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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Nota de falecimento Floresta e a memória do cangaço estão em luto!

Registro da minha primeira visita ao penúltimo dos nazarenos em julho de 2008
junto com o amigo Cap. Marcelo Rocha.

É com imenso pesar que comunicamos aos amigos que faleceu hoje em Floresta (PE) aos 101 anos de idade o nosso amigo, ex soldado de Volante Manoel Cavalcanti de Souza, O "Neco de Pautilia".

Neco costumava dizer de maneira paradoxal que, se o tempo retroagisse, ele não teria ingressado nas volantes, a polícia da época. “Afinal, Lampião nunca me fez mal. Era um homem bom. Ruim era a polícia que açoitava os coiteiros.” Antes de ingressar nas volantes, foi almocreve (espécie de vendedor ambulante) no Sertão, para esquecer um amor que as famílias não queriam.



Veio então a Revolução de 30 (movimento armado que facilitou a chegada de Getúlio Vargas ao poder) e os nazarenos (moradores do distrito de Nazaré do Pico, Floresta) não participaram. Neco resolveu juntar-se ao grupo de conterrâneos para formar uma das frentes de combate a Virgolino Ferreira, estimuladas pelo governo.

A história de Seu Neco foi muito bem "cantada"


O grupo seguiu em direção ao Raso da Catarina (Bahia). Cada um levava no bornal farinha, sal e rapadura. Nas mãos, um rifle como se fosse o “sentimento do mundo.” Entretanto, o objetivo maior era ganhar dinheiro. O então jovem Neco, aos 19 anos, partiu para o desconhecido fascinante e ao mesmo tempo perigoso. Foram três dias de caminhada comendo mal, sem dormir e o pior era a expectativa de a qualquer momento deparar-se com o bando de cangaceiros. E foi o que aconteceu. 


Veio então o temido tiroteio, que resultou em vários feridos de ambos os lados. Não dava para recuar. A partir daí, Neco enfrentou mais quatro combates, viu companheiros e cangaceiros morrerem de sucesso (morrer em combate), entre Pernambuco Sergipe e Bahia. Conheceu Virgolino e não teve medo.

Mas aquela vida de incertezas, enfrentando chuva, sol, sede, calor e frio nas caatingas, não era a que Neco pediu.

Resolveu abandonar as volantes e sem receber o dinheiro prometido, $2 contos. Levou apenas $500 mil réis mais a passagem de volta. Deixando a vida militar e de volta ao aconchego, Neco foi barbeiro, alfaiate, sapateiro, até tornar-se funcionário público da Suvale, hoje Codevasf.

Trecho do Doc Xaxado a dança de Cabra Macho - Anildomá Willans (Fundação Cabras de Lampião)


Aposentado, levou a vida remoendo o passado ao lado de sua grande paixão: Mariquinha, que conheceu aos 13 anos de idade numa escola da zona rural de Floresta. Antes do primeiro encontro, Neco leu o nome dela escrito no quadro de uma sala de aula – Maria Ribeiro dos Anjos. Achou bonito aquele nome e escreveu por cima o seu com uma bala de rifle. Pronto! Os destinos estavam selados. Casou com Mariquinha um ano depois. O casal deixou um prole invejável de 110 descendentes. Como nos contos de fadas, Neco e Mariquinha foram felizes por 80 anos.



*Texto de comadre Wanessa Campos. Publicado no Jornal do Comercio, Recife, em 28.11.2009.

http://lampiaoaceso.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

2 comentários:

  1. Anônimo14:37:00

    Note uma coisa caro Pesquisador Mendes: Mesmo sendo policial (alguém que combatia Lampião), o Senhor Neco de Pautilha, afirmava ser "Lampião um homem bom, e que ruins eram as volantes que açoitavam os coiteiros". Frase bem parecida com o que falou o Tenente Bezerra em seu livro COMO DEI CABO DE LAMPIÃO: "Lampião era um homem de palavra, e se hoje ele fosse vivo eu não deixaria ninguém tocar-lhe a mão". É por isso que o livro que estou escrevendo, já passa dos quatro anos de pesquisa, e não sei quando estará concluído, porque as opiniões são inúmeras sobre Lampião e a longa História do Cangaço.
    Abraços,
    Antonio Oliveira

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  2. Anônimo19:20:00

    Caro Pesquisador Mendes, você fechou com chave de ouro os trabalhos desta sua etapa até aqui, postando o vídeo de uma música muito bem composta e cantada por alguém que não conheço, mas que merece os nossos parabéns. Uma música que narra a história de um soldado que esteve nas batalhas do cangaço - o senhor NECO DE PAUTILIA. Para você Mendes, também os meus parabéns.
    Antonio Oliveira

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