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sábado, 8 de fevereiro de 2020

HOMENAGEM A MARIA LÚCIA ESCÓSSIA

Maria Lúcia em foto de Lindomarcos Faustino


Por Lúcia Rocha
luciaro@uol.com.br

Fotos de Lindomarcos Faustino, Geovânia Gomes, Marta Noberto e Asclepius Saraiva

          O Relembrando Mossoró realizou na manhã do sábado, dia 8, homenagem a ex-diretora do Museu Histórico Lauro da Escóssia, professora, pesquisadora e historiadora Maria Lúcia Escóssia, aposentada, que se recupera de cirurgia de fêmur e vive situação de cadeirante.
          Maria Lúcia está com 90 anos de idade e sua lucidez impressiona, porque relembra os acontecimentos de sua vida e da cidade, pois acompanha desde garota todos os movimentos sociais, culturais, educacionais, políticos, artísticos e de desenvolvimento econômico de Mossoró e região.
         Ao chegar no museu por volta das 9 horas, acompanhada de familiares, da irmã caçula Marta e de vários sobrinhos, da apresentadora da TCM, Lilian Martins, Maria Lúcia foi recepcionada pelos barraqueiros da Feirinha de Produtos Orgânicos, que há mais de dez anos funciona na lateral do prédio do museu, sendo abraçada e cumprimentada por todos, posou para fotos e ganhou brindes, inclusive.


Feirantes da Feira de Produtos Orgânicos puderam rever a amiga de muitos anos.
O abraço da feirante de coalhada

         Maria Lúcia entrou no museu que dirigiu por mais de dez anos, após cinco anos de ausência e, pela primeira vez, assinou o livro de visitas. 




         Ao adentrar o museu, Maria Lúcia passou a elogiar o ambiente, relembrou momentos que ali viveu. Na grande sala onde estão expostas as fotografias e equipamentos de Manuelito Pereira, explicou como participou, juntamente com o museólogo Hélio: "Na reforma, eu que ajudei a escolher as fotos, levando poeira, eu que coloquei todos os nomes dos abolicionistas, nesse tempo, guardamos alguns objetos numa sala para selecionar e Julierme Torres, vivia aqui para fotografar e colocar no jornal. Outra vez veio um repórter de televisão, entrou gravando, dizendo que não existia mais museu e que os presos iriam voltar para cá, eu falei: 'O quê?'", provocando risadas.
         Em meio à explanação do que viveu enquanto trabalhou no museu e com os presentes, como castanha, por exemplo, que recebeu de uma feirante, ela exclamou: "Menina, estou me sentindo uma rainha".
         Diante da foto de Manuelito Pereira, ela o cumprimentou e comentou: "Quando Manuelito chegou em Mossoró, eu era muito pequena, mas ele veio morar próximo de nossa casa, na Praça da Redenção, tínhamos amizade, ele ia tirar nosso retrato, mas enquanto não arrumasse nosso rosto, do jeito que ele queria, não batia a foto, era muito detalhista. O estúdio dele, era vizinho ao hoje Teatro Lauro Monte Filho, as melhores fotografias da época eram de Manuelito".      



Fotos de Manuelito Pereira escolhidas por Maria Lúcia e museólogo


                                              Maria Lúcia deu uma aula sobre o museu


        Maria Lúcia foi levada para a sala onde dava expediente, foi aplaudida e confessou que era a melhor parte do museu, pois ali estão arquivados todos os jornais da cidade, dentre eles, o principal, fundado por seus ancestrais, O Mossoroense, fundado no Século IXX. Ela agradeceu a presença de todos os familiares e da irmã Marta, citou o nome de todos os sobrinhos. 
O reencontro com o pesquisador e frequentador do museu, Lindomarcos Faustino e...


... Com o ex-colega de museu, Júnior.

     Após visitar todas as instalações do museu e os jardins, Maria Lúcia veio para a pracinha onde teve seu Dia de Princesa, recebeu diversas homenagens, através de palavras e poesia. O diretor do Museu Histórico Lauro da Escóssia, Asclepius Saraiva, falou em nome dos colaboradores, disse que o museu está aberto a toda comunidade, informou sobre número de visitantes em sua gestão, agradeceu a presença de todos e, especialmente, a visita ilustre de Maria Lúcia.  

                          Na pracinha, Maria Lúcia recebeu as homenagens

Diretor do museu, Asclepius Saraiva

A cantora e poetisa Goreth Alves, que se apresenta em escolas, mostrando sua arte, também falou em nome da classe artística, enaltecendo as qualidades de Maria Lúcia, de quem disse ser fã.  Goreth lembrou que Maria Lúcia foi atriz e que recebeu um título como atriz coadjuvante. "Comecei a admirar essa mulher forte, que gosta de arte, pelo trabalho que passou a fazer aqui no museu, como guardiã da cultura. Você é um exemplo para todos nós que a conhecemos. Muito obrigada por existir". 


                                                           Com a poetisa, Goreth Alves

A professora e escritora Conceição Maciel elogiou o encontro, que considera uma ideia brilhante: "É um resgate para homens e mulheres de nossa cidade para reconhecimento dos mossoroenses, isso é muito importante, principalmente Maria Lúcia, que é uma pessoa ímpar, faz parte do patrimônio cultural da cidade, é uma pessoa que vendeu um prêmio em nível nacional, como atriz. Quero exaltar esse evento de resgate à memória da cidade. Darcy Ribeiro dizia que o Brasil é o maior país do mundo a destruir as memórias, parecia que tinha uma máquina para destruir o talento dos homens e que quem tinha um passado de glória, era aniquilado. Acho essa ideia da revitalização da memória, fantástica. Tido o chapéu para Lúcia Rocha e Lindomarcos Faustino. Ressalto meu carinho por Maria Lúcia por seu espírito pesquisador e por sua mentalidade sempre dinâmica".
 
A acadêmica, Joana Fernandes Coelho, membro da AFLAM - Academia Feminina de Letras e Artes de Mossoró - exaltou a figura da mulher mossoroense: "Primeiro quero agradecer a Lúcia, Lindomarcos e Asclepius, pelo acolhimento nesta casa, nesse templo da sabedoria e dizer que Maria Lúcia é um exemplo, ela não tem somente o talento da poesia, o talento de ser atriz, inclusive, Maria Lúcia foi pandeirista de uma orquestra feminina, ela e minha mãe tocaram. É bom que se resgate essas histórias, pois Maria Lúcia é uma fazedora da história de Mossoró. Quantas mulheres estão na periferia, no anonimato, são mulheres que fazem a sua história, e quantas fizeram a história de Mossoró no anonimato e não aparecem? Por que que não aparecem? Porque não têm chance e eu não concordo. Acho que deve se resgatar quem quer que seja, mulheres da periferia. Hoje é Maria Lúcia, por que não chamar uma benzedeira, uma rezadeira, uma parteira que ajudou colocar crianças no mundo? Quantas pessoas têm em Mossoró que vieram ao mundo pelas mãos de parteiras leigas? A AFLAM já fez homenagem a Madalena, que fez história, curou muitas crianças. Sugiro que tragam não somente mulheres intelectuais, mas mulheres lá da ponta, que fizeram história. Maria Lúcia será capa da revista comemorativa aos dez anos da AFLAM, a ser lançada no próximo dia 20, na Biblioteca Municipal, ela está sendo homenageada em vida, de coração e quero encerrar minha participação: nem tiranas, nem escravas, o que queremos ser é cidadãs, é o que você é".          


                                        Joaninha Fernandes enalteceu a força da mulher

Joaninha, professora Marta e Maria Lúcia

A professora Marta Noberto enfatizou o que testemunhou: "Nem preciso fechar os olhos para ver você de luvas com umas pinças juntando todas as partes dos jornais sem danificar, isso é muito presente na minha memória, então, esse seu amor pela memória, pela cultura, pela história, pela preservação da comunicação, pelos jornais, sua luta em preservar tudo isso, incentiva-me a ser cada vez mais zelosa por nossa memória, não somente do município, mas da nossa família, porque cada um tem uma história de vida bonita, antes que a memória delete, temos que anotar para preservar, como Canindé aqui presente fez com a história dele e Lúcia pela iniciativa, e que todos nós tenhamos como meta: trazer uma, duas ou três pessoas em cada encontro desses, para elas sentirem que são importantes suas participações na sociedade.    

A pequena Jhully, poetisa natalense, filha de mossoroense, passando as férias em Mossoró, mas que tem comparecido a esses encontros no museu, declamou uma poesia, exaltando a figura dos avós, deixando Maria Lúcia encantada com a garota de apenas seis anos de idade.

A pequena poetisa, Jhully encantou Maria Lúcia

Maria Lúcia agradeceu, lembrou do quanto batalhou para trabalhar no Museu Histórico Lauro da Escóssia: "Quando comecei a trabalhar, o museu era na parte superior, no térreo, funcionava a biblioteca. Cheguei no tempo de Lauro da Escóssia como diretor, foi na gestão de João Newton, na década de 1970. Pedi para trabalhar aqui, mas João Newton disse que não, porque eu sou Escóssia, então, briguei com ele. Estou contando a história porque ainda sei contar história. Mamãe entrou na briga com João Newton, disse que eu precisava me empregar porque estava desempregada, no fim, ele aceitou. Eu trabalhava no Grupo Escolar Joaquim Borges, eu achava que meu lugar não era de professora, mas de museu. Eu gostava, vinha bastante aqui no tempo de Tio Lauro, pedi a transferência a João Bosco Fernandes, que era o diretor da escola. Quando Tio Lauro saiu, Raimundo Soares de Brito assumiu e me colocou para pesquisar Dorian para a edição do livro com as crônicas dele, encontrei inclusive a primeira crônica de Dorian e ele me agradeceu. Doutor Vingt-un também me colocou para pesquisar para outro livro de Almeida Castro. Comecei a trabalhar no O Mossoroense, em 1946, mamãe que pediu a Tio Lauro esse emprego, à época, o jornal era na Coronel Vicente Saboia, onde depois foi a Casa Chacenai. Eu subescrevia as reportagens e despachava os jornais nos Correios. Ninguém tinha vínculo empregatício, dois anos depois tirei umas férias em Natal e no retorno Tio Lauro disse que não precisava de mim mais não. Fui trabalhar no comércio, na Mossoró Comercial, depois com Miguel, filho de Miguel Faustino. Hoje é um dia muito importante para mim porque estou retornando para visitar o museu, sai em 2015, passei aqui trinta e um anos. Na prefeitura passei trinta e oito anos e dois meses e esses trinta e um anos, dediquei-me exclusivamente ao museu. Eu trabalhava três expedientes, porque trabalhava no museu, na escola e na Cosern. Foi muito bom retornar porque vi que tudo está no mesmo lugar, como deixei há cinco anos. Estou bastante feliz, agora tenho certeza que tenho muitos amigos, tem muita gente que gosta de mim porque eu gosto de todos. Às vezes, pela idade, esqueço o nome de alguém, ainda não estou esclerosada, graças a Deus, mas estou muito feliz, muito agradecida com vocês. Então, o que eu posso fazer por vocês? Posso recitar uma poesia".
O que gerou aplausos do público. E continuou:
"A árvore da serra, Augusto dos Anjos", prosseguiu Maria Lúcia:

As árvores, meu filho, não têm alma!
      E esta árvore me serve de empecilho...
          É preciso cortá-la, pois, meu filho,
         Para que eu tenha uma velhice mais calma. -      - Meu pai, por que sua ira não se acalma?
 Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?
        Deus pôs almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma!...
Disse - e ajoelhou-se, numa rogativa
"Não mate a árvore, pai, para que eu viva!"
E quando a árvore, olhando a pátria serra,
Caiu aos golpes do machado branco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra.

Maria Lúcia finalizou dizendo: "Hoje meu dia vai ser completo de alegria e me chamem enquanto estou viva, estou muito feliz porque estou vendo hoje minha história".     


Amigos de Maria Lúcia e da cultura participaram da homenagem

Maria Lúcia posa para fotos com novos amigos

Crianças, adolescentes e adultos posam 

Familiares de Maria Lúcia: irmã Marta e sobrinhos

                                                           Joaninha, Maria Lúcia e Canindé           

                                    Livros para comercialização...

                                                     ... E degustação do público


                 À direita, Jussana Wanderley, que trouxe filho e amigas de Baraúna

                        Goreth Alves, Lúcia Rocha, Conceição Maciel e Canindé, além das crianças.


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