Seguidores

sexta-feira, 13 de março de 2020

A RAIVA DOS BRUTOS.


Por João Filho de Paula Pessoa

Conta-se que em 1935, o bando de Lampião seguia pelo sertão da Bahia com muita fome e sede, chegaram à uma fazenda onde se encostaram no alpendre da casa para descansar e receberam comida e bebida. Três potes grandes de barro que estavam no alpendre foram abastecidos de água para saciar a sede do bando. Na fazenda tinha um tocador e logo alguns cangaceiros começaram a dançar xaxado no terreiro da casa, levantando muita poeira. Lampião sempre caprichoso, cobriu os potes d´água com panos para proteger a água da poeira, sendo que, toda vez que alguém se servia da água, nunca devolvia as tampas de pano ao local, deixando os potes descobertos e pegando poeira. 


Em determinado momento Lampião se zangou com aquilo, foi lá, ajeitou as tampas novamente e reclamou em voz alta com todos e gritou no rumo de Labareda que estava deitado com sua Mariquinha vizinho aos potes:

- E esse peste aí deitado, que vê isso e num faz nada?

- Labareda não disse nada, permaneceu deitado sem responder ao Capitão. 

Assim que Lampião saiu e se distanciou, Labareda se levantou e quebrou os três potes d´água à coronhadas de mosquetão, deixando só os cacos de barro e a corredeira d´água no chão e voltou a se deitar com sua Mariquinha. 

Logo após chega Zé Baiano morrendo de sede e se depara com aquela situação e pergunta de forma zangada quem fizera aquilo, e ouve a voz vinda do lado: 

- Fui eu -  disse Labareda, deitado. 

Zé Baiano o olhou e nada disse, não brigou e foi reclamar com Lampião que, ao chegar para conferir os potes quebrados, encontrou Labareda já de pé e perguntou quem tinha quebrado os potes, respondeu Labareda que tinha sido ele. 

Lampião retrucou:

- Você num me respeita, cabra? 

- O tanto que você me respeita - disse Labareda. 

Lampião encheu os olhos de sangue, levantou seu rifle e peitou Labareda, que imediatamente também levanta seu mosquetão e fixaram uma troca de olhares raivosos, prestes a explodir à qualquer momento. 

O clima pesou, o tempo fechou, a tensão pairou no ar, o nervosismo tomou conta do bando, a desgraça passou a orbitá-los, tudo numa fração de segundos. 

Virgínio, prevendo o pior, intrometeu-se entre os dois, interceptando os olhares e pedindo calma, apaziguando os nervos e minimizando o problema, dizendo que eram só potes e que eles eram companheiros antigos de luta e que já bastavam os “macacos” querendo lhes matar à todo tempo. 

Carrancudos, os dois brabos baixaram a guarda, foram separados pelo bando, permaneceram fervorosos ainda um tempo, mas no dia seguinte firmaram a paz novamente e seguiram em frente, Lampião com sua Maria, Labareda com sua Mariquinha e todos do bando. 

João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce. 09/01/2020.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário