nesse dia? Ora eu estava no meu do povo, via tudo, estava nos dois lado do fronte ao mesmo tempo. Ouvia os dois lado, era como assistir uma fita. Vi quando o juiz e o delegado Cipriano Pereira juntamente com os oitos policias debandaram deixando a cidade entregue à própria sorte. Como sou intrometido entrei junto com o bando, era entre dez e onze horas, e assistir ali de perto o terror deixando por Gato. Com seu punhal ia furando quem encontrasse, matou quatro homens antes de chegar no centro do lugarejo, onde, cheio de ódio sangrou o jovem João Seixas de apenas 15 anos de idade, achando que o garoto não havia falado a verdade sobre a presença dos policiais.

Depois começa o tiroteio, bala pra todo lado. Saio correndo me defendendo do fogo cruzado e fui ficar com o seu Chiquinho Rodrigues que estava no sobrado de sua casa com um companheiro de luta. Os dois fazia parte dos poucos que ficaram para defender a cidade. O ponto onde eles estavam era estratégico, sem contar que ele estava com trezentas balas dentro de uma lata e dali mesmo ele mandou fogo nos bandidos, o primeiro que ele acertou foi o próprio Gato, depois mais um. Quando eles percebem que o bando era composto por mais de 22 homens, ouvi quando o seu companheiro, disse, - homi, sabe de uma coisa, nós tamos é frito chiquim. Seu Chiquinho gritava, eles não entram, eles não entram, se entrar eu toro no meio. Ele era novo, cabra disposto e só tinha 26, mas como era de família abastada e comerciante no lugar, já era chamada de Coronel. E ele não queria morrer e meteu bala nos cabras. Seu rifle de dez tiros era disparado feito uma rajada de metralhadora, e isso despertou o receio dos bandoleiros. Saio dali e dou uma volta pelas ruas e vejo o Gato quase morto caído em uma esquina, depois carregado pelos seus companheiros. Mais na frente quase me esbarro com Corisco, quando esse foge das balas disparada por Dona Cyra que estava na cidade, ela era mulher do Tenente João Bezerra. Me aproximei bem para o centro onde estava a maioria do bando, cada um tentava se proteger das saraivada de balas disparadas por seu Chiquinho. O Corisco se maldizia para os seus homens, e dizia - esse peste, filho de uma rapariga, parece que é doido, pelo jeito vai matar todo mundo. O diabo não se entrega, vamos bater em retirada, que é melhor, o gato já tá morto mesmo. Vamos embora se não vai morrer mais gente. Depois de muita peleja, o bando desistiu. Fincaram pé e foram embora, levando seus feridos e dois mortos, deixando para trás dez defuntos.

Em seguida viajo dois anos para o futuro. Era o dia 20 de julho do ano de 1938. Desci a rua principal, fui para a margem do rio e dali peguei uma pequena embarcação que me levou para o outro lado pertencente ao Estado de Sergipe. De lá fui até o casebre de Raimundo Candido, e para minha quase surpresa, pois eu já era sabedor que ele andava por lá. Vinham cansados, meios abatidos. Foi pouca a conversa, quase nada, mas ouvi quando ele deu algumas ordens para o coiteiro dono casa. Uma delas era que o homens precisavam de muita comida e um bom descanso, e quando ia saindo olhou pra mim desconfiado e perguntou o que eu desejava. Eu apenas o alertei para não permanecer por muito tempo na grota dos Angicos, pois o lugar se tornara perigoso. Ele balançou a cabeça com ar de negação e disse que o lugar era tranquilo. Notei muita confiança por parte do Capitão Virgulino e não falei mais nada. Fui embora para a cidade e fiquei por lá. Oito dias pra frente, lá estava disputado lugar no meio do povo e quase sem acreditar no que via. Estavam expostos como troféus na escadaria do prédio da Prefeitura a cabeça do Capitão, da Maria Bonita e mais nove de parte do bando. Que na noite passadas tinham sido mortos e degolados pelas forças policias comandadas pelo Tenente João Bezerra.

Minha esposa me chama dizendo, vamos embora homem, que já é tarde. Finalmente eu acordo daquele transe. E ai eu me lembro novamente de quando o bando do cangaceiro Gato se retira fugindo da cidade. E por coincidência, agora era a nossa vez de sair dali, só que de forma diferente. Saímos todos vivos, alegres e satisfeitos. Arrumamos as coisas, entramos no carro e damos adeus a bela Piranhas e fomos dormir na vizinha cidade de Petrolândia, 80 Km de distância.

Gilberto Ferreira.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário