FAZENDA PITOMBEIRA E O LENDÁRIO BARÃO DO PAJEÚ NO CARIRI CANGAÇO 2022
Cariri Cangaço visita a Fazenda Pitombeira, "feudo" do Barão do Pajeú
A tarde de 15 de dezembro de 2021; segundo dia de trabalho em Serra Talhada; marcaria um dos momentos mais marcantes do conjunto de visitas preparativas para o Cariri Cangaço Serra Talhada 2022. A Caravana liderada por Manoel Severo e Luiz Ferraz Filho seguiu para um dos cenários históricos mais emblemáticos de todo o Pajeú: A Fazenda Pitombeira, feudo do Coronel Andrelino Pereira da Silva, o famoso Barão do Pajeú.
Luiz Ferraz Filho esclarece: "A Pitombeira era propriedade do coronel Andrelino Pereira da Silva, o Barão do Pajeú, que daqui comandava toda a política de Serra Talhada e região, na segunda metade do século XIX e início do século XX. Foi aqui que dentre outros importantes momentos, o Barão hospedou várias autoridades e personalidades sertanejas, tais como o Padre Cícero Romão Batista na viagem que fez para Roma-ITA e o juiz de direito paraibano, Augusto Santa Cruz."
Coronel Andrelino Pereira da Silva, o Barão do Pajeú. Nasceu em 1823, proprietário fundador da fazenda Pitombeira, em Serra Talhada, filho do Comandante Superior Manuel Pereira, a fazenda pitombeira foi destaque na história do Pajeú, aclamado Barão em dezembro de 1888, substituiu o pai no comando político local, foi primeiro Prefeito de Vila Bela, entre os anos de 1892 a 1895, faleceu no ano 1901.
A Fazenda Pitombeira era um grande latifúndio de 12 mil hectares, que compreendia as Fazendas Caiçara, Ipueira, Cedro e Belém, esta última herança que o Barão do Pajeú recebeu do seu pai, o comandante-superior Manoel Pereira da Silva, o mesmo, responsável pelo ataque aos fanáticos da Pedra do Reino em maio de 1838. Por ocasião da visita, a caravana Cariri Cangaço foi recebida brilhantemente pelo atual proprietário; Antônio Alves Filho, seu Antônio Caiçara; empresário serra-talhadense do grupo Pajeú Nordeste ; ao lado de sua esposa dona Zélia Pereira, neta e herdeira do major Isidoro Conrado de Lorena e Sá; ex-prefeito de São José do Belmonte e que comprou a Fazenda Pitombeira em 1911 ao coronel Antônio Andrelino Pereira da Silva, filho do Barão do Pajeú.
Fazenda Pitombeira, imagens atuais do feudo que pertenceu ao
emblemático Barão do Pajeú, coronel Andrelino Pereira da Silva.
"Da família a qual pertencia, sobressaiu-se Andrelino, agraciado com o título de “Barão de Pajeú” por decreto imperial de 1º de dezembro de 1888. O referido barão chefiou, desde o Império, o Partido Conservador em Vila Bela. Muito rico dizem que possuía nas velhas arcas de cedro da Fazenda Pitombeira, trezentas redes, com que haveria de hospedar qualquer caravana" comenta Valdir Nogueira.
Um Pouco dos personagens do Clã Pereira do Pajeú:
O capitão José Pereira da Silva (Cap. Zezinho) patriarca da maior parte dos Pereiras do Pajeú, é quem inicia essa saga do clã na região, que depois é exercida por muitos outros de seus descendentes, figuras como: Cap. Simplício Pereira da Silva, considerado por muitos o maior revolucionário do sertão; Vitorino Pereira da Silva, foi presidente da câmara em Vila Bela; Manoel Pereira da Silva, Coronel da Guarda Nacional, Comandante Superior das Ordenanças de Flores, Ingazeira e Vila Bela, Cavaleiro de Cristo e Comendador da Imperial Ordem da Rosa; Andrelino Pereira da Silva (Barão do Pajeú), primeiro prefeito de Vila Bela, hoje Serra Talhada-PE; Antônio Andrelino Pereira da Silva filho do Barão, terceiro prefeito de Vila Bela; Manoel Pereira da Silva Jacobina (Padre Pereira), segundo prefeito de Serra Talhada; Major Sebastião Pereira da Silva; Arcôncio Pereira da Silva, bacharel e primeiro deputado provincial da família; Tenente Coronel José Sebastião Pereira da Silva, primeiro prefeito de São José do Belmonte-PE; Antônio Cassiano Pereira da Silva, segundo prefeito de São José do Belmonte."
Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço, ressaltou a importância da visita; "estamos muito gratos ao seu Antônio Caiçara e a dona Zélia por nos anfitrionarem de forma sensacional neste que sem dúvidas, é dos cenários mais preciosos de toda a história de Serra Talhada e gostaríamos de parabenizar a família por todo o zelo, cuidado e a espetacular manutenção deste extraordinário patrimônio histórico e arquitetônico, não só do Pajeú, nem de Pernambuco, mas de todo o sertão do Brasil. Parabéns !"
Joaquim Pereira e Adriano Carvalho; representante dos dois clã se encontram na casa do Barão do Pajeú
Pesquisador José Francisco
Júnior Almeida
Palavras de Agradecimento do curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo, ao proprietário e anfitrião, senhor Antônio Caiçara, durante a extraordinária visita do Cariri Cangaço a Fazenda Pitombeira; outrora, morada do Barão do Pajeú.
lém do coronel Andrelino Pereira da Silva, o Barão de Pajeú, que era tio avô de Sebastião Pereira da Silva, o Sinhô Pereira, único chefe de Virgolino Ferreira da Silva, Lampião; seu filho, o coronel Antônio Pereira da Silva, também da Fazenda Pitombeira, que nasceu aos 11 de setembro de 1863 e foi o terceiro Prefeito de Serra Talhada (1898 a 1901) desde muito cedo esteve também presente nas contendas envolvendo a família Pereira. Seu nome ficou estampado nos anais da história, destemido e rico, lutava e financiava partes da logística nos momentos mais críticos das lutas envolvendo seu clã, já empobrecido, mudou-se para o Ceará, deixando para trás seu torrão natal, faleceu no distrito do Carmo, município de Belmonte, aos 16 de outubro de 1948.
Manoel Severo apresenta o Cariri Cangaço e agradece a acolhida
na casa do Barão do Pajeú a seu Antônio Caiçara
Cariri Cangaço e o Café na Casa do Barão do Pajeú
Moustafá Veras, Vilson da Piçarra, Joaquim Pereira e Clênio Novaes
Recorremos ao site oficial da Família Pereira, em texto de Helvécio Neves Feitosa: (https://familiapereira.net.br/) para trazer um episódio que ilustra bem a presença forte da Fazenda Pitombeira no cenário histórico local da época em todo o Pajeú:
"Ulysses Lins de Albuquerque, em seu livro “Um Sertanejo e o Sertão“, conta que, em 1916, teve que voltar a Triunfo, de onde seguiu para Serra Talhada, Flores e Belmonte, na condição de coletor federal, quando arrecadava impostos de patentes de registro. Estava na companhia do cargueiro Manuel Salina. Naquela ocasião, relata a visita ao Coronel Antônio Pereira à fazenda Pitombeira. Informa o autor que Vila Bela estava agitada em virtude da questão surgida entre as famílias Pereira e Carvalho, rivais há quase um século. E, de 1905 até aquela data, alguns choques entre membros das duas famílias reacenderam o facho das discórdias.
Nas palavras do autor: "Viajando de Vila Bela para Belmonte, tive de almoçar na fazenda Pitombeiras, do coronel Antônio Pereira, filho do barão de Pajeú — coronel Andrelino Pereira da Silva. Fui muito bem tratado e admirei a agudeza de espírito da esposa do coronel Pereira — senhora inteligente e enérgica.
O coronel mostrou-me o seu paiol de armas — mais de uma centena de bacamartes de espoleta, senão mais, guardados no sótão, com as respectivas cartucheiras. [Naquele tempo, havia poucos rifles no sertão e as armas antigas eram muito usadas]. Aqueles velhos arcabuzes — alguns de boca-de-sino — tinham a sua história: participaram muitos deles dos combates travados pelo coronel Manuel Pereira da Silva [pai do barão do Pajeú] e seu irmão Simplício, contra os liberais chefiados por Francisco Barbosa Nogueira Paes, na vila de Flores e na Serra Negra, numa luta que durou dez anos ou mais...
Simplício Pereira, apontado pelo jornalista João Brígido, do Ceará, como autor de mais de 50 mortes, ficou indignado ao ler o artigo, e, quando a mulher — que o interpela pelo motivo da zanga — lhe diz que ‘contando com os caboclos, uns índios por ele trucidados, ‘talvez passasse de 50 mortes’. Então ele retruca: ‘Ora, que besteira! Eu falo é em gente batizada!” De Pitombeiras segui para Belmonte, e entre aquela fazenda e a da Carnaúba — esta de propriedade do coronel Manuel Pereira Lins, primo de Antônio Pereira – encontrei diversos homens armados, mas aquilo não me surpreendeu, pois sabia que viviam em estado de alerta.
Pernoitei no povoado de Bom Nome, onde era intenso o comércio de borracha de maniçoba, cultivada em larga escala no município de Belmonte, onde existia em abundância aquela seringueira, em estado nativo. Uma riqueza que alguns anos depois entraria em colapso, com a queda vertical do preço do produto."
Vilson da Piçarra, Joaquim Pereira, Luiz Ferraz, Manoel Severo, José Francisco, Amélia Araújo, Adriano Carvalho, Criscelio, Valdir Nogueira, Clênio Novaes e Moustafa Veras
Luiz Ferraz Filho, Manoel Severo, José Francisco, Amélia Araújo,
Adriano Carvalho e Criscelio
Adriano Carvalho, Vilson da Piçarra, Manoel Severo e Joaquim Pereira
Valdir Nogueira
É o pesquisador e escritor Valdir Nogueira, Conselheiro Cariri Cangaço, que relata: "na lendária Vila Bela de outrora, na saga da fazenda Pitombeira, vicejam muitas histórias relacionadas com o seu primitivo proprietário, o Barão do Pajeú; conta-se que durante o novenário da Padroeira Nossa Senhora da Penha, o rico barão escolhia a cada dia o tipo de animal de montaria em que a caravana partindo da Pitombeira, entre proprietários, familiares, vaqueiros e moradores, seguiria para participar das novenas na Matriz de Vila Bela. Dizia o barão: “Hoje iremos todos à novena em cavalos pampas pretos... amanhã em cavalos pampas castanhos...depois de amanhã em cavalos brancos...depois em cavalos melados...”,e assim por diante...
Baronesa Verônica Pereira da Silva
O Barão do Pajeú casou duas vezes: a 1ª com Maria Osséria de Santo Antônio e a 2ª com a Baronesa do Pajeú, Verônica Pereira da Silva. No tempo do apogeu e esplendor da Fazenda Pitombeira, na larga varanda da velha casa de vivenda, sentada sobre um couro de boi curtido, passava horas a fio a Baronesa do Pajeú, matando o seu tempo numa almofada bastante abaulada fazendo renda de bilro. Certo dia, tendo encerrado uma conversa um pouco acalorada com Dona Marica Pereira, sua nora, falou a baronesa: “Olhe Marica, quando eu morrer, vou deixar o meu dinheiro para você queimar.”
O Barão do Pajeú faleceu a 30 de dezembro de 1901. Tempos depois, já doente e em tratamento com o afamado “Tio Cornélio de Sá” de Salgueiro, na época, o doutor de toda aquela região, não resistindo a uma forte infecção intestinal faleceu a Baronesa do Pajeú. Depois da sua morte, Dona Marica Pereira, julgando o que não teria mais importância e nem serventia resolveu queimar os pertences da baronesa. Entre os objetos destinados ao fogo, estava a velha almofada de fazer renda. Quando as chamas iam velozmente reduzindo tudo a cinzas, uma preta, antiga cozinheira da fazenda percebeu que junto com os resquícios chamuscados do enchimento da almofada, estava parte da fortuna da baronesa, ora detectada através de pedaços de algumas cédulas, já soltos no ar, dentro da fumaça escura se elevando no espaço. Entre os valores dos dez réis e dos mil réis, dos vinténs, dos tostões e dos cruzados, de uma enorme quantidade em dinheiro de cédulas da baronesa, foi tudo devorado pelo fogo. E cumpriu-se então o que a baronesa havia dito tempos antes: “Marica, quando eu morrer, vou deixar o meu dinheiro para você queimar.”
Registro da Visita do Cariri Cangaço à Fazenda Pitombeira, do Barão do Pajeú
E completa Valdir Nogueira: "nos tempos do Barão do Pajeú e do seu filho Coronel Antônio Pereira, a Fazenda Pitombeira continuava próspera e produtiva e se destacava, além da região do Pajeú como em todo alto e árido sertão pernambucano pela sua importância política, econômica e social. Opulento criador, a título de curiosidade a relação dos nomes de alguns animais deixados pelo fidalgo sertanejo, de acordo com seu testamento feito a 27 de agosto de 1901. Cavalos: Bebedor, Borborema, Borboleta, Bordado, Borrego, Cabeceira, Campina, Cravo-branco, Crumatá, Cruzeta, Cuidado, Dançarino, Lavandeira, Mancha, Marujo, Melado-bravo, Nevoeiro, Passarinho, Pensamento, Piáu, Pinto-macho, Raposão, Redondinho, Salvaterra, Tamborete e Vila-bela. Entre os burros: Beleza, Cajazeira, Castanhinho, Ceará, Cutia, Encardido, Enjeitado, Gazo, Pimpão, Quixaba e Tição. Entre as burras: Barra, Bonita, Castanha, Catolé, Fita-preta, Macaca e Praibana."
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