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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Antonio de Chiquinha e o cangaceiro Zé Baiano

Por: Vivianne Paixão

No ano de 1934, Lampião apareceu em Alagadiço pela última vez, deixando essa região sob o comando do grupo de Zé Baiano. Filho natural de Chorrochó, ele passou a aterrorizar os moradores daquele local. Coube a esse destemido cangaceiro a posse das terras compreendidas entre os municípios de Frei Paulo, Ribeirópolis, Pinhão e Carira, em Sergipe, e ainda Paripiranga, na Bahia.

 O cangaceiro Zé Baiano - Acervo de Luiz Antonio Barreto

O “Pantera Negra dos Sertões” era um negro, alto, forte, nariz achatado, queixo comprido, cabelos ruins e maltratados, que usava óculos e tinha uma voz grossa. Após ter ficado sabendo da traição amorosa da sua companheira, a qual ele assassinou a pauladas, passou a marcar mulheres indefesas com um ferrão de iniciais “J.B.”, como se fossem gados. Requinte de perversidade.

Com fama de impiedoso, o famigerado “ferrador de mulheres” era tido como um dos mais ricos do bando – formado por Demudado, Chico Peste e Acelino. Durante anos cometeu atrocidades, saqueou e impôs a sua própria lei em Frei Paulo e municípios vizinhos. A polícia não descansava procurando os temíveis bandidos que se escondiam em casas de fazendeiros. Estes, se não contassem à polícia, eram chamados de coiteiros, e se falassem eram apelidados de dedo duro na boca do cangaceiro.


A mata era o maior refúgio desses facínoras. No corpo de uma árvore – viva até hoje – eles silenciavam suas armas e na chamada “Toca da Onça”, na Fazenda Caipora, evitavam o ataque de inimigos com troca de tiros, já que de lá de cima tinham uma visão panorâmica e privilegiada de toda a região.

Certa vez, o inesperado para Zé Baiano aconteceu. Por ser coiteiro do seu bando, o comerciante Antônio de Chiquinho, cansado das perseguições da polícia – chegou até a ser preso – e da desconfiança dos cangaceiros, tramou um plano para eliminar o grupo do impiedoso “ferrador”. E foi numa entrega de alimentos, solicitada pelo Baiano, que o comerciante convidou os conterrâneos:


Pedro Sebastião de Oliveira (Pedro Guedes), Pedro Francisco (Pedro de Nica), Antônio de Souza Passos (Toinho), José Francisco Pereira (Dedé) e José Francisco de Souza (Biridin) para, juntos, darem fim ao bando. No dia 7 de julho de 1936, os seis amigos conseguiram dar cabo aos quatro temíveis bandoleiros na Lagoa Nova (localidade de Alagadiço). Os conterrâneos mantiveram o feito em sigilo durante cerca de 15 dias, temendo a represália de Lampião contra o povoado.

Antônio de Chiquinho, certo de que Lampião voltaria a Alagadiço para se vingar da morte do seu amigo, preveniu-se do embate e perfurou as paredes da sua casa – hoje uma creche comunitária –, tendo assim melhor visão da rua para atirar quando ele aparecesse. Porém, para a sua sorte, Virgulino Ferreira resolveu deixar pra lá o acerto de contas graças a Maria Bonita, que o alertou sobre a presença de um canhão no povoado, onde cabia um menino dentro acocorado – um minicanhão que, inclusive, está guardado no acervo do historiador Antônio Porfírio.

Ações de Porfírio

O autor do livro “Lampião e Zé Baiano no povoado Alagadiço” cresceu ouvindo as histórias que eram contadas pelos mais velhos e, muito curioso, mergulhou fundo em cada narração. Diante de tanta riqueza cultural, resolveu organizar todas as informações em um livro. “Eu não podia deixar morrer a nossa cultura. Foram seis civis filhos de Alagadiço que conseguiram acabar com quatro bandidos de Lampião, e isso é que é importante destacar”, comenta Porfírio.

A produção independente de “Lampião e Zé Baiano no povoado Alagadiço” foi vendida por completo. “Para minha surpresa o meu livro esgotou as vendas. Foram mais de dois mil exemplares”, relata o pesquisador que, além da publicação, construiu um museu dentro do seu próprio sítio. “Essa também foi outra grande surpresa, porque eu não esperava que viesse tanta gente visitar. Vêm pessoas de outros estados, curiosas para saber da história. Isso é gratificante”, diz Porfírio.

O escritor adquiriu os materiais do museu dentro do próprio povoado, dos lugares onde os cangaceiros se escondiam ou dos próprios moradores. Algumas peças foram compradas fora de Sergipe. “Muitos punhais, armas e indumentárias dos cangaceiros eu encontrei aqui, dentro do tronco de uma árvore e na Lagoa Nova.


Também tenho no acervo o minicanhão que salvou Alagadiço de ser exterminado por Lampião, e três cartas escritas por Dadá, mulher de Corisco, ao compadre Joãozinho de Donana, que criou a filha deles por dois anos na cidade de Pinhão”, relata.

Na Lagoa Nova, onde Zé Baiano e os seus capangas tombaram, Porfírio construiu O Memorial do Cangaço de Alagadiço, também com recursos próprios. “O dono da fazenda me cedeu o espaço e eu contratei os pedreiros para construir. É uma construção bem simples. Na verdade o que deveria ser construído mesmo era um grande e bonito mausoléu”, lamenta o historiador.

Porfírio também construiu no seu sítio uma biblioteca. “Um lugar onde o povo daqui, principalmente os adolescentes, possa ler mais sobre a história do seu povoado. Ainda não estou com o acervo completo, tenho apenas dois mil livros, sendo a maioria especializada em literatura sergipana. Se engana quem acha que a comunidade pobre não gosta de coisa boa. A minha biblioteca, graças a Deus, é muito frequentada pelos moradores”, garante.

Segundo o pesquisador, todas essas suas iniciativas foram pautadas com o intuito de resgatar a cultura e a cidadania dos seus conterrâneos. “O povoado aqui não tem atrativo nenhum e essas coisas servem como divertimento para eles. Uma história bonita como essa de Alagadiço tem que ser trabalhada”, diz Porfírio, que pretende, em breve, colocar um circo também dentro do seu sítio. “É para eles terem oficina de teatro. Vou aplicar o método Paulo Freire, com a pedagogia do oprimido”, explica.

http://lampiaoaceso.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

3 comentários:

  1. Anônimo15:22:00

    Amigo MENDES: As minhas saudações.
    Achei a supracitada matéria importantíssima, principalmente a história do minicanhão que de alguma forma salvou a comunidade daquele Povoado. Também não sabia da existência do meseu do historiador Antonio Porfírio. Agradecido a você pelo envio do artigo, e a Vivianne Paixão, e também ao nobre pesquisador Porfírio pela sua iniciativa na criação e manutenção da Institruição - o museu.
    Antonio José de Oliveira - Serrinha-Ba.

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  2. Por gentileza sr: onde ou de quem eu poderia comprar o livro: 'Lampião e Zé Baiano no Povoado Alagadiço'. Grato 17/02/2014 04:25

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  3. Amigo anônimo:

    :Você irá adquirir qualquer livro sobre o cangaço com o professor Pereira.

    Aí estão as suas informações:

    Para receber a Lista Atualizada do professor Pereira, entre em contato:
    email: franpelima@bol.com.br
    fone: 83.9911 8286(Tim) – 83 8706.2819(Oi)
    ou e preferir mande uma mensagem para
    www.cariricangaco.com

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