Clerisvaldo B. Chagas, 16 de março de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.274
Povoado, vila e cidade de Santana do Ipanema, Alagoas, até a década de 1960, bebiam água azinhavrada das cacimbas arenosas do leito do rio Ipanema. Essas águas, tanto das cacimbas quanto das cheias, eram também usadas nas tarefas domésticas. Até mesmo telhas e tijolos fabricados às suas margens contavam com as águas salobras do rio. Para abastecer as residências, a água do Panema ficava armazenada em potes, jarras e porrões (u) de barro. A quartinha, também de barro, esfriava a água que era servida nos copos. Mas, como era trazida a água da fonte para as casas? Conduzida à cabeça, pelas mulheres, em latas e potes de barro com rodilhas. Para lugares mais longe a tarefa era exercida por jumentos (mais de cem) cada qual equipado com manta, cangalha, quatro ancoretas, quatro ganchos e cabresto. Alguns desses jegues usavam quatro latas acomodadas em caçambas de madeira, no lugar das ancoretas.
JUMENTO E BOTADOR D'ÁGUA EM FOTO ARTÍSTICA DE B. CHAGAS) |
Pessoas menos letradas chamavam as ancoretas (pequenos barris de madeira) de ancorota. Foram os jumentos que impulsionaram a nossa civilização com esse trabalho supimpa. Era dirigido pelo seu dono que não tinha outra denominação a não ser “botador d’água”. Nem “aguadeiro” nem “tangedor”, essas expressões não existiam. O costume de chamar o condutor do jegue de “tangedor” em nossa região, é um erro.
O jegue foi reconhecido como amigo do sertanejo pelo, então, prefeito Adeildo Nepomuceno Marques; este ergueu uma estátua ao jerico juntamente com o seu botador d’água, em homenagem aos relevantes serviços prestados por ambos ao povo santanense. A obra foi encomendada ao escultor de Pão de Açúcar, Lisboa. Muito polêmico na época, o monumento de concreto firmou-se e hoje é também um símbolo nordestino e mundial pela bravura em conviver com a estiagem característica do clima sertanejo.
Agora o orgulho é geral e a famosa estátua ao jegue recebe os visitantes que vêm das bandas da capital, bem defronte a rodoviária.
Virou febre do artesanato no semiárido.
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