Por: José Cícero
Neste dia 13
de dezembro o Brasil comemora (ou pelos menos deveria comemorar) o centenário
de nascimento de Luiz Gonzaga do Nascimento, aquele que foi para o
todo e sempre, um dos mais completos e admirados artistas populares do
Nordeste. De cara, o mais autêntico e fiel representante da boa música
popular brasileira.O Luiz Lua Gonzaga – o Gonzagão, tão bem
consagrado há mais de cinqüenta anos pela voz do povo e, depois pela crítica –
como o rei do baião.
No último dia
3 por requerimento do Senador cearense Inácio Arruda o Senado Federal realizou
Sessão especial comemorativa ao centenário de nascimento de Luiz Gonzaga,
ocasião em que estiveram presentes, além de políticos, diversos artistas
convidados.
Sem exagero
podemos considerá-lo como o mais importante e autêntico artista
nordestino de raiz. A um só tempo, criador e representante maior de um dos mais
belos gêneros musicais do interior longínquo do Nordeste
– o forró. Uma música profundamente identificável e característica do
cotidiano de luta de uma gente forte, sofrida e valente – Os sertanejos.
Um artista
popular que, ao contrário de muitos outros, nunca se
deixou encantar pela fama, o sucesso assim como os ilusórios
holofotes de uma mídia cínica, covarde e interesseira, principalmente numa
época das mais discriminatórias, além de preconceituosa e
excludente. Com o seu forró, baião, xote e xaxado, soube como nenhum
outro cantar a alma do povo. Encarnando por seu turno, o mais puro sentimento
de uma geração inteira de verdadeiros excluídos. Razão pela qual até hoje é
adorado por legiões de brasileiros espalhados por este país
inteiro.
No Nordeste,
Gonzaga é simplesmente cultuado quase como um santo. O eterno vaqueiro
laborioso ainda a correr com o seu aboio pelas caatingas. O matuto esperto e
faceiro vestido em seu gibão rasgando as bibocas do mundo.
O sanfoneiro,
cantor e compositor que ensinou o Brasil a dançar uma nova dança. E que por
conta disso possibilitou um novo olhar das metrópoles para com a
arte latente e emergente dos sertões.
É ele, o mais
importante artista popular do Brasil. Não somente pelo conjunto da sua obra
musical: variada, singular e magnífica. Mas, sobretudo pelo importante papel
social, político e cultural desempenhado em favor de um Brasil
mais democrático, coeso, isonômico e justo. Assim como na defesa do até então
esquecido povo nordestino, a que ele tanto chamou de “irmão”, emprestando assim
a sua voz aos que não tinham voz alguma, inclusive de artistas que com o tempo
se tornaram seus parceiros a exemplo de
Patativa, Zé Dantas, João Silva, Jackson do Pandeiro, José Clementino, Zé
Marcolino, Humberto Teixeira dentre outros que ajudaram a fazer do seu legado,
algo universal e extraordinário.
Por quase meio
século o canto gonzaguiano rompeu as mais distantes fronteiras do Brasil
ecoando desde os sertões ao litoral. Fazendo assim da nova música
interiorana uma senha para a abertura definitiva do eixo Rio-São Paulo para uma
grande leva de novos artistas(cantores, poetas, sanfoneiros e
compositores) nordestinos que desde lá, seguiram até hoje os seus rastros.
Por tudo o que
fez e representa até hoje para a arte nordestina e o movimento musical
brasileiro em geral, mesmo depois de mais de duas décadas de sua morte, Luiz
Gonzaga pode ser chamado de um predestinado. O artista do século, quiçá do
milênio. De tão completo e diferenciado sua obra é digna de reconhecimento
não apenas pelos brasileiros, como igualmente no exterior.
Aquele que
conseguiu pela força inigualável do seu talento levar a música dos
sertões aos mais altos e pomposos salões das elites. Rompendo num mesmo
diapasão; preconceitos e impedimentos de toda sorte. Reaproximando o forró
maturo e temperado dos matos a chamada música erudita da burguesia algo quase
impensável para a época.
Por fim, se é
verdade que ninguém no mundo pode por nenhum motivo ser
considerado insubstituível, diria que Luiz Gonzaga, por conta da sua arte
realmente monumental quebrara esta regra. Posto que ele, além de inigualável é
deveras insubstituível.
Ainda por
cima, se considerarmos os rumos que tomou a música popular brasileira e o
chamado forró na atualidade, seria no mínimo um desrespeito a
memória de Gonzaga, assim como um verdadeiro sacrilégio colocarmos
sequer o nome do rei do baião neste comparativo.
Palmas para o
rei do baião! Viva Gonzaga pela passagem dos seus 100 anos de nascimento. Ele
se manterá sempre vivo enquanto sua voz e o seu canto continuar ecoando pelos
sertões do mundo.
Prof. José
Cícero
Secretário de
Cultura e Esporte
Aurora-CE.
Serviço:
Luiz Gonzaga do Nascimento –
* Exu, 13 de
dezembro de 1912.
+ Recife, 2 de agosto de 1989.
Cantor, sanfoneiro e compositor nordestino.
Ficou conhecido como o Rei do Baião.
Foto: article.wn.com
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