Seguidores

sábado, 28 de novembro de 2020

O JOGO E O RABO

 Clerisvaldo B. Chagas, 26 de novembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.425


Antônio Honorato ou Tonho de Macelon, tinha um bar no Comercio de Santana do Ipanema, ponto de encontro da juventude social da época. Era o maior decifrador de charadas de Alagoas. Gostava muito de poesia e apreciava ouvir um programa de repentistas no rádio chamado “Onde Está o Poeta?”. Em seu bar discutiam-se, principalmente, futebol e política.

José Maximiano era um senhor, aposentado, que gostava muito de poesia, futebol e jogo de baralho. Era apologista do repente e amigo de Tonho de Macelon, assíduo ouvinte do mesmo programa “Onde Está o Poeta?” Mas nem sempre a pessoa está no momento exato do humor para apreciar poesia.

José Maximiano morava à Rua Nova e, o bar de Antônio Honorato, vizinho à entrada do hotel de Maria Sabão, à Praça Senador Enéas Araújo, atual.

A jogatina do baralho ficava nos fundos do bar de sinucas de Manoel Barros, (fora chefe político no governo Arnon de Melo e dono de cartório) na mesma praça acima, esquina Comércio/Rua Nilo Peçanha, onde também havia uma saída da casa de jogo.

José Maximiano era doce e explosivo conforme a ocasião. Certa noite descera até o bar de sinucas, atravessara as mesas e fora direto para o jogo querendo aventurar alguma coisa no baralho. Mas àquela noite a sua sorte não estava por perto. Perdia uma parada atrás da outra na roda dos veteranos.

A cada parada perdida, Maximiano inchava de raiva igual a sapo cururu.

Já era quase madrugada quando Tonho Macelon entrou no bar de sinucas e se dirigiu até o antro. Na mesa de jogo conheceu José Maximiano, seu amigo apologista. Estava de costas e não deu para o desavisado Tonho contemplar o seu semblante. E assim, o charadista chegou perto do amigo jogador, agachou-se e disse baixinho, perto da nuca, referindo-se ao programa que ambos sempre ouviam:

-- “Onde está o poeta?”.

Má hora para o charadista. Zé Maximiano meteu as duas mãos na mesa de jogo, levantou-se para explodir e respondeu gritando, olhos arregalados e babando de raiva:

-- Tá no rabo da mãe, seu fio da peste.

Um silêncio pesado tomou conta da jogatina após o rabo da mãe.

SANTANA SOBRE TELHADOS. (FOTO: B. CHAGAS).



http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário