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sexta-feira, 23 de maio de 2014

Onaldo Queiroga - crônica da semana


O melhor amigo

Vivemos um tempo em que o afeto é algo raro. O homem se apresenta exausto, insensível e incrédulo. Aos poucos, ele quase não destina palavras e ações de carinho aos seus familiares e amigos, ou, deles também não recebe a atenção e o apreço devidos. São tempos de isolamento, onde cada um, quando chega em sua residência, se refugia em seus quartos. Ali, assistem ao canal que desejam, acessam os sites, e-mails e o face. Conversam com o mundo, porém, esquecem de dialogar com seus irmãos, pais e filhos, que se encontram sob o mesmo teto. Um caminho inóspito, que contribui para o dilaceramento da família.

Nesse contexto, percebemos que o homem busca cada vez mais a companhia de animais, principalmente cães. E aí, vem o pensamento de que o cachorro é o seu melhor amigo. Verdade ou não, o certo é que esse animal tem uma relação próxima com o ser humano. Milan Kundera declara que: “Os cães são o nosso elo com o paraíso. Eles não conhecem a maldade, a inveja ou o descontentamento. Sentar-se com um cão ao pé de uma colina numa linda tarde, é voltar ao Éden onde ficar sem fazer nada não era tédio, era paz.” Já Roger Caras afirma: "Cães não são nossa vida inteira, mas eles fazem nossas vidas inteiras."

Citarei dois exemplos desse tipo de relação. No primeiro, um amigo resolveu criar um cachorro, e passou a ensiná-lo algumas coisas, sob a orientação de um adestrador. Percebeu que, ao chegar em casa, o cachorro fazia a festa, o bichinho lhe dava muita atenção. Com alimentos na mão, ele mandava o cão sentar, buscar objetos, e o animal prontamente o atendia. O amigo, então, nos falou: - “Em poucos meses, consegui que esse cachorro fosse mais obediente e atencioso do que os filhos e a mulher.” Isso nos fez lembar a frase de Bill Maher: “A razão de eu amar tanto o meu cachorro é porque quando chego em casa ele é o único no mundo que me trata como se eu fosse ‘Os Beatles’.” O segundo amigo, lá do sertão, certo dia, sentado em sua calçada, onde a noite conversava com vizinhos, começou a receber a visita diária de uma cadelinha. Ela se afeiçoou e, hoje, Baleia, como foi apelidada, firmou residência na casa de Dedé. Para onde Dedé vai, Baleia vai atrás. Se Dedé sai durante o dia para atividades laborais, Baleia o acompanha. Se vai ao banco, ela segue o seu dono. Se vai à missa, lá está a cadelinha fiel, nos pés de Dedé, sentada e atenta aos movimentos do amigo.

Tive dois poodles. Fugiram, e a saudade é grande. É aquela afirmação de Alexandre Pope: "A história tem muito mais exemplos de fidelidade dos cães do que dos amigos." Ou como diz Fabrício Bravim: “É melhor ter um cachorro amigo do que um amigo cachorro.”

Onaldo Queiroga

Enviado pelo poeta, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueana Kydelmir Dantas

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